Brasil

Minas teve campo de concentração na Segunda Guerra Mundial

Gustavo Werneck/Estado de Minas
postado em 01/09/2009 09:20
O mundo lembra nesta terça-feira (1/9), com a memória do horror e o sentimento de espanto, os 70 anos do início da Segunda Guerra Mundial, quando Adolf Hitler (1889-1945) invadiu a Polônia e deu início a uma das mais sangrentas páginas da história. Passado tanto tempo, no entanto, novos fatos vêm à tona, por meio das pesquisas de historiadores, provando que o Brasil, além de enviar mais de 25 mil pracinhas para o front, teve participação surpreendente nesse conflito que durou seis anos. Um deles, mostra que o país, de 1942 a 1945, teve 10 campos de concentração, inclusive um em Pouso Alegre, no Sul de Minas, a 384 quilômetros de Belo Horizonte. A estimativa é de que cerca de 2 mil pessoas, entre alemães, italianos e japoneses, ficaram confinados nesses campos distribuídos por sete estados. Segundo a professora Priscila Ferreira Perazzo, o campo de Pouso Alegre teve uma particularidade, já que foi o único a receber militares, e não civis a exemplo dos demais. "Eram 62 tripulantes de um navio alemão, entre militar e mercante, que foi afundado pela esquadra norte-americana no Oceano Atlântico, na costa nordestina. Aprisionados, eles entraram no Brasil via Recife (PE), seguiram para o Rio de Janeiro e depois foram conduzidos a um quartel em Pouso Alegre". Priscila é professora da Universidade Municipal de São Caetano do Sul (SP), é doutora em história pela Universidade de São Paulo (USP). Ela acaba de lançar o livro Prisioneiros da guerra - os "súditos do eixo" nos campos de concentração brasileiros (1942-1945). Durante mais de dois anos, os prisioneiros ficaram no quartel de Pouso Alegre, que ainda funciona como unidade do Exército, e foi organizado, na época, para receber os alemães. Ao fim da guerra, o grupo foi entregue ao governo dos Estados Unidos para ser, então, trocado, ao que tudo indica, por prisioneiros aliados que se encontravam em poder dos nazistas. Os demais campos de concentração brasileiros ficavam em Tomé-Açu (PA); Paulista (PE); Ilha Grande e Ilha das Flores (RJ); Guaratinguetá e Pindamonhangaba (SP); Trindade e Hospital Oscar Schneider (SC); e Presídio Daltro Filho (RS). Sem extremos Até a primeira metade do século passado, explica Priscila, dava-se o nome de "campo de concentração", de maneira geral, aos locais de confinamento. "Quando queriam retirar um grupo do convívio social, separá-lo, mandavam as pessoas para o campo de concentração. No Brasil, a situação não chegou a extremos, como os campos nazistas para os judeus, caso de Auschwitz", explica. E os prisioneiros eram, preferencialmente, os imigrantes dos países que formavam o Eixo (Alemanha, Japão e Itália), pessoas filiadas ao Partido Nazista e tripulantes de navios com a bandeira dessas três nações. Os italianos, nesse período, foram menos alvo do que os alemães e japoneses. As prisões eram feitas pela Polícia Política do presidente Getúlio Vargas (1883-1954). "Os estrangeiros eram presos onde estivessem, em casa ou no trabalho, e levadas para a delegacia, sem envolvimento de questões jurídicas. Daí eram mandadas para os campos de concentração", conta Priscila. As medidas punitivas começaram em 1942, quando o Brasil rompeu relações diplomáticas com os países componentes do Eixo e apoiou os aliados (Estados Unidos, Inglaterra e outros). Essa decisão, aliás, fez com que Hitler mandasse torpedear mais de 50 navios brasileiros, em águas nacionais, fazendo com que o Brasil, via Força Expedicionária Brasileira (FEB), enviasse os combatentes (pracinhas) para o teatro de operações na Itália.

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