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Vítima de estupro coletivo diz que foi desrespeitada ao depor na delegacia

A jovem afirmou que não iria contar a ninguém sobre o crime, porque estava com vergonha

postado em 29/05/2016 23:20
Em entrevista ao programa Fantástico, da Rede Globo, neste domingo (29/5), a jovem vítima de estupro coletivo no Rio de Janeiro disse que foi desrespeitada ao prestar depoimento na delegacia. Ela afirmou que não foi bem tratada pelo delegado, que fez perguntas constrangedoras. "Quando fui à delegacia não me senti à vontade em nenhum momento. Tentaram me incriminar, como se eu tivesse culpa por ter sido estuprada", disse a jovem. O delegado teria perguntado se ela tinha costume de praticar o ato e se ela gostava disso.

Sobre a violência sexual, ela afirmou que não havia se drogado naquela noite e acredita que foi dopada - a adolescente acordou quando ainda estava sendo abusada. Ela afirmou que não iria contar a ninguém sobre o crime, porque estava com vergonha.

A jovem também disse estar incomodada com a repercussão do caso e que recebeu ameaças de morte pelas redes sociais. Ela ainda desmentiu fotos com armas, vídeos e áudios diversos que circulam na internet e que não seriam dela, e agradeceu ao apoio de quem acreditou em sua palavra e se solidarizou com o caso denunciando-o. Segundo a reportagem, o chefe da Polícia Civil do Rio disse que a conduta do delegado será apurada.

A Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima (DCAV) assumiu a coordenação das investigações. "A medida visa evidenciar o caráter protetivo à menor vítima na condução da investigação, bem como afastar futuros questionamentos de parcialidade no trabalho", explica o comunicado da Polícia Civil.

[SAIBAMAIS]A investigação passa a ser conduzida pela delegada Cristiana Bento, no lugar de Alessandro Thiers, titular da Delegação de Repressão aos Crimes de Informação (DRCI). A mudança atende ao pedido da advogada da vítima, Eloísa Samy, que recorreu à Justiça do Rio e ao Ministério Público com o argumento de que a adolescente foi intimidada pelo delegado durante os depoimentos prestados na sexta-feira (27/5).

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A família da jovem, porém decidiu dispensar a advogada e aderir ao Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte, da Secretaria de Estado de Direitos Humanos, em parceria com o governo federal. Ao jornal "O Estado de S. Paulo", a advogada se disse "aliviada" com a decisão da família, porque estava conduzindo o trabalho sozinha, e demonstrou confiança nos órgãos do Estado, como o Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) e a Defensoria Pública. "A Defensoria tem os melhores advogados do país", disse Eloísa, elogiando, sobretudo, os profissionais que trabalham com direitos humanos.

No sábado (28/5), a advogada encaminhou ao MP-RJ e à Justiça quatro pedidos em relação ao inquérito. A promotoria concordou com três pleitos, incluindo o desmembramento da investigação e o pedido de investigação da conduta do delegado. A promotoria entendeu também que a jovem deve ser protegida por medida cautelar da Justiça, nos moldes da Lei Maria da Penha, que pode proibir que suspeitos se aproximem ou mantenham contato com vítimas. A advogada relatou que um dos suspeitos do crime, identificado como Raphael Belo, tem tentado intimidar a adolescente.

O Sindicato de Delegados de Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro (Sindepol-RJ) divulgou comunicado em que critica a defensora. No texto, diz repudiar "de forma veemente as declarações oportunistas, assim como qualquer tipo de ingerência nas investigações". A PM fez neste domingo nova operação em busca de suspeitos do crime, assim como havia feito no sábado. A operação começou por volta de 6h30, envolveu 70 policiais e terminou sem nenhuma prisão ou apreensão. Tampouco houve troca de tiros.

Com informações da Agência Estado

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