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Fiéis se programam para ir à cerimônia de beatificação de Irmã Dulce

Evento deve ser acompanhado por 60 mil pessoas. Na bagagem, histórias de devoção e crença que ultrapassam a compreensão da ciência

postado em 20/02/2011 07:00
Vital e a mulher Vanda já começaram a organizar a viagem: agradecimento pela recuperação após um melanomaO fim de um melanoma (câncer de pele menos frequente, porém mais letal que os tumores comuns) aumentou ainda mais a fé que acompanhava o cearense Vital Feitosa desde criança. O senhor, que aprendeu a rezar quando ainda nem sabia andar direito, coleciona muitas histórias ao longo dos 68 anos de vida. A que mais o emociona, porém, é a que chama de milagre da Irmã Dulce.

Há três anos, o que Vital ouvia desanimava. ;Todos os médicos me diziam que era um câncer muito complicado. Passei por seis cirurgias em dois anos;. Entre operações, quimioterapias e internações, o cearense perdeu mais de 20 quilos. Quando a esperança parecia não ser suficiente para suportar a agressividade do tratamento, Feitosa rezava. ;Pedia muito a Santo Antônio, Nossa Senhora da Conceição e Nossa Senhora das Graças que me dessem força;. Católico, o professor de matemática seguiu o conselho dos parentes do Ceará e começou a incluir em suas orações o nome de Irmã Dulce. Hoje, um ano depois de começar a confiar seus pedidos à freira, os exames não apontam mais o melanoma. ;Continuo o tratamento, mas faço apenas uma sessão de quimioterapia por semana. Antes eram três;, relata o devoto, atualmente com parte do peso também recuperado.

Relíquia
Evento deve ser acompanhado por 60 mil pessoas. Na bagagem, histórias de devoção e crença que ultrapassam a compreensão da ciênciaA devoção em Irmã Dulce alcança toda a família do professor. A sobrinha, que mora em Fortaleza, também atribui uma cura à freira. Em 1997, Ana Karla Feitosa, 38 anos, foi atingida por uma bola no olho esquerdo, mas a pancada só teve consequências nove anos mais tarde. ;Comecei a perder a visão. Os médicos não acreditavam que eu poderia voltar a ver;. Após consultar vários especialistas, a filósofa foi submetida a uma cirurgia, durante a qual levou consigo uma relíquia de Irmã Dulce, um pedaço do véu. ;Falei a ela que não aguentava mais correr de um médico a outro, mas não assim, como estou lhe contando. Estava brava e implorei por uma ajuda;. No dia seguinte ao procedimento, a confiança de que a visão de Ana Karla retornaria surpreendeu a todos.

O acontecimento comoveu toda a família e aumentou ainda mais a devoção, já existente, em Irmã Dulce. A gratidão pela cura é tamanha, que todo dia 13 de março, quando são celebradas missas em memória ao aniversário de morte da freira, Ana Karla segue para Salvador para participar do evento, além de sempre ficar mais um pouco na cidade para ajudar nos trabalhos das Ordens Sociais de Irmã Dulce (OSID). Este ano, porém, ela, as três irmãs, quatro sobrinhos e a namorada de um deles, vão adiar a viagem para 22 de maio, quando será a beatificação. O tio, Vital Feitosa, que mora em Brasília, também se programa para encontrar os familiares no evento. ;Já estamos, eu e minha esposa, dando uma olhada nos pacotes para lá;, destaca o professor.

Os planos de acompanhar a cerimônia de beatificação de Irmã Dulce não são exclusividade da família Feitosa. Segundo o padre Alberto Montealegre, que está à frente da organização do evento, são esperadas 60 mil pessoas na missa. Funcionários da Ordens Sociais Irmã Dulce informam que gente de todo o país liga para saber detalhes da celebração. Para o pároco Montealegre, que cresceu ouvindo histórias sobre a feira, a mobilização em torno do evento que vai torná-la oficialmente beata deve-se ao que ela representa ainda hoje, quase 20 anos após a morte. ;Irmã Dulce não viveu só para seu tempo. A obra que criou atende, até hoje, a população mais carente do estado. Tem uma representação, além de social, religiosa, de uma pessoa que viveu puramente, que seguiu Cristo por toda a sua vida.;

Milagre
No caso de Irmã Dulce, o processo de beatificação começou em 2001. A graça analisada é a cura de uma mulher que, após dar à luz, apresentou uma grave hemorragia e, mesmo submetida a três cirurgias, não melhorou. O sangramento só parou quando um grupo de oração pedir a intercessão de Irmã Dulce em favor da paciente. A mulher, que só terá sua identidade revelada pela Arquidiocese de Salvador um mês antes da cerimônia de beatificação, também vai participar do evento.

A graça foi examinada e reconhecida, em 2003, pelos peritos médicos como um caso que não pôde ser explicado pelos meios da ciência. Em abril de 2009, houve o reconhecimento das virtudes e o Vaticano declarou a irmã Venerável. Em junho de 2010, seu corpo foi exumado e transferido, com as suas relíquias. Em 10 de dezembro, o Papa Bento XVI assinou o decreto do milagre de beatificação.

A partir de então, qualquer graça alcançada a partir da intercessão dela pode ser analisada como um potencial milagre para a santificação. Padre Alberto Montealegre destaca três acontecimentos: uma mulher que conseguiu engravidar sem tratamento, mesmo desacreditada pelos médicos dessa possibilidade; um menino que viu um tumor na cabeça desaparecer; e uma funcionária das Obras Sociais de Irmã Dulce também foi curada de um câncer. ;Há vários outros milagres atribuídos a ela pelo fiéis, mas tudo depende de um longo processo de avaliação;.

Serviço
A cerimônia de beatificação de Irmã Dulce será realizada em 22 de maio, no Parque de Exposições de Salvador, localizado na Avenida Paralela. Os portões serão abertos às 12h. Às 14h terá início uma apresentação artística realizada pelos alunos do Centro Educacional Santo Antônio, núcleo de educação das Obras Sociais Irmã Dulce (OSID). Às 17h começará a missa, seguindo o roteiro litúrgico do Vaticano para beatificação, com a leitura da biografia da freira e da carta do Papa que a declara oficialmente beata. O arcebispo de Salvador, Dom Geraldo Majella Agnelo, foi nomeado celebrante pelo Papa. A OSID montou uma central de atendimento para atender interessados em acompanhar o evento. Basta entrar em contato com a organização pelo e-mail cerimonial@irmadulce.org.br, ou pelo telefone 0800 284 52 84.

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