Brasil

Cresce o aleitamento materno no Brasil

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postado em 31/01/2009 09:33
Apesar de as taxas de aleitamento materno no Brasil crescerem continuamente a cada ano, os valores observados no país ainda são considerados baixos pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Enquanto a entidade considera ideal que todas as crianças de até 6 meses recebam o leite materno, a última Pesquisa Nacional sobre Demografia e Saúde, consolidada em 2006 pelo Ministério da Saúde, apontava que 39% das crianças nessa faixa etária recebiam o peito da mãe. Investigar se as brasileiras estão conseguindo alimentar seus filhos de maneira natural e identificar os fatores que atrapalham a prática foram alguns dos objetivos de um estudo recentemente elaborado pelo Departamento de Nutrição da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP). Realizada como tese de doutorado da nutricionista Daniela Wenzel, a pesquisa consegue identificar fatores que prejudicam o ato de amamentar e, ao mesmo tempo, confirma a tendência de aumento no índice de aleitamento materno no país. Do total de crianças com até 6 meses estudadas, 58% eram amamentadas ; índice bem mais alto que os 39% observados em 2006 pelo ministério. Já entre os pequenos de 7 a 12 meses, o índice nacional observado pelo novo estudo ficou em torno de 35%. Com relação às dificuldades que as mães enfrentam para dar o peito ao filho, a autora do estudo chama a atenção para o fato de o Sudeste e o Centro-Oeste (veja quadro) apresentarem os índices mais baixos. O dado, segundo Daniela, sugere que a inserção da mulher no mercado de trabalho ; que é maior nessas regiões ; é um fator desfavorável, junto com a opção por colocar o filho em uma creche. ;O uso da creche é um fator de risco para o aleitamento, talvez porque sejam distantes do local de trabalho, impedindo a continuidade da amamentação, obrigando as mães a desmamarem precocemente seus filhos;, explica Daniela Wenzel. Outra hipótese desfavorável à amamentação pode ser o despreparo desses estabelecimentos para receber as crianças. ;Muitas vezes, esses locais não possuem equipamentos necessários para o armazenamento do leite materno, ou os profissionais não sabem fazer o manuseio correto;, observa. Na geladeira Mãe da pequena Maitê Raposo, 5 meses, a empresária Raquel de Almeida, 33, pretende alimentar a filha com seu leite até o primeiro ano de vida, revezando com verduras e frutas. ;Apesar de trabalhar fora de casa, vou me esforçar para amamentá-la três vezes ao dia;, conta. Proprietária de um curso de inglês para crianças, Raquel decidiu matricular Maitê em uma creche onde cumpre expediente às segundas e quartas-feiras. Tudo para não prejudicar o desenvolvimento do seu bebê e facilitar a amamentação, pois às terças e quartas não vai ter contato com a menina no período da tarde. ;A alimentação de Maitê nesses dias será garantida com o leite que conseguir retirar e guardar na geladeira.; Raquel pretende aumentar a família daqui a alguns anos, em virtude da atual rotina não permitir um novo filho. Além disso, ela também divide a atenção com Henrique, seu marido, e com a gata Phoebe. ;Mesmo com todo o trabalho, quando penso em parar de dar o peito para minha filha, tenho a impressão de que ela vai se afastar de mim;, emociona-se. Em sua pesquisa, Daniela usou dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) entre 2002 e 2003. Foi analisada a situação de 2.958 crianças de zero a 1 ano de idade. Além da creche, outros fatores considerados desfavoráveis ao aleitamento foram a idade da mãe ser superior a 30 anos e casas onde moram quatro ou mais pessoas. Por outro lado, mães negras ou pardas, que têm duas ou mais crianças com menos de 5 anos e que vivem em áreas rurais costumam amamentar mais. A pesquisa aponta ainda que quanto maior a renda, maio o índice de amamentação entre as crianças com até 6 meses. Já na faixa de 7 a 12 meses, a prevalência de aleitamento foi maior entre mães de menor renda e escolaridade. ;Analisando a situação do aleitamento segundo áreas urbanas e rurais, verificou-se que a diferença vem diminuindo substancialmente. Em crianças de até 6 meses, a diferença entre as áreas urbanas e rurais foi de 25% em 1975. Em 1989, era de 10%. Neste estudo foi de 2%;, afirma Daniela.

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