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Brasil registra avanços no diagnóstico e tratamento do HIV

Com a estimativa de que 830 mil pessoas tenham o vírus no país, 517 mil faziam o tratamento contra a doença até o fim de junho deste ano

Letícia Cotta*, Ingrid Soares
postado em 25/11/2017 08:00

Medicamento utilizado no tratamento de soropositivos: Brasil aumentou em 18% o índice de diagnóstico de pessoas portadoras do vírus HIV em cinco ano


Dados do Relatório de Monitoramento Clínico do HIV, elaborado pelo Ministério da Saúde, mostram que em 2016, 830 mil pessoas viviam com o vírus. Segundo o documento, nos primeiros seis meses de 2017, 35 mil pessoas iniciaram o tratamento antirretroviral (TARV). Das que já estavam no tratamento, 91% atingiram supressão viral (que indica sucesso), resultado 6% acima do esperado no ano de 2012, com relação às metas da pasta. O relatório mostra que o Brasil aumentou em 18% o índice de diagnóstico de pessoas portadoras do vírus HIV, e em 15% a quantidade de soropositivos que fazem tratamento médico regular.

O primeiro semestre de 2017 registrou 517 mil pessoas em tratamento. Estima-se que, até o fim do ano, chegue a 550 mil. No entanto, a taxa de abandono é de 9%, uma estatística que se mantém desde 2013, que atinge principalmente os mais jovens. ;Por conta do estigma que os jovens têm com o HIV, há a recusa em participar efetivamente do tratamento. 56% dos diagnosticados entre 18 e 24 anos estavam em tratamento e menos da metade deles apresentava supressão viral;, afirma a Diretora do Departamento de IST, HIV, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, Adele Benzaken.

[SAIBAMAIS]Adele também confirma os desafios a serem superados pelo Ministério da Saúde. ;Quando você fala desse tratamento, por adesão, essa pessoa precisa tomar um ou dois comprimidos pelo resto da vida, esse é o desafio que nós temos. A negação vem como consequência de não querer tomar o medicamento;, explica.



O presidente da Articulação Nacional de Saúde e Direitos Humanos, Renato da Matta, 53 anos, é portador do HIV e está em tratamento. Ele descobriu a doença em 2000, em um exame de risco cirúrgico, e conta que sofreu discriminação por conta do diagnóstico. ;Tem casos em que a própria família discrimina. No trabalho, as pessoas tinham medo de chegar perto, e faziam um prejulgamento de promiscuidade ou homossexualidade. O erro é pensar que só acontece com os outros. Quanto à medicação, tem que tomar sem interromper, sob risco do vírus criar resistência e o remédio não fazer mais efeito.;

Casado e levando uma vida normal, ele conta que o diagnóstico não é uma sentença de morte. ;Esse pensamento é errôneo. Eu me casei há um ano e minha mulher não tem a doença. Fazemos o que qualquer pessoa faz. Tomamos apenas um pouco mais de cuidado. Para ajudar na diminuição de casos, também acho que devia ser oferecida camisinha em locais públicos, onde as pessoas tivessem mais acesso, além de postos de saúde.;

Hemerson Luz, especialista em doenças infecciosas, avalia que o aumento da incidência do HIV se justifica por três fatores. ;Tem o fator comportamental, pois as pessoas têm relação sexual cada vez mais cedo, sem proteção. O segundo, por desabastecimento dos remédios em alguns locais contra o HIV. E terceiro, pelo aumento da detecção. O próprio governo disponibiliza meios para os exames, o que aumenta a taxa de incidência. É importante realizar o teste, pois a pessoa pode ser portador e não saber, o vírus pode ficar de três a 10 anos sem se manifestar;, observa.

Segundo ele, alguns abandonam o tratamento, pois não se sentem doentes e julgam não precisar. ;Uns acham que não precisam dos remédios, pois não apresentam sintomas. Outros abandonam até por questões religiosas. É uma ideia errônea, pois o HIV evolui para a Aids. O tratamento está mais simplificado, com apenas um comprimido. É preciso praticar sexo seguro, fazer o autoteste, entre outros cuidados;, avalia.

* Estagiária sob a supervisão de Leonardo Cavalcanti

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