Brasil

Poluição custa US$ 1 bilhão por ano no país

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postado em 26/10/2008 09:00
A má qualidade do ar custa pelo menos US$ 1 bilhão ; cerca de R$ 2,3 bilhões ; aos cofres públicos brasileiros a cada ano, principalmente com as mortes ou tratamento de doenças associadas direta ou indiretamente à poluição. O valor está no primeiro estudo latino-americano a quantificar o estrago financeiro causado pelos gases tóxicos emitidos na atmosfera. A conclusão é fruto de uma análise exclusiva dos dados das primeiras avaliações de um dos centros de pesquisas mais importantes do mundo ; o Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental da Universidade de São Paulo (USP). As informações são referentes a seis regiões metropolitanas do país: Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro e São Paulo. O ranking da sujeira mostra São Paulo (US$ 300 milhões) na ponta, seguido por Rio de Janeiro (US$ 250 milhões), Porto Alegre (US$ 180 milhões), Belo Horizonte (US$ 150 milhões), Curitiba (US$ 140 milhões) e Recife (US$ 10 milhões). ;Calculamos as perdas em dinheiro, pois ninguém se impressiona mais com pilhas de corpos. Não interessa quantos milhões de pessoas morrem. O único jeito de sensibilizar as autoridades para a implementação de políticas públicas é calcular custos;, afirma o coordenador do laboratório, Paulo Hilário Saldiva. A pesquisa está sendo feita no Brasil a pedido do Ministério do Meio Ambiente. O objetivo é verificar os níveis de poluição, quanto está acima dos padrões, a quantidade gerada por veículos e o preço desse conjunto. As coletas começaram há um ano, mas todas as análises químicas e físicas estão concentradas em São Paulo. A interpretação dos dados será feita numa segunda fase e vai analisar o custo real da poluição, considerando o número de internações hospitalares, quantas pessoas morrem e a redução estimada do tempo de vida média dos habitantes. A expectativa é de que os órgãos ambientais usem os resultados para medidas de compensações ambientais, para estimular empresas a adotarem técnicas menos poluidoras e incentivar melhorias no transporte coletivo. Perigo real A poluição atmosférica mata de 2,5 milhões a 4 milhões de pessoas por ano, em todo o mundo. A estimativa é do estudo intitulado The global burden of disease, da Organização Mundial da Saúde e do Banco Mundial, feito na Universidade de Harvard. Os números representam um perigo real e são proporcionais a enfermidades tradicionais como a malária e a tuberculose. A partir dessas interpretações, os responsáveis pela pesquisa elaboraram uma fórmula para ensinar os países em desenvolvimento a calcular os gastos em saúde. Além dos valores do tratamento propriamente dito, como os custos com as internações, avalia os fatores indiretos associados às doenças: dias de trabalho perdidos, como a falta de um empregado afeta na produção e no saldo financeiro das empresas, redução de impostos, desestruturação da família, entre outros. Para o professor de patologia da Faculdade de Medicina e coordenador do Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental da Universidade de São Paulo (USP), Paulo Hilário Saldiva, representante brasileiro das discussões em Harvard, os poluentes se tornaram problema de saúde pública. Novo vilão A pesquisa da UFMG e da USP aponta uma mudança de patamares: o grande vilão da poluição não é mais a indústria, mas o gás veicular gerado pelo crescimento acelerado da frota. As regiões metropolitanas mais prejudicadas estão localizadas na área mais rica do país, onde o uso de automóveis particulares e a demanda pelo transporte público são maiores. Ele afirma que, pela primeira vez, a política ambiental do Brasil incorpora o vetor saúde humana, tema já bastante discutido em outros países, para sanar a ;desigualdade ambiental;. De acordo com o coordenador, certos processos industriais não mais tolerados em regiões desenvolvidas, seja pelo esgotamento do potencial seja pela atuação de órgão ambientais, são exportados para regiões menos favorecidas. ;O mesmo ocorre em microescala. Os ônibus novos, por exemplo, circulam nos principais corredores das cidades e aqueles com motores velhos vão para a periferia. Se deixar por conta do mercado, a equação não fecha, porque falta a informação importante, que é o custo em saúde. Quando esse modelo deixa de ser vantajoso, começam a repensá-lo;, analisa.

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