Brasil

Estado da barragem de Santarém divide opiniões de especialistas

Perito especialista em solo alerta para risco de nova tragédia

Paula Carolina
postado em 17/11/2015 10:37
Barragem de Germano, maior do complexo, apresenta parece com coeficiente abaixo do considerado seguro

Mariana, Minas Gerais - Depois de dada como rompida logo após a tragédia, em 5 de novembro, a barragem de Santarém volta a ser ameça à população local e ao meio ambiente. Nesta segunda-feira (16/11), provocou alarde a informação do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) de que a barragem não se rompeu, acendendo um alerta para o risco de um novo rompimento.

[SAIBAMAIS]Em nota, a Samarco confirmou a informação do DNPM, dizendo que ;o maciço remanescente de Santarém está íntegro, mesmo estando parcialmente erodido;. O que é muito grave na opinião do perito especialista em solos Gerson Ângelo José Campera, do Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia de Minas Gerais (Ibape-MG), que aponta sérios problemas que podem levar a uma outra tragédia.

A barragem de Santarém é agora outro motivo de preocupação, ao lado da barragem de Germano, a maior do complexo, que apresenta trincas e coeficiente de segurança abaixo do recomendado.

Para o professor de engenharia de minas da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) Hernani Lima, a barragem de Santarém é segura, pois conteve grande parte dos rejeitos que vazaram da barragem do Fundão e não se rompeu. Segundo ele, apesar do efeito devastador, a tragédia poderia ter sido ainda maior.

Mas para o perito especialista em solos Gerson Ângelo José Campera o risco de nova tragédia não pode ser descartado. Ele afirma que uma vez existindo sinais de ruptura, o risco é iminente e não há o que se possa fazer, a não ser acompanhar e monitorar. ;Não há nenhum tipo de obra que resolva depois que aparecem os sinais de ruptura. Não adianta fazer nada. A solução seria retirar o rejeito de lá. Mas o volume é extremamente elevado e não há como retirar;, afirma.

Outra possibilidade, de acordo com o perito do Ibape-MG, é cobrir toda a barragem com membranas de concreto, o que é muito caro. ;Se você sobrevoar a região, vai ver que estão jateando o local com concreto. Mas teriam que cobrir a barragem toda. É a maneira de assegurar a vida das pessoas que estão lá embaixo, uma cobertura de concreto para estabilizar talude;, acrescenta. Por baixo, teria que ter sido feita a drenagem. ;Onde há erosão, há instabilidade, pois há necessidade de acomodação e não há escoamento para isso;, continua.

Campera alerta que considerando o período de chuvas, a situação torna-se ainda mais crítica, pois como se trata de barragens mais antigas, os sistemas de drenagem não funcionam mais. ;A chuva entra para dentro do minério. Vai para as barragens e pressiona as paredes. Se chover cinco dias sem parar, não sei o que vai acontecer;, diz. ;Todo esse volume de rejeito que está lá entope o rio e pode esparramar para os afluentes no sentido inverso ao do curso da água. Ninguém sabe para onde vai isso;, alerta. ;E o pessoal sabe desse risco;, completa.

Coeficiente de Segurança
O risco da barragem de Santarém se junta ao da de Germano, onde a Samarco admitiu, nessa sexta-feira, haver uma parede com coeficiente de segurança abaixo do permitido. ;O fator de segurança é dado pela força de resistência a uma ruptura dividido pela força movimentadora. Se for de 1.5, significa que a força de sustentação é 50% maior; se for 1.9, 90% maior;, explica o professor da Ufop Hernani Lima.

Na sexta-feira (13/11), a Samarco informou que a parede de Celinha, parte da barragem de Germano, está com coeficiente de segurança 1.2, quando o mínimo considerado ideal é 1.5. Ainda segundo a mineradora, o maciço principal da barragem de Germano apresenta coeficiente 1.9.

Mas Gerson Campera afirma que, embora 1.9 seja um coeficiente ;com folga;, é encontrado na melhor condição da barragem e não em toda a sua extensão, chegando a haver parede com 1.2.



;A norma NBR 6122 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) estabelece que o coeficiente deve ser igual ou maior que 1.5. E, somente em casos especiais, pode ser 1.3, desde que com rigoroso controle. E lá não exite controle rigoroso. Nunca existiram sensores nas barragens. E o coeficiente 1.2 ; admitido na parede de Celinha ; não atende as condições de segurança. É um coeficiente instável;, acrescenta.

O especialista explica que ao longo da barragem os coeficientes mudam em função da condição do solo, do peso que está sendo contido e da própria água. (Com informações de Renan Damasceno).

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