Brasil

Gêmeas na luta para sobreviver

Siamesas brasilienses internadas em Goiânia apresentam melhora depois da cirurgia de separação, mas risco de morte ainda é alto. A irmã menor, que sofre de má-formação do coração e de insuficiência renal, é a que inspira mais cuidados

postado em 21/11/2009 10:47
O caso ainda é muito delicado, mas os médicos estão animados com a recuperação de Ana Clara e Ana Lara, as gêmeas siamesas brasilienses de nove meses de idade, separadas há seis dias no Hospital Materno Infantil (HMI) em Goiânia. Elas continuam na UTI e sem previsão de alta, mas até o fechamento desta edição apresentavam melhoras significativas, segundo o médico Zacharias Calil, chefe da equipe responsável pela operação.

[SAIBAMAIS]Depois de quase uma semana de apreensão, o cirurgião pediátrico demonstrou otimismo. ;Hoje (ontem) fiquei animado. A Ana Clara melhorou muito. O estado da Ana Lara ainda é grave, está fazendo hemodiálise e os exames dela são positivos;, disse Calil. Mais forte desde o nascimento, Ana Clara ainda respira com a ajuda de aparelhos, mas o quadro dela é estável. Ela tinha nove quilos na ocasião da cirurgia.

Já Ana Lara, a gêmea menor ; ao ser operada estava com três quilos a menos ; sofre de duas patologias que inspiram maiores cuidados no pós-operatório: um problema cardíaco, devido à má-formação do órgão, e insuficiência renal. ;O risco de morte é muito alto, mas estamos fazendo de tudo para que ela reverta esse quadro;, ressaltou.

A separação das duas em Goiânia surpreendeu a equipe do Hospital Regional da Asa Sul (Hras), onde as meninas nasceram e faziam acompanhamento para a realização da cirurgia. ;Havíamos programado a intervenção cirúrgica para quando elas completassem um ano de vida;, explicou a chefe da neonatologia do Hras, Ana Lúcia Moreira.

Mas, para Calil, elas corriam risco se continuassem unidas. ;Como uma tem cardiopatia, se o coração dela descompensasse a qualquer hora, as duas poderiam morrer;, argumentou.

Dividindo o coração
Gêmeas toracoconfalópagas, Ana Clara e Ana Lara nasceram unidas pela parede abdominal, com um único fígado, e compartilhavam parte do coração. A cirurgia de separação durou seis horas e envolveu uma equipe de 10 profissionais, entre cirurgiões-pediátricos, cardiologista e anestesista. Um procedimento avaliado como bem sucedido, apesar da alta complexidade.

Embora conhecesse o quadro antes de operar as crianças, Calil disse ter se deparado com uma situação mais delicada do que avaliou inicialmente. ;A musculatura do coração de Ana Lara estava bem menor. O sangue só circulava no órgão dela em menor quantidade. Ia quase todo para a outra. Na hora que cortamos a ligação, o coração dela teve que trabalhar com mais força e entrou em falência, o que causou a insuficiência cardíaca e renal;, explicou.

Durante o dia de ontem, a mãe das crianças preferiu não falar. Os pais, identificados apenas pelo primeiro nome (Fábio e Fabiana), moram no Distrito Federal, na zona rural de São Sebastião. Fabiana soube da ligação das filhas durante os exames de pré-natal.

Ela deu à luz no Hospital Regional da Asa Sul no fim de janeiro. Aguardava as filhas ganharem peso para a realização da cirurgia, quando os médicos do DF informaram que uma das garotas teria apenas 10% de chance de sobreviver. Decididos a lutar pela vida das duas meninas, os pais procuraram Zacharias Calil e pediram ajuda.

Sem condições financeiras para se manter no estado vizinho, o casal conseguiu hospedagem na Casa do Interior, uma instituição que abriga pacientes de outras localidades para tratamentos médicos.

Saiba mais
# Quando os irmãos gêmeos nascem unidos por alguma parte do corpo, eles são chamados de teratópagos, porém são popularmente conhecidos como siameses.

# O nascimento de gêmeos acontece quando o óvulo é fecundado e se divide em duas partes. Quando a divisão é incompleta, dá origem aos siameses.

# A ocorrência de gêmeos ligados é maior entre as meninas. São três casos de siamesas para cada caso de siameses.

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