Brasil

Moradora de Brasília conta como foi ataque de ódio a artistas na Alemanha

Na agressão, o artista circense brasileiro Rafael Gonçalves, o Pikapau, ficou com o rosto desfigurado e precisou passar por uma cirurgia

Gabriela Vinhal
postado em 10/08/2017 21:30
Alexanderplatz
Uma das pessoas que estava no grupo vítima de um ataque xenófobo na Alemanha, no último domingo (6/8), contou ao Correio como aconteceu a agressão, que deixou o artista de circo brasileiro Rafael Lucas Gonçalves, conhecido como Pikapau, gravemente ferido.

[SAIBAMAIS]Sem querer se identificar, a também artista e moradora de Brasília explicou que ela e Rafael estavam acompanhados de dois argentinos e dois chilenos, todos amigos. Nascido no Rio Grande do Sul e hoje morador de Cabo Verde, Pikapau tinha sido contratado pela produção de um festival de arte para fazer apresentações circenses por 20 dias na capital alemã. Era o último dia do evento.

Após passear pela Alexanderplatz, uma das praças mais conhecidas de Berlim, o grupo começou a ser seguido por cinco alemães, que estavam visivelmente embriagados. Passava das 22h. "Eles vieram atirando latas de cerveja, falando alto e agindo grosseiramente. Quando cruzaram por nós, falaram alguma coisa em alemão. Não entendemos, então alguns dos meninos os questionaram. Foi então que partiram para cima", disse.

O maior deles, segundo ela, passou a agredir Pikapau com socos no rosto. O artista caiu desacordado, mas o ataque não terminou. "Mesmo no chão, eles continuaram batendo nele, chutando o rosto dele. Foi desesperador", acrescentou. Os amigos seguraram Rafael e buscaram se afastar o mais rapidamente que podiam. Os agressores, porém, os seguiram por mais alguns quarteirões, gritando, em inglês, frases como "Saiam do nosso bairro" e "Não voltem aqui".

Quando se sentiram seguros, os amigos de Pikapau chamaram uma ambulância. Os médicos e enfermeiros fizeram o atendimento e acionaram a polícia. "Os suspeitos foram identificados. Um deles até tentou fugir, mas foi pego depois. Passaram um dia na delegacia e logo depois foram liberados", afirmou.

Rosto desfigurado

Ainda internado em um hospital de Berlim, Rafael ficou com o rosto desfigurado. Ele precisou colocar uma placa de titânio na face, em uma cirurgia realizada na quarta (9/8). A expectativa é que ele receba alta no sábado.

A moradora de Brasília contou que procurou a Embaixada do Brasil na terça-feira (8/8), mas foi solicitada que voltasse no dia seguinte. Como era o dia de seu retorno ao Brasil, ela não conseguiu. "Foram superintransponíveis. Mesmo assim, deixei, por escrito, o contato do Rafael e dos amigos que ainda estão na cidade. Expliquei toda a história, mas nenhum contato foi feito", queixou-se.
Segundo o ministro Roberto Avelar, embaixador do Brasil na Alemanha, afirmou ao Blog do Vicente, a embaixada tomou conhecimento do ataque na quarta-feira graças à carta deixada pela brasiliense. Apesar de não conseguir contato com nenhum dos colegas de Rafael, a embaixada diz que tem falado com Stefanie Rossa, produtora do grupo do qual o artista faz parte. Ainda segundo Avelar, um dos agressores está preso e a polícia está tomando todas as providências para punir os responsáveis pelo crime, mantendo contato constante com a representação brasileira. O ministro disse ainda que não há detalhes sobre o estado de saúde de Rafael, porque, pela legislação alemã, as informações só podem ser repassadas com autorização do paciente.

Xenofobia

"Tenho certeza de que o que passamos em Berlim foi xenofobia. Não que fosse uma justificativa, mas sequer estávamos vestidos com nossas roupas artísticas. São fascistas que não gostam do novo, do diferente", lamentou a artista. Ela ressalta a importância do debate sobre esses episódios de intolerância e ódio, que ainda perduram no mundo. "Foi com a gente, mas poderia ter sido com qualquer um."
Além do desgaste físico e emocional, Rafael ainda precisa arcar com os custos do hospital e com as despesas do dia a dia. O artista ficará na cidade alemã por, ao menos, mais um mês. Ele vai precisar ficar de repouso por três meses e seis meses sem trabalhar. Por isso, colegas já realizaram um evento beneficente para ajudá-lo. O grupo pretende, ainda, se mobilizar e criar uma vaquinha virtual para que Pikapau tenha uma preocupação a menos durante sua recuperação.

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