Ana Dubeux
postado em 11/12/2016 10:23
O Brasil está sedento por mudanças. Dá para sentir em cada esquina o bafo quente desse desejo. A população arfa o peito e explode nas redes sociais. Os memes são a expressão mais bem-humorada dessa vontade. Vez por outra, o movimento toma as ruas. São várias as formas e os grupos, assim como as nuances políticas e ideológicas por trás das manifestações, mas há uma predominância de discurso. ;Estamos fartos;, este é o recado. Os políticos têm feito ouvidos moucos, mas não será por muito tempo. O barulho é grande e bom de ouvir.
Existem duas questões importantes por trás desse acordar. Uma é a desigualdade, latente e tão grande que já não cabe no lugar onde sempre esteve: o da aceitação, da resignação. Era comum ouvir um pobre dizer: ;Isso é assim mesmo;; ;Vamos nos conformar;. Há uma nova geração que nasceu esperneando contra preconceitos e contra esse abismo social. Sorte nossa. Vão mudar nossa história marcada por opressão. Outra questão é o privilégio, uma doença que contamina os políticos e as autoridades no nascedouro. O país não suporta mais nem uma coisa nem outra.
Ninguém, em sã consciência, pode ser contra a reforma da Previdência. Sabemos todos que lá no fim a nossa poupança coletiva vai fracassar no intento de sustentar a todos que contribuíram. É uma certeza inquestionável. O problema é que o remédio amargo não pode ser dirigido a uma parcela só da população.
Por que uma fatia do serviço público pode se refestelar com salários integrais e altíssimos, enquanto outra tem que trabalhar cada vez mais por um salário de fome? Por que o próprio presidente e tantos ministros puderam se aposentar na casa dos 50 anos e outros terão de virar a curva dos 70 para descansar? Por que políticos podem trabalhar por quatro anos e ganhar salário para o resto da vida? Vivemos uma desonestidade legalizada, que institucionalizou e agravou as desigualdades sociais ao longo de décadas. Não pode ser assim.
Somado à necessidade de reformas, que teimam em ser seletivas, há ainda o escândalo de corrupção sem precedentes, que emerge graças à Operação Lava-Jato. A cada delação, a cada operação, torna-se mais acintoso. A abrangência, os montantes, a cara de pau. Dá até um certo asco, devo confessar, por pessoas que trocaram a riqueza produzida pelo povo por joias, viagens, luxo e riqueza, enquanto a miséria volta a crescer no país. Que apodreçam na cadeia!