Brasil

Retomada do transporte ferroviário no país esbarra no desinteresse político

Em nova empreitada, Ministério dos Transportes pretende, até o fim do ano, reconectar as linhas férreas

Margareth Lourenço - Especial para o Correio, Natália Lambert
postado em 04/04/2017 06:00
O país tem um deficit de 850km de trilhos no atendimento à demanda de passageiros. A previsão de investimentos para o setor neste ano é de R$ 895 milhões
Há no Ministério dos Transportes um grupo de estudos empenhado em atrair investimentos para o modal ferroviário de cargas. A ideia principal é montar um novo traçado para as linhas e a ampliá-las em locais como a ferrovia Norte-Sul, possibilitando vários caminhos entre áreas produtoras e portos. Conforme o Correio vem tratando em série de reportagens, o país não possui hoje uma rede ferroviária conectada, só trilhos que se ligam de um ponto a outro. O trabalho desenvolvido pelos técnicos deve ser levado à audiência pública ainda este semestre, já que há previsão de publicação do edital para as concessões de ferrovias até o fim do ano. No processo, será aberto prazo para contribuições do mercado, ajustes e acompanhamento do Tribunal de Contas da União (TCU).

Na opinião do diretor-executivo da Confederação Nacional do Transporte (CNT), Bruno Batista, neste pacote deveria haver ;projetos mínimos de viabilidade econômica e de um marco regulatório como balizador das regras a que os investidores serão submetidos;. Batista ressalta que a história do transporte ferroviário no Brasil andou sempre ao lado de baixos investimentos, tanto que o previsto para 2017 está aquém do que foi investido há quase uma década. Para este ano, estão previstos R$ 895 milhões, valor inferior aos R$ 922 milhões aplicados em 2008. Em 2014, o setor chegou a receber R$ 2,6 bilhões. ;Sem dúvida, o desafio que se impõe é como aumentar esses patamares. Em um cenário de escassas possibilidades de recursos públicos e sem um horizonte promissor antes de cinco a oito anos, a saída é atrair investidores privados;, pondera.

O diretor destaca que as turbulências políticas pelas quais o Brasil passa dificultam ainda mais e geram insegurança nos investidores. Outra questão é a falta de definição de uma política para o segmento no país. Ele lembra que, só nos últimos anos, foram lançados o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), fase I e II, e o Programa de Investimento em Logística (PIL) sem ter tido decisões sobre o ;rumo que será dado para o setor;. Batista exemplifica com o anúncio da licitação da Ferrovia Ferrogrão, para escoar a produção a partir de Mato Grosso em direção ao Pará. A linha irá concorrer com a BR-163 ; ainda não concluída e que, recentemente, ocupou os noticiários por estar tomada de atoleiros. ;Serão corredores paralelos que competirão entre si;, critica.

Investimentos

Além da falta histórica de prioridade com que as ferrovias no país são tratadas, projetos como esse em andamento no ministério levam anos para serem concluídos. Na opinião de Rodrigo Vilaça, presidente da Seção V do Transporte Ferroviário de Cargas e de Passageiros da CNT, o país precisa investir nessa mudança de visão e pensar em processo integrado de sistemas de transportes. ;Imagina um trem que vem de Luziânia (GO), deixa os passageiros na Rodoferroviária, onde eles pegam um VTL que os leva para a Esplanada. Esse tipo de cultura é o que nós estamos levando aos novos gestores. São projetos de maior duração e com resultados expressivos.;

;Em um cenário de escassas possibilidades de recursos públicos e sem um horizonte promissor antes de cinco a oito anos, a saída é atrair investidores privados;
Bruno Batista, diretor-executivo da Confederação Nacional dos Transportes

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