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Especialistas: Desigualdade social explica diferenças no resultado do Enem

Números do Enem mostram desempenho ruim das escolas públicas. Das 100 mais bem colocadas, apenas três não são particulares

Jéssica Gotlib
postado em 05/10/2016 06:00

Números do Enem mostram desempenho ruim das escolas públicas. Das 100 mais bem colocadas, apenas três não são particulares
Os resultados do Exame Nacional do Ensino Médio 2015 por escola mostram que a maioria das instituições de ensino públicas está abaixo da média nacional. Segundo o ranking, organizado ontem com base nas informações do Ministério da Educação (MEC), 97 das 100 melhores escolas, que obtiveram maior pontuação nas provas objetivas, são particulares. Na avaliação de especialistas, o índice não é suficiente para mostrar quais são as melhores e piores instituições de ensino do país, mas outros recortes trazidos pelos dados demonstram que a desigualdade social entre alunos é um fator importante e se reflete no desempenho nas provas.

De acordo com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), as notas em matemática, linguagens e tecnologia na última edição foram inferiores em relação a 2014. As notas melhoraram, porém em ciências humanas e redação, cuja média passou de 491 para 543, sendo o máximo 580. Tomando como base as notas da prova objetiva e da redação por escola, a pontuação média das escolas brasileiras no Enem de 2015 foi de 525 pontos. Entre os colégios públicos, o número ponderado nacional é de 492 pontos; na rede particular, o valor é de 570 pontos.

Os arquivos reúnem as notas de 1.212.908 estudantes de 14.998 escolas do país que prestaram o exame no ano passado. Para participar do ranking, metade dos alunos da escola têm que ter feito a prova e o colégio deve ter ao menos 10 alunos. O número de alunos varia muito. Entre as 100 melhores escolas, por exemplo, pelo menos 40% têm até 60 alunos.

O relatório apresentou ainda dados por Indicador de Nível Socioeconômico (Inse), calculado a partir da escolaridade dos pais, da posse de bens e da contratação de serviços pela família dos alunos, com o objetivo de situar o público atendido pela escola em um estrato ou nível social de acordo com um padrão de vida. Os colégios com maior taxa de participação no Enem têm Inse médio-alto (25,5%) e alto (22,5%). Em seguida, estão as instituições com indicador médio (19,6%), muito alto (17,3%), médio-baixo (10,1%) e baixo (4,6%). As escolas com Inse muito baixo representam apenas 0,4% do total.

A melhor do país é o Objetivo Colégio Integrado, de São Paulo, que tem 42 alunos e atingiu a média de 742,96 pontos. O Inep considerou também o porte das escolas: 28% eram muito pequenas (até 30 alunos), 26% eram pequenas (de 31 a 60 estudantes), 15% médias (61 a 90) e 31% grandes (mais de 91). As médias escolares foram de 541, 532, 521 e 509 pontos, respectivamente. Ou seja, quanto menor a instituição de ensino, maior a nota. ;Os resultados têm contextos que precisam ser considerados. O desempenho do aluno sozinho não pode servir como diagnóstico da escola;, ponderou a presidente do Inep, Maria Inês Fini.

Durante a apresentação dos dados, a secretária-executiva do MEC, Maria Helena Guimarães de Castro, ressaltou a diferença que há entre os alunos. ;Do grupo socioeconômico muito alto para o grupo médio, há uma diferença de 100 pontos. É uma diferença absurda. Isso revela a enorme desigualdade do ensino médio brasileiro;, diz.

Gerente de Conteúdo do Movimento Todos pela Educação, Ricardo Falzetta ressalta que o Enem traz recortes e que não é possível se condenar escolas eventualmente mal classificadas pelo ranking. ;Não dá para comparar uma escola que está no topo e atende a 40 alunos com nível alto com outra, pública, que atende 200 alunos com nível mais baixo. A realidade é que a gente vive num país desigual. A diferença não se explica pela qualidade das escolas, mas pela disparidade dos níveis socioeconômicos;, disse. Falzetta também lembra que a grande parte dos alunos acaba não fazendo o Enem. ;Estamos falando de 40% das escolas. As outras 60% não foram consideradas;, ponderou.

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