Brasil

Ameaçados pelo colesterol

Apesar de cerca de 40 milhões de brasileiros sofrerem com altas taxas da substância no organismo, apenas 200 mil buscam tratamento. Mal pode levar a infartos, derrames e, conseqüentemente, à morte

postado em 08/08/2008 09:31

Inimigo número um do coração, o colesterol elevado parece não incomodar os brasileiros. Apesar de cerca de 40 milhões de pessoas de todas as regiões do país ; o equivalente a cerca de 40% da população adulta ; apresentarem índices acima do aceitável, apenas 200 mil fazem tratamento. O alerta é da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), que promove nesta sexta (08/08), Dia Nacional de Combate ao Colesterol, uma campanha de conscientização. Confira mais informações no Blog da Vitória ;Como na maioria das vezes a doença não apresenta sintomas a médio prazo, as pessoas acham que o índice alto não vai repercutir em nada em suas vidas. E acabam empurrando o problema com a barriga;, diagnostica Raul Dias dos Santos Filho, diretor do departamento de Arterosclerose da SBC. ;Mas é preciso pensar a longo prazo;, avisa. Descuidar do colesterol pode representar graves doenças cardíacas, manifestadas a partir dos 50 anos. Entre elas, infarto e derrame. O cardiologista defende o diagnóstico precoce para evitar o comprometimento das artérias, que ficam entupidas com o mau colesterol. ;A partir dos 20 anos de idade, é recomendado fazer o controle a cada cinco anos;, diz. Porém, quem tem histórico familiar deve começar a medir os índices ; por meio de exame de sangue ; ainda na infância. Santos Filho conta que já atendeu uma criança de 2 anos e meio com incríveis 1.000mg/dL. Para se ter uma idéia, a partir de 160mg/dL o colesterol já é considerado alto. Precoce Embora associada a adultos, a doença também começa a aparecer em crianças e adolescentes, mesmo os que não possuem herança genética. ;Os hábitos alimentares mudaram e, de forma geral, as pessoas se alimentam com dietas muito ricas em gordura saturada. Combinado com a falta de atividades físicas, o colesterol elevado já se manifesta precocemente;, alerta o cardiologista Bruno Siqueira. Uma pesquisa da Universidade Estadual do Rio de Janeiro publicada este ano mostra que a obesidade infantil dos brasileiros chegou a 11,7%, índice próximo ao dos Estados Unidos, país que mais sofre com o problema, onde 15% das crianças estão acima do peso. A mudança dos hábitos alimentares também foi verificada pela Pesquisa de Orçamento Familiar, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). ;O que mais chama a atenção é que, nos últimos 30 anos, houve aumento de 300% no consumo de embutidos e crescimento expressivo da alimentação composta por carne bovina;, diz a nutricionista Cyntia Carla da Silva, coordenadora de Nutrição do Hospital do Coração, em São Paulo. Ela afirma que as pessoas têm consciência dos alimentos que provocam o aumento do mau colesterol, mas acham que não há problema algum em os consumirem eventualmente. ;De fato, nada faz mal em porções isoladas, mas essa história de ;só de vez em quando; e ;só um pouquinho; é muito subjetiva;, afirma. Outro mito que Cyntia desfaz é o da carne vermelha versus a branca. O importante não é a cor ou a procedência, mas o corte. O filé mignon e o lombo suínos, por exemplo, são mais saudáveis do que a picanha bovina. Assim como a coxa e a asa do frango com pele podem ser tão prejudiciais à saúde quanto o cupim gorduroso. É preciso considerar também a quantidade ingerida. ;Tem gente que acha que o filé de frango é a salvação da lavoura, aí come dois filés enormes no almoço. É lógico que não vai adiantar nada;, diz. O cardiologista Raul Dias dos Santos Filho diz que a única forma de se livrar do mau colesterol é mudar os hábitos. Equilibrar a alimentação, parar de fumar e fazer exercícios físicos são itens obrigatórios para quem quer garantir uma vida longa e de qualidade. ;Não precisa ficar neurótico. Na alimentação, não há nada proibido, mas é preciso bom senso.; Medicações Dependendo do caso, os médicos também prescrevem medicações, que devem ser tomadas para o resto da vida. ;Uma das situações onde o remédio é necessário é quando a pessoa tem colesterol elevado apesar de fazer dieta e atividade física;, exemplifica o cardiologista Bruno Siqueira. Ele alerta que muitos pacientes abandonam o tratamento medicamentoso quando os níveis de colesterol voltam ao normal, o que jamais deve ser feito. Bruno Siqueira esclarece que a medição do índice do mau colesterol deve ser sempre acompanhada de um especialista. Isso porque há fatores que influenciam, como a idade e a presença ou não de outras doenças, como diabetes e hipertensão. Quem já infartou, por exemplo, precisa ficar alerta quando o exame de sangue aponta índice de 70mg/dL. ;A meta ideal varia de pessoa para pessoa;, afirma.

A frase

"Como a doença não apresenta sintomas a médio prazo, as pessoas acham que o índice alto não vai repercutir em suas vidas" Raul Dias dos Santos Filho, diretor do departamento de Arterosclerose da Sociedade Brasileira de Cardiologia

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação