Brasil

Padre destrói patrimônio mineiro

Pároco de Divino arranca piso hidráulico da Matriz do Divino Espírito Santo, em processo de tombamento, para substituir por granito. Ministério Público vê crime e aciona polícia

Gustavo Werneck/Estado de Minas
postado em 26/02/2011 12:10
O padre pretendia trocar os ladrilhos hidráulicos por granitoA destruição do piso da Matriz do Divino Espírito Santo, no Centro de Divino, na Zona da Mata, a 320 quilômetros de Belo Horizonte, revolta moradores e mobiliza autoridades municipais e estaduais. Na madrugada de segunda-feira, entre as 4h e as 5h, o titular da paróquia, padre José Flávio Garcia, teria mandado um grupo de trabalhadores quebrar e arrancar os ladrilhos hidráulicos do templo católico, construído em 1944. Alertado por populares, o Ministério Público Estadual, por meio da promotora de Justiça da comarca, Jackeliny Ferreira Rangel, acionou a Polícia Civil. Na tarde de ontem, o religioso prestou depoimento na delegacia.

Inventariada pela prefeitura, a igreja já estava em processo de tombamento municipal, informou a secretária do Conselho Cultural de Divino, Andreia Medeiros Chaves. Ela conta que foi comunicada sobre a destruição do piso por volta das 7h de segunda-feira: ;Quando cheguei lá, não dava mais para salvar nem um metro quadrado. E o padre evitou qualquer contato conosco;. Em 20 de janeiro, segundo Andreia, o conselho se reuniu para discutir o assunto, movido por comentários de paroquianos de que o padre pretendia trocar os ladrilhos hidráulicos por granito. ;Nós o procuramos, mas ele disse que nada disso seria feito, apenas mandaria uma equipe para cuidar da manutenção. Saímos confiantes desse encontro;, relatou Andreia.

RISCOS

Mesmo mais tranquilos, os integrantes do Conselho Municipal de Patrimônio decidiram apressar o tombamento para evitar riscos. No dia 10, notificaram o pároco a respeito do processo de proteção, enviando cópia do documento para o bispo da diocese de Caratinga, dom Hélio Gonçalves Heleno.;Trata-se de uma igreja muito importante para todos os moradores, pois a história da cidade começou onde ela está localizada;, disse a secretária. Na sequência, o conselho vai se reunir para tomar novas medidas.

A moradora e professora de educação física Paula Lana Souza considerou tudo um absurdo. ;Sou católica, dizimista e fiquei muito chateada. Estive na missa das 19h, no domingo, e o padre não falou nada sobre a retirada do piso;, contou. Ela disse que nem teve coragem de ver o estrago causado ao patrimônio. ;Fiquei sabendo que algumas pessoas, quando viram o entulho amontoado fora da igreja, pegaram pedaços para guardar de lembrança;.

De acordo com informações do MPE, ;em tese;, ao alterar aspecto ou estrutura de uma edificação ou local protegido, sem autorização da autoridade competente, o padre infringiu o artigo 63 da Lei de Crimes Ambientais, estando sujeito a pena de um a três anos de reclusão e pagamento de multa.

Para o coordenador da Análise do ICMS Patrimônio Cultural, Carlos Henrique Rangel, do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha/MG), a atitude do vigário demonstra desrespeito pela comunidade e pela decisão do conselho municipal, que tombou provisoriamente a matriz. ;Todos os elementos que compõem a igreja são importantes e a caracterizam. Os ladrilhos hidráulicos do piso estão impregnados de histórias das várias gerações de cidadãos que, ao longo de décadas, frequentaram o templo em atitude de devoção e respeito. É necessário dar um basta aos desmandos daqueles que colocam suas vontades, desejos e preconceitos acima da maioria destruindo a autoestima de um povo;, disse.

DEFESA

O diretor do Conselho de Assuntos Administrativos da Paróquia do Divino Espírito Santo, Elcy Pacheco, defendeu o padre, dizendo, ;há algum tempo;, ele havia comunicado aos católicos, durante a missa, sobre o seu projeto. ;A matriz está passando por uma reforma geral. Outras igrejas usam o granito no piso, inclusive a Catedral de Caratinga, com um resultado muito bonito. Isso que estão fazendo com o padre é perseguição, pois a mudança foi aprovada pelo Conselho Pastoral Paroquial (CPP);, disse Elcy. O novo material custou R$ 34 mil aos cofres da paróquia.

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