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Evidências de vazamento de prova colocam Enem novamente na corda bamba

Às vésperas da aplicação das provas para quem não pôde fazê-las em novembro, MP Federal pede à Justiça a anulação do exame

postado em 02/12/2016 10:17
Anulação do exame pode prejudicar cerca de 6 milhões de inscritosA totalidade dos candidatos nem conseguiu ainda fazer as provas e o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) deste ano corre novamente o risco de ser anulado, prejudicando quase 6 milhões de inscritos. A maioria (5,8 milhões) fez os testes em novembro. Outros 277 mil candidatos ; que não puderam participar no mês passado, quando escolas que os receberiam foram ocupadas em protesto contra as propostas do governo federal para a reforma da educação ; responderão às questões neste fim de semana.

O futuro de todos os concorrentes e do próprio Enem está agora nas mãos da Justiça Federal no Ceará, onde a Polícia Federal investiga indícios de vazamento das provas. O procurador Oscar Costa Filho, do Ministério Público Federal (MPF) no estado, recebeu relatório parcial da PF e, segundo ele, a corporação concluiu que uma quadrilha teve acesso antecipado ao tema da redação e a questões objetivas.

[SAIBAMAIS]Vale lembrar que o procurador já ajuizou ação requerendo a suspensão da redação, pois, em novembro, dois candidatos teriam sido flagrados com o tema do texto. Desta vez, diante do relatório preliminar da PF, ele informou que vai pedir ao Judiciário que a suspensão seja estendida às provas objetivas. Em princípio, deve requerer liminar para suspender a validade do concurso.

Se a demanda for deferida pelo juiz, o mérito da ação será julgado posteriormente. ;Já pedimos a suspensão da validade da redação. Essas provas (evidências que constam no relatório parcial da PF) indicam que o vício é extensivo às questões objetivas. No mérito da ação é que se pede nulidade. Se ao final a decisão for nesse sentido, o que foi feito não terá validade;, disse o procurador, no fim da tarde de ontem, por telefone, ao Estado de Minas.

Mais cedo, em nota divulgada pelo MPF, Costa Filho afirmou que as evidências que constam no relatório da PF ;comprometem a lisura do exame e a própria credibilidade da logística de segurança que vem sendo aplicada;. Destacou, no mesmo texto, que agentes federais encontraram fotos de uma das provas em celulares de candidatos detidos. Um deles seria de Montes Claros. Outro, do Maranhão.

O MPF destacou que candidatos tiveram acesso à chamada frase-código da prova rosa. Na prática, isso permite que inscritos que tenham feito prova de outra cor pudessem acertar todo o gabarito, caso a hipótese da investigação esteja correta, uma vez que a frase-código é o mecanismo que orienta o computador a corrigir o gabarito. Em nota, o MPF informou que o relatório da Federal diz o seguinte: ;Tanto o gabarito quanto a frase-código foram divulgados antes do exame, o que garante a responsabilidade de afirmar que houve vazamento da prova;.

As declarações do procurador foram rebatidas pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), responsável pelo exame. O Inep afirmou que o relatório da Federal é parcial e que ;não há indício de vazamento de gabarito oficial;. Em nota, o instituto lamentou que ;o procurador Oscar Costa Filho use da prerrogativa institucional de ter acesso ao inquérito para vazar informações antes de a Polícia Federal concluí-lo;.

;O Inep estranha o fato de que esse procurador venha a público, mais uma vez, às vésperas da aplicação de provas do Enem, marcadas para os dias 3 e 4 de dezembro, gerar fatos que provocam tumulto e insegurança para milhares de estudantes inscritos. O Inep lembra que o procurador tem histórico de tentativas de impedir a realização do Enem em anos anteriores;, acrescentou o texto.

Fogo Cruzado

As divergências entre o integrante do MP Federal e o Inep preocupam os inscritos no exame deste ano, como o jovem Henrique Lomasso, de 17 anos, que se prepara para as provas do próximo fim de semana. Ao mesmo tempo em que teme pelo futuro do concurso, o candidato cobra maior competência do governo em assegurar isonomia entre os participantes. ;Vejo a possibilidade de cancelamento do Enem como algo péssimo para os estudantes, que já perderam provas em razão do adiamento e, agora, correm o risco de ter o ano de estudo comprometido. Isso mostra também que o Brasil não está tão preparado assim para uma prova tão grande e importante;, justificou Henrique.

Seja qual for a decisão da Justiça no Ceará, o pedido de liminar não deve ser apreciado antes do fim de semana. Por isso, quem está com prova agendada deve comparecer ao concurso.

Memória

Prova vazou em 2009 - Caso o vazamento da prova seja confirmado, não terá sido o primeiro episódio do tipo. Em 2009, o então ministro da Educação Fernando Haddad cancelou o Enem depois de um homem mostrar a jornalistas de O Estado de S. Paulo uma das provas que seria aplicada naquele ano. Os repórteres entraram em contato com o ministro, que confirmou a veracidade das questões e determinou a suspensão do exame. Outras provas foram providenciadas e aplicadas aos alunos.
Por Estado de Minas

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