Brasil

Vacinação fica nas mãos dos estados

DF ainda não definiu se continuará a fornecer as doses contra o vírus H1N1

Rodrigo Couto
postado em 03/06/2010 09:49
O encerramento da campanha nacional de vacinação contra a influenza A (H1N1), a gripe suína, no dia de ontem, não põe fim à estratégia de imunizar pelo menos 80% das pessoas de 30 a 39 anos, das crianças de dois a cinco anos e das gestantes. O Ministério da Saúde e os conselhos nacionais de secretários estaduais (Conass) e municipais (Conasems) de saúde determinaram que os municípios que tiverem condições continuem a vacinar aqueles que pertencem aos públicos-alvo que ainda não atingiram a meta estabelecida pelo governo.

Os dois grupos que mais preocupam ainda estão longe dos 80%. Até as 15h de ontem, 17,5 milhões de adultos entre 30 e 39 anos compareceram aos 36 mil postos em todo o país (60% da meta). Já para as crianças de dois a cinco anos, a situação é ainda pior: apenas 1 milhão dos 9,6 milhões de meninos e meninos (10%) se protegeram contra a doença.

Apesar desses dois índices preocupantes, o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, comemorou os resultados alcançados na campanha. Estimativas da pasta mostram que 73.205.076 pessoas (37% da população) foram imunizadas em todo o território nacional. ;Os números mostram o sucesso de nossa estratégia, uma vitória de todo o Sistema Único de Saúde e da sociedade brasileira;, ressaltou Temporão.

A iniciativa brasileira superou a dos Estados Unidos, que vacinou 24% da população, e de outros países como México (20%), Suíça (17%), França (8%) e Alemanha (6%).

Em relação à vacinação de gestantes, os 80% também não foram alcançados. As 2,1 milhões de grávidas que buscaram a vacina na rede pública representam 70% das que deveriam se proteger. ;Mas precisamos considerar as gestantes que deram à luz nos primeiros meses do ano, antes da vacinação, e as que vão engravidar após a campanha;, explicou o diretor de Vigilância Epidemiológica do Ministério da Saúde, Eduardo Hage, argumentando que o patamar pode ser considerado dentro da meta.

Laura pretendia vacinar o filho João Gabriel, mas chegou depois do horário, às 17h. Ela até insistiu - Última hora
A tradição dos brasileiros de deixar tudo para última hora foi seguida à risca no Distrito Federal. Com isso, imensas filas se formaram na parte externa dos locais de vacinação. No centro de saúde da 514 Sul, a fila chegou até o estacionamento.

Atrás do portão do posto, fechado pontualmente às 17h, algumas pessoas ainda insistiam em entrar no local. ;Abre, moço, por favor;, pedia a universitária Laura Izabella, 21 anos, que pretendia vacinar o filho João Gabriel, 2 meses. Outra que tentou se imunizar foi a aeroviária Tatiana Cunha, 33, moradora do Sudoeste. ;Fui informada que o posto fecharia às 17h30, mas eles não cumpriram o que prometeram;, lamentou. A aposentada Dalva de Oliveira, 90 anos, também reclamou. ;Toda hora que eu vinha estava cheio de gente.;

A Secretaria de Saúde do DF ainda não sabe se vai seguir ou não a determinação do Ministério de Saúde para estender a campanha de vacinação aos grupos que não atingiram a meta estabelecida (80%). Só na segunda-feira, o órgão distrital deve informar se vai ou não oferecer a vacina nos centros de saúde de Brasília.

Precisamos considerar as gestantes que deram à luz nos primeiros meses do ano, antes da vacinação, e as que vão engravidar após a campanha;
Eduardo Hage, diretor de Vigilância Epidemiológica do Ministério da Saúde

O número

10%
Apenas 1 milhão das 9,6 milhões de crianças de dois a cinco anos foram vacinadas

Particulares têm preços variados

Caso a Secretaria de Saúde do Distrito Federal decida não seguir a recomendação do Ministério da Saúde e dos conselhos nacionais de secretários estaduais (Conass) e municipais (Conasems) de saúde para estender a campanha de vacinação da influenza A (H1N1), restará ao brasiliense procurar a imunização na rede particular. No entanto, as clínicas da cidade vêm encontrando dificuldade para repor os estoques. Em alguns estabelecimentos, como no Imunolife, no Sabin e no Centro Integrado de Pediatria (Ciped), o produto está em falta. Outro problema identificado pela reportagem foi a grande variação dos valores (veja quadro).

Diferentemente da vacina oferecida na rede pública ; que protege de um vírus (ou da gripe suína ou da comum) ;, a que pode ser adquirida em clínicas particulares tem três cepas: imuniza da gripe suína e de dois tipos de vírus da influenza sazonal (gripe comum). ;Quem já tomou a vacina do H1N1 nos postos e também quer se imunizar da sazonal pode tomar a vacina trivalente, mas precisa de um intervalo de, no mínimo, 30 dias;, explica a superintendente técnica do laboratório Sabin, Lídia Abdalla. Para atender à grande procura pelo produto, o Sabin, que já comprou 3 mil vacinas, acredita que seriam necessárias mais 3 mil doses. ;Em três dias aplicamos mais de 300 vacinas;, calcula Lídia.

Diretor-geral da Clínica de Doenças Infecciosas (Clidipi), Jorge Roland diz que tem lucro de 10% sobre o valor de cada dose. ;Outros 20% são de carga tributária, 5% da taxa cobrada pelas administradoras de cartões e aproximadamente 10% de custo fixo (funcionários, geladeira e manutenção da clínica);, contabiliza.

Moradora de Planaltina (GO), Rosa Maria dos Reis, 54 anos, não encontrou a vacina da gripe suína em uma clínica particular da Asa Norte. Assinou uma lista de espera e foi informada de que a vacina deve chegar na próxima semana. ;Acho caro, mas é melhor pagar pela vacina do que gastar com remédios e correr o risco de pegar essa doença;, opina. Rosa foi obrigada a procurar a imunização na rede particular porque pessoas da sua idade não foram incluídas no protocolo do Ministério da Saúde. (RC)

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