Brasil

Cerco a traficantes

Sob forte esquema de segurança policial, 10 criminosos de alta periculosidade são transferidos do Rio para a capital do Mato Grosso do Sul

postado em 25/10/2009 11:01
Um forte esquema de segurança marcou a chegada de 10 traficantes transferidos de presídios do Rio de Janeiro para a Penitenciária Federal de Campo Grande, em Mato Grosso do Sul. O pedido de remoção foi feito no fim da tarde de sexta-feira pela Secretaria de Segurança do Estado do Rio à Justiça Federal e aceito na noite de anteontem. Todos os traficantes, considerados de alta periculosidade, podem ter envolvimento nos confrontos entre quadrilhas rivais no Morro dos Macacos, em Vila Isabel. Ontem, até as 18h30, haviam sido confirmadas mais sete mortes, das quais três em tiroteio com a polícia. Desde o último dia 17, são 45 mortes registradas. Policiais do COT escoltam traficantes que foram transferidos por avião da PF a presídio federal em Campo GrandeA transferência foi feita em um avião da Polícia Federal, e a escolta dos criminosos, por 130 agentes das polícias Federal e Civil e homens do Batalhão de Operações Especiais (Bope) e da Força Nacional. Um dos detentos pertence à facção Amigos dos Amigos (ADA), outro ao Terceiro Comando Puro (TCP) e oito ao Comando Vermelho (CV), organizações que controlam o tráfico de drogas no Rio. Eles foram de Bangu até a Base Aérea do Galeão, onde embarcaram para Mato Grosso do Sul, em viaturas separadas. Em Campo Grande, o grupo foi recebido também por forte esquema de segurança formado pelo Comando de Operações Táticas (COT) da Polícia Federal e agentes do Sistema Penitenciário Federal. Foram transferidos Nei da Conceição Cruz (Nei Facão), Edgar Alves Andrade (Doca), Cássio Monteiro das Neves (Cássio da Mangueira), Márcio Silva Matos (Marcinho Muleta), Roberto Ferreira Vieira (Robertinho do Jacaré), Jorge Alexandre Candido Maria (Sombra), Marcelo Soares de Medeiros (Marcelo PQD)(1), Fábio Pinto dos Santos (Fabinho São João), Ocimar Nunes Robert (Barbosinha) e Claudecyr de Oliveira (Noquinha). Todos eles estavam no Complexo Penitenciário de Bangu I e III e no presídio Vicente Piragibe, na Zona Oeste do Rio. O governo do estado justificou o pedido de transferência à Justiça alegando que os motivos seriam os últimos confrontos ocorridos na cidade, causados pela guerra envolvendo o tráfico de drogas. Alguns deles são suspeitos de terem ordenado os ataques a facções ligadas ao Morro dos Macacos. Os presos saíram do Rio por volta das 8 horas e chegaram à capital de Mato Grosso do Sul três horas depois. Segundo o Ministério da Justiça, a decisão e o esquema de transferência foram definidos pelas áreas de segurança e inteligência da União e do estado, ainda na noite de sexta-feira. 1- Ficha corrida Marcelo PQD era paraquedista do Exército antes de atuar no crime. Deixou a carreira militar, onde permaneceu por cinco anos, em 1997. É o líder do Terceiro Comando, principal rival do Comando Vermelho. Além de ser considerado um dos maiores negociantes de drogas do Rio, é traficante de armas e especialista em táticas militares e de guerrilha. Foi preso em 2006, na região da Favela do Dendê, em uma casa com diversas saídas e dependências secretas. Protestos e mortes Ontem, foi mais um dia de violência no Rio de Janeiro. Três pessoas morreram em confronto com a Polícia Militar, em Belfort Roxo, na Baixada Fluminense. Segundo a Secretaria de Segurança, seriam traficantes, e um deles comandaria a venda de drogas no bairro da Farrula. Outros três corpos foram encontrados em um morro da Zona Sul. Além disso, morreu Severino dos Santos, que havia sido baleado, na última sexta-feira, na Penha. Com isso, subiu para 45 o números de mortos, sendo três deles policiais que estavam em um helicóptero abatido na semana passada, quando sobrevoava o Morro dos Macacos, em Vila Isabel. Ontem, moradores da Zona Sul do Rio fizeram uma manifestação, liderados pelo Movimento Rio de Paz, pedindo o fim da violência. A trágica estatística dos embates no estado mostra que, dentre os 41 mortos, estão três moradores de favelas onde os confrontos aconteceram. Eles foram executados pelos traficantes quando retornavam de uma festa, na semana passada. Os números de ontem podem não ser definitivos, já que a cada dia aparecem mais corpos, como na quinta-feira, quando dois cadáveres foram levados para o Hospital Getúlio Vargas. Nas operações realizadas até sábado à tarde, a Polícia Militar havia prendido 58 pessoas e apreendido 40 armas e cinco granadas. Vestidas de preto e usando 20 carrinhos de supermercado, dezenas de moradores da Zona Sul ocuparam as praias de Copacabana para protestar contra a violência. Os carrinhos, com uma pessoa dentro, simbolizavam um dos mortos nos confrontos, encontrado nessa situação na entrada do Morro dos Macacos, na semana passada. Com os 20 carrinhos, os manifestantes lembravam que, entre 2007 e 2009, foram mortas 20 mil pessoas no Rio. A violência já causou desavenças entre o estado e a União, além de exonerações na PM. (EL)

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