Brasil

O perigo volta a rondar Congonhas

Redução de voos, logo após o acidente da TAM, fez número de passageiros cair 27,5%. De lá para cá, as medidas afrouxaram e índice mal chega a 20%

postado em 21/04/2010 07:00
Classificada como o maior desastre da aviação brasileira, a morte das 199 pessoas a bordo do voo 3054 da TAM, que não conseguiu pousar no Aeroporto de Congonhas em julho de 2007 e acabou se chocando contra um prédio da própria empresa, também foi apontada como uma tragédia anunciada. À época, problemas nas ranhuras da pista, falta de área de escape, chuva, proximidade de casas e prédios, e uma movimentação longe de parâmetros seguros foram alguns dos problemas de segurança apontados. Logo depois do acidente, medidas duras de restrição de voos culminaram em redução de 27,5% de passageiros no terminal ; caindo de 7,6 milhões para 5,5 milhões nos cinco primeiros meses de 2008, em relação a 2007. Aos poucos, porém, as companhias conseguiram voltar a operar em Congonhas. Hoje, numa comparação com a situação de antes do desastre, a redução de decolagens e pousos no terminal não chega a 20%.

Dados da Agência Nacional de Aviação Civil mostram que a frequência semanal de slots (pousos e decolagens), em junho de 2007, no Aeroporto de Congonhas, era 3.848. Atualmente, com três novas empresas (1) que obtiveram licença recente para operar no terminal, é de 3.178 ; 670 a menos, o que corresponde a uma queda 17,4%. Tal patamar é considerado adequado pelas autoridades do setor. Por meio da assessoria de imprensa, o Ministério da Defesa informou que o movimento atende ;as condições normais de operação do aeroporto; tanto nos quesitos de segurança quanto nos de conforto. A Anac ressaltou que limitar em 30 por hora os slots da aviação regular ; que antes chegavam a pouco mais de 40 ; e em quatro os de aeronaves particulares fez toda a diferença.

Especialistas do setor, porém, não têm tanta certeza assim da promessa de segurança no Aeroporto de Congonhas. O comandante Carlos Camacho, diretor de Segurança de Voo do Sindicato dos Aeronautas, destaca que o terminal continua operando de forma ;crítica;. ;O fato de ser construído em um morro, de não ter área de segurança, de ter uma cidade ao redor, tudo isso são características que agravam a situação. Sabe quantos mortos teriam, no acidente da TAM, caso o aeroporto fosse outro? Provavelmente nenhum, porque as condições em Congonhas não dão chance para o piloto reverter uma falha qualquer na aeronave;, diz o comandante. Segundo ele, os passageiros também têm sua parcela de culpa. ;Claro que a utilização de Congonhas atende aos interesses da Infraero, Anac e das companhias, mas o cliente também quer um aeroporto perto, eu também quero. Temos que ver o preço que pagaremos.;

A Defesa informou que, além da redução de slots, foram demarcadas áreas de escape nas duas pistas de Congonhas ; 150 metros em cada cabeceira. Camacho classifica a medida de ;virtual;. ;Para efeito de cálculo, isso pode ser considerado. Mas na realidade não há área nova caso uma aeronave tenha problemas. Hoje os aviões são muito modernos. Porém, é errado desprezar problemas de frenagem, hidráulica, motor, que em outras condições são contornáveis. Ali, não;, diz. Jorge Botelho, presidente do Sindicato Nacional dos Trabalhadores de Proteção ao Voo, lamenta a não continuidade de projetos aventados à época do acidente, como um incremento em Viracopos, aeroporto de Campinas, e o aumento expressivo do terminal de Guarulhos, na Grande São Paulo. De acordo com o Ministério da Defesa, há projetos em andamento em Viracopos para atender a demanda na região de São Paulo. O comunicado afirma ainda que a ideia de um terceiro terminal de passageiros em Guarulhos não tem relação com um eventual esgotamento de Congonhas.

1 - Mais voos

A Webjet começou a voar em Congonhas em 17 de abril, operando aos sábados e aos domingos. Uma empresa do Sul, chamada NHP, também inaugurou voos para Curitiba, uma vez por dia, de segunda a sexta-feira. A Azul, outra companhia aérea que entrou no mercado há pouco tempo, vai operar um voo aos sábados, a partir de Congonhas, de 1; de maio em diante. As homologações foram oficializadas pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) em março passado.

Ouça entrevista com o comandante Carlos Camacho sobre o assunto

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