Brasil

Shopping em São Paulo é acusado de racismo

Filho de artista plástico foi confundido com mendigo por seguranças do Shopping Pátio Higienópolis

Agência Estado
postado em 07/06/2017 14:27
Shopping Pátio Higienópolis
Na última sexta-feira (2/6), o artista plástico Enio Squeff passeava com seu filho no Shopping Pátio Higienópolis, no centro de São Paulo, quando passou por uma situação desagradável: seu filho foi confundido com um mendigo. A história foi relatada no Facebook e já conta com centenas de compartilhamentos.
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Nós dois estávamos tomando chá num restaurante, conversando, e meu filho estava com o uniforme do Sion [colégio que fica próximo ao shopping], portanto não estava mal vestido. Chegou uma segurança, uma senhora, dizendo: ;Senhor, este menino está te incomodando?;. Respondi que não, e perguntei o motivo. ;É porque temos ordens de não deixar mendigos importunarem os clientes;, ela respondeu. Então eu disse: ;Você está chamando meu filho de mendigo por ser negro?;. Ela disse ;não;, eu repeti, e ela falou ;desculpa, essa são as ordens da casa, sou negra e tenho orgulho de ser negra;. Então eu falei: ;Se você tem orgulho de ser negra, não deve desculpas a mim, mas a sua família e a você, porque você está assumindo um racismo dos seus patrões, não sei em nome de quê", relatou ao E%2b.
Squeff disse, porém, que coloca a culpa no shopping. "Ela ficou pedindo desculpas, eu disse que não tinha desculpa e ela que se desculpasse a ela mesmo. Se fosse homem, iria à auditoria. Mas como ela era mulher, ela deveria ser arrimo de família. E pensei que o shopping iria mandá-la embora, como se não fosse o próprio a dar essa ordem, afinal, não é a primeira vez que o shopping Higienópolis age assim. Uma vez, um casal de amigos negros ingleses da minha mulher foi seguido o tempo todo por seguranças lá. Aí você tem uma dimensão da coisa. Num bairro judeu, formado por uma comunidade que sofreu todas as consequências do racismo", disse o pai.

[SAIBAMAIS]Na hora, a atitude do filho foi se afastar. Depois, o menino perguntou o que havia acontecido, e o pai apenas falou que a segurança havia dito algo que ele não tinha gostado. Posteriormente, Squeff contou o caso para a mãe do filho, que resolveu transformar isso num caso público. "Ela queria uma retratação pública", disse.

Na segunda-feira (5/6), o shopping entrou em contato com a mãe para pedir desculpas. "Uma moça disse que o shopping não dava esse tipo de orientação e pediu desculpas. Mas a mãe do meu filho respondeu que não aceitava essas desculpas por telefone, que queria desculpas formais", relembra.

Durante a conversa com a reportagem, Squeff reiterou diversas vezes que não quer que a funcionária seja demitida: "De jeito nenhum, tanto que não fui à auditoria, porque senti pena dela. Eu sabia que, cinicamente, a direção do shopping a mandaria embora, como eu acho que já devem ter feito. Eu não vou engrossar a fila de desempregados. Eu vi que ela estava cumprindo ordens".


Defesa


Procurada, a assessoria de imprensa do centro de compras enviou uma nota por e-mail em que diz "que o Shopping Pátio Higienópolis reforça que todos os frequentadores são sempre bem-vindos, sem qualquer distinção". A assessoria não quis informar, porém, se a segurança permanece no quadro de funcionários.

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