Brasil

Taxa de infecção de aids dobrou entre rapazes de 15 a 19 anos

Campanhas devem ser direcionadas a públicos específicos para afastar o risco de epidemia

postado em 18/07/2014 07:00
Homossexual e soropositivo, João Geraldo Netto diz que o material para os jovens precisa ser mais direto
Campanhas genéricas demais, 123 mil pessoas sem conhecimento da condição de soropositivo, comportamento sexual de risco e falta de capacitação dos profissionais de saúde para lidar com grupos específicos estão no rol de problemas que o Brasil terá de enfrentar na luta contra a Aids. A ameaça de uma nova epidemia no país, com o aumento de 11% no número de casos entre 2005 e 2013, segundo a Organização das Nações Unidas, atinge um grupo específico. Jovens dos 15 aos 29 anos representam 27% dos diagnósticos feitos em 2012, de acordo com o Ministério da Saúde. A taxa de infecção por 100 mil habitantes praticamente dobrou entre rapazes de 15 a 19 anos, passando de 2,4 em 2003 para 4,7 em 2012. Entre 20 e 24 anos, o índice subiu de 16,3 para 25,4.

De todos os diagnosticados na população masculina em 2012, 32% eram homossexuais ; essa taxa, em 2003, foi de 21,8%. Os dados não deixam dúvidas quanto ao segmento que mais preocupa hoje no Brasil. Até o Ministério da Saúde, que, por temer alimentar um estigma, evitou por muito tempo admitir o problema, não tem mais dúvidas. ;É possível entender que os jovens gays sustentam esse crescimento (dos casos da doença) nas regiões que têm epidemia concentrada;, afirmou Jarbas Barbosa, secretário de Vigilância em Saúde da pasta. Um dos principais desafios é combater a prática de sexo inseguro nessa população. Pesquisa divulgada pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) no início deste ano apontou que 34% dos jovens entre 14 e 20 anos não usam camisinha.



Na faixa etária de 15 a 24 anos ; população pesquisada pelo Ministério da Saúde em levantamentos periódicos ;, o uso regular do preservativo caiu de 63% para 55% com parceiros casuais, entre 2004 e 2008. Infectologista do Laboratório de Pesquisa Clínica em DST/Aids da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Sandra Wagner Cardoso destaca que é preciso mais do que informação. ;Que está disponível, não há dúvida. E por que o comportamento de risco continua? É isso que precisamos investigar. Acredito que campanhas direcionadas para diferentes nichos, como o dos homens que fazem sexo com homens, é uma medida necessária;, afirma.

Pressão política
Uma campanha com esse mote chegou a ser lançada no carnaval de 2012, protagonizada por um casal de jovens gays. Mas acabou vetada, depois de pressões políticas contrárias à peça publicitária. Em nota, o ministério afirmou que ;os jovens gays sempre foram foco de campanhas de prevenção à DST e à Aids ao longo de todo o ano;, mas não explicou as polêmicas que envolveram a campanha. Acrescentou que a juventude esteve no centro das ações em 2010, 2011 e 2012. Para João Geraldo Netto, estrategista de marketing de 32 anos, que se descobriu soropositivo há sete, o material de conscientização precisa ser mais direto. ;As campanhas não são voltadas para o público mais vulnerável. E os jovens, principalmente gays, estão se cuidando menos;, diz.

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