Brasil

Violência e saúde estão no centro do debate sobre legalização da maconha

Especialistas defendem que a medida desmontaria o tráfico de drogas e reduziria o número de presos.

Evelin Mendes*
postado em 20/02/2017 07:00
Especialistas defendem que a medida desmontaria o tráfico de drogas e reduziria o número de presos.

As recentes rebeliões e as superlotações nos presídios brasileiros trouxeram à tona a discussão referente à legalização da maconha. Além de abordar o grande número de detentos, o assunto também envolve várias temáticas polêmicas, como o mercado de drogas, violência, medicamentos, punição e o contrabando. Na última semana, o ministro Luís Roberto Barroso do Supremo Tribunal Federal (STF) defendeu a legalização da maconha para aliviar a crise no sistema penitenciário. Segundo ele, a medida desmontaria o tráfico de drogas e reduziria o número de presos.

;E preciso se tratar como se trata o cigarro, uma atividade comercial. Ou seja: paga imposto, tem regulação, não pode fazer publicidade, tem contrapropaganda, tem controle. Isso quebra o poder do tráfico. Porque o que dá poder ao tráfico é a ilegalidade. E, se der certo com a maconha, aí eu acho que deve passar para a cocaína e quebrar o tráfico mesmo;, opinou o ministro.

[SAIBAMAIS]Ana Cecília Marques, coordenadora da Comissão de Dependência Química da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), diz, porém, que, antes de qualquer mudança na lei, é preciso que se preparem políticas de drogas eficientes. ;Quando se descriminaliza a maconha, por exemplo, é necessário que a população já tenha ações educativas, médicos treinados para a dependência, leis rígidas para os menores e política de tratamento que hoje o Brasil não tem;, declara.

Segundo a especialista, o fumo exagerado da maconha pode gerar complicações no cérebro e consequências sérias ao sistema nervoso, como esquizofrenia, depressão, síndrome do pânico e alteração de percepção do ambiente. ;Neste último problema, percebeu-se que nos estados americanos que liberaram a maconha, os acidentes de carro triplicaram com o uso recreativo da droga;, destaca. Ana Cecília afirma que, as leis brasileiras não são seguidas nem com o uso de cigarro em locais proibidos e de álcool em direção, ;quanto mais o de maconha;.

[SAIBAMAIS]Mauro Aranha, presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) defende a descriminalização do porte da maconha, porque a lei anti-drogas ;não é clara entre distinção entre usuário e traficante;. ;Isso dá liberdade em encarcerar pessoas que não são vendedores de drogas. Alguns deles precisam de atenção à saúde e o aprisionamento pode agravar a saúde mental da pessoa, além de perder oportunidade de ser tratada e orientada;, avalia.

Ela Wiecko considera que o julgamento no STF pode trazer um impacto positivo para que o judiciário aplique penas menos severas para os pequenos traficantes. ;Eles são, ao mesmo tempo, usuários. As prisões podem ser convertidas em medidas cautelares não privativas de liberdade;. Ela avalia que o Brasil deveria descriminalizar o porte para uso pessoal, para fins medicinais e regular o mercado, mas destaca que é uma tarefa complexa, tendo em vista a ;a magnitude atual do mercado ilícito;. ;A regulação provavelmente não interessa aos verdadeiros donos do tráfico, que dificilmente são identificados e processados.;

*Estagiários sob supervisão de Paulo de Tarso Lyra

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