Brasil

Skank experimenta novas maneiras de composição

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postado em 03/10/2008 09:10 / atualizado em 22/09/2020 10:32

Ao longo dos 17 anos de carreira, o Skank manteve o modus operandi para compor e gravar seus discos. Por sugestão de um amigo, eles resolveram fazer diferente em Estandarte, oitavo álbum de estúdio da banda mineira: partindo do zero. "Nos outros discos, eu chegava ao estúdio com algumas melodias ; às vezes até com melodias e letras ; e mostrava para a banda, para fazermos as músicas e depois partirmos para o processo de gravação. Desta vez, eu, Lelo (Zanetti, baixista), Haroldo (Ferretti, baterista) e Henrique (Portugal, teclados) fomos ao estúdio e lá ficamos criando temas, riffs de guitarras, levadas", conta o vocalista e guitarrista Samuel Rosa, 42 anos. Samuel Rosa fala sobre novo trabalho do Skank. Skank - Canção do novo álbum: "Ainda gosto dela". Com as novas canções rascunhadas, o passo seguinte foi mostrá-las ao produtor Dudu Marote (o mesmo de Calango e O samba poconé ; os campeões de vendas do quarteto, com mais de 1,2 milhão de exemplares comercializados cada um). Marote foi a primeira pessoa que o Skank pensou para produzir o novo trabalho. "Dudu é um produtor-produtor ; parafraseando o Luxemburgo quando fala de um zagueiro-zagueiro ;, desses que dá pitaco em tudo, até onde não deve", diverte-se o vocalista. "O jeito de cantar, o timbre do baixo, as levadas das músicas, Dudu confronta mesmo: ;Isso não está bom, não está legal;. Acho muito bom trabalhar com ele. É bem ;espuma;, sabe? A coisa rende;", compara Samuel. A próxima etapa foi colocar letras nas canções. Para a tarefa, a banda contou com velhos parceiros. "Por uma grata coincidência, Nando (Reis) estava numa época de maior disponibilidade ; não estava fazendo um álbum, apenas em turnê. Então foi ótimo para aumentar o número de canções da nossa parceria, que já dura mais de 10 anos. A gente fez cinco músicas, e dessas, quatro foram para o álbum. O engraçado é que não nos encontramos nenhuma vez. Foi tudo por e-mail. Eu mandava uma música pra ele e ele me devolvia uma letra". Com os mineiros Chico Amaral (seis letras para o disco) e César Maurício (duas), os encontros foram mais próximos. "Chico entra no estúdio com a gente, é quase um integrante da banda", detalha. Além dos letristas, participam do disco músicos do Funk Como Le Gusta, no arranjo e execução de sopros da faixa de abertura, Pára-raios, e a cantora Negra Li, fazendo backing vocal em Ainda gosto dela (escolhida como primeiro single). Para Samuel Rosa, a nova maneira de preparar o disco foi gratificante por diversas razões. "Este álbum tem uma coisa bacana, já é um jargão usado do rock;n;roll: a urgência, o bate-pronto, o brainstorm. Pela primeira vez, senti como é mais legal, mais fácil e bacana, você criar, buscar timbres, riffs e tal, tocando junto com a banda. É a coisa mais espontânea, mais honesta que a gente poderia fazer agora." A gestação de Estandarte foi curta. O disco foi composto e registrado ; com alguns intervalos por conta da agenda da banda e do produtor ; entre janeiro e julho. Pouco antes de o novo álbum surgir, o Skank foi convidado para gravar um CD acústico. Samuel e banda acharam que ainda não era hora, já que queriam mesmo era gravar um disco de inéditas. Para o álbum, o Skank queria algo mais pulsante em comparação aos dois anteriores, Carrossel (2006) e Cosmotron (2003). "Uma coisa mais chão. Nossa idéia não era nos afastar totalmente da sonoridade desses discos, não tínhamos isso como obsessão. E é natural que respingue no novo trabalho algo já feito nos últimos álbuns. O negócio meio ;beatleneano; aparece em Escravo, meio Clube da Esquina, em Assim sem fim. Não pretendo abandonar essas influências. Acho que é uma marca indelével do Skank, já está no nosso DNA", avalia o guitarrista. Durante boa parte de 2009, a banda estará ocupada lançando Estandarte pelo Brasil, mas Samuel não descarta a possibilidade de soltar também um novo projeto. "O Skank ainda incorpora bem tudo aquilo que os integrantes possam ambicionar em termos de música, não se fazendo necessário uma carreira solo. Mas acho legal a idéia do projeto paralelo. Queria retomar meu projeto com o Lô (Borges). Fora as nossas músicas que já foram gravadas pelo Skank, como Dois rios e Última guerra, ainda tenho umas cinco, seis músicas com ele que ainda não estão prontas ; só uma já ganhou letra, do Nando. Então existe a possibilidade de sair um disco meu com o Lô ainda no ano que vem", adianta. Artesanato pop Como qualquer banda, o Skank pode não agradar a gregos e troianos, mas é inegável o talento do quarteto como talentosos artesãos do pop (esse gênero tão maltratado pelo mainstream brasileiro nos últimos anos). A banda mineira não tem nenhum disco que possa ser considerado ruim, mas ao longo de sua trajetória seus álbuns oscilaram entre os muito inspirados (Calango, O samba poconé, Cosmotron) e outros nem tanto. Estandarte se encaixa na segunda categoria. O disco está menos "britânico" que seus dois antecessores e resgata algo do Skank da década passada (nas batidas eletrônicas mais dançantes, especialmente). Durante a audição do CD, algumas faixas convidam o ouvinte a apertar a tecla que "pula" para a música seguinte ou que volta para uma mais interessante. A primeira metade do disco concentra a nata de Estandarte. Pára-raio tem potencial de single, com sua levada à Roberto Carlos da virada dos anos 1960 para 1970. A quase balada Ainda gosto dela não é uma das músicas mais tocadas nas rádios à toa ; entraria em qualquer coletânea futura do Skank. Chão é dançante, tem pegada roqueira e esperta citação de Stones. Canção áspera se sai bem com caminho parecido. Escravo é power pop do melhor e Notícias do submundo é psicodelia pop como a banda sabe tão bem fazer. Sutilmente é a baladona que não pode faltar num disco do Skank. A partir daí o disco perde um pouco o fôlego. Hora de voltar para a faixa número um. (PB) Estandarte Oitavo álbum de estúdio da banda mineira Skank. 12 faixas. Produzido por Dudu Marote. Lançamento Sony BMG. Preço: 25.

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