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Especialistas: Racismo velado não deixa de ser racismo

Estudiosos avaliam o comportamento de Marcão do Povo que, após ter chamado a funkeira Ludmilla de "macaca", negou ter sido racista

Gabriela Vinhal
postado em 20/01/2017 14:17

Estudiosos avaliam o comportamento de Marcão do Povo que, após ter chamado a funkeira Ludmilla de


O comportamento do Marcão do Povo de negar ter feito um comentário racista contra a funkeira Ludmilla é mais comum do que se imagina. Como justificativa, o apresentador, que se referiu à cantora como "pobre macaca", alegou ter usado uma expressão regional, que não seria relacionada à cor da pele, mas à antiga condição financeira dela. A justificativa não funcionou. A reação dos internautas foi automática. A hashtag #processaludmilla ficou no topo dos assuntos mais comentados no Twitter e a emissora anuncinou o desligamento do funcionário da empresa.

De acordo com o subsecretário de Igualdade Racial do Distrito Federal, Victor Nunes, a discriminação racial pode ficar apenas no inconsciente, sem necessariamente externalizá-lo. Com isso, as pessoas tendem a pensar que não são preconceituosas.


[SAIBAMAIS] ;Elas também tendem a fugir de rótulos para serem socialmente aceitas. Esse comportamento traduz a falsa democracia racial, que está camuflada na sociedade. A escravidão infelizmente ainda reflete muito no comportamento social;, esclarece.

Em relação às justificativas de Marcão, Nunes não tem dúvida: só foram dadas, porque ele está sendo execrado profissionalmente e rejeitado socialmente. ;Não é a primeira vez que ele tem um ato racista. Em vez de procurar explicação para algo inexplicável, ele deveria assumir o erro e buscar a desconstrução;, pontua. O subsecretário diz ainda que a solução para o preconceito é na educação, no estudo e na conscientização.

Movimento negro

Para a advogada, ativista do movimento negro, estudante e mestranda em ciências sociais da Universidade de Brasília (UnB) Raila Melo, não há uma diferenciação entre o racismo externalizado e o velado. O que existe é uma estrutura naturalizada da discriminação no país. De acordo com ela, algumas atitudes e expressões que ofendem os negros ainda ocorrem de maneira ;inocente;, para criar uma falsa sensação de preconceito velado. "Depende de como a pessoa se sente. Um negro pode se sentir ofendido com alguma expressão enquanto outro não", detalha.


;Enquanto não houver uma problematização por parte da população, o racismo vai continuar. Eu entendo que ainda tenham pessoas ignorantes quanto ao assunto racial, mas isso não é uma desculpa. É só pensar se vai ofender alguém ao dizer alguma coisa. Elas não têm empatia, por não conseguirem se colocar no lugar do outro, principalmente no nosso;, justifica.

A militante chama a atenção também para o racismo em diferentes âmbitos sociais. Segundo Raila, a discriminação não difere posição ou classe social. Entretanto, a advogada destaca a desvantagem com que os negros da periferia estão, por não terem o apelo da mídia, tampouco recursos financeiros para lidarem com apoio psicológico e jurídico.

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