Brasil

Medo da violência e descrença na Justiça explicam apoio à pena de morte

Segundo levantamento do Instituto Datafolha, 57% dos brasileiros se mostram favoráveis à adoção da pena de morte no Brasil. Para especialistas, o resultado reflete a descrença da população na Justiça brasileira

Júlia Campos - Especial para o Correio
postado em 08/01/2018 18:00
Mão bate malhete de juiz, que se quebra.
O que está por trás do apoio da maioria da população à pena de morte? Para especialistas, o fato de 57% dos brasileiros se dizerem favoráveis à pena capital, conforme apontado por pesquisa divulgada pelo Instituto Datafolha, nesta segunda-feira (8/1), está relacionado à descrença do cidadão na Justiça do país.

Esta é a primeira vez que a maioria dos entrevistados pelo instituto se diz a favor da adoção da mais drástica das punições. Na análise anterior, em 2008, 47% das pessoas se diziam favoráveis.

Para o cientista político e especialista em segurança pública Antônio Testa, a falta de confiança nas leis faz com que as pessoas busquem outra forma de obter a sensação de justiça. ;Todos sabem que o criminoso vai ser solto em pouco tempo. Por isso, esse sentimento. Enquanto não acabar essa sensação de insegurança e impunidade, as pessoas vão continuar querendo a pena de morte;, analisa.

O consultor em segurança pública George Felipe Dantas segue uma linha de raciocínio semelhante ao analisar os dados. Ele chama a atenção para o fato de a maioria das pessoas que apoiam a pena de morte estar no grupo com renda mensal de até cinco salários mínimos. Nesse grupo, o apoio chega a 58%, caindo para 42% entre as pessoas que ganham mais de 10 salários.

;As imagens da violência são mais prevalentes nas periferias, então há uma percepção de ameaça maior", observa, lembrando que essa camada da população não consegue investir na própria segurança, com a aquisição de sistemas de alarmes e cercas elétricas, por exemplo. Também para Dantas, que também faz parte do Conselho Distrital de Segurança Pública do DF (Condisp), a descrença da população na Justiça do país não pode ser ignorada. ;Há uma sensação de que o apenamento brasileiro não convence mais;.

Segundo Testa, tal quadro leva à necessidade de reformulação do judiciário e a criação de leis que favoreçam a punição justa. ;Mas os responsáveis são os políticos, e eles não têm nenhum interesse em querer algo diferente do que já temos, pois querem ser protegidos por elas. Precisa ficar mais eficaz e justa a relação entre algoz e vítima. A sensação que dá é que a Justiça foi feita para não funcionar;, conclui.


Homens apoiam mais que as mulheres


O resultado de 57% de apoio à pena capital é um recorde desde que a questão passou a ser feita pelo Datafolha, em 1991. Em 1993 e 2007, o índice chegou perto: naqueles dois anos, 55% se disseram a favor.

Desta vez, o instituto entrevistou 2.765 brasileiros em 192 municípios nos dias 29 e 30 de novembro. O estudo também mostrou que 39% da população são contrários à punição, 1% se declarou indiferente e outros 3% não souberam responder.

O levantamento também aponta que as mulheres apoiam menos a pena de morte, com 54%, enquanto os homens correspondem a 60%. A faixa etária que mais apoia é a de 25 a 34 anos, e os idosos, acima de 60 anos, aceitam menos, com 52% de apoio à medida. Com relação à religiosidade dos entrevistados, os ateus são o grupo que menos apoia a pena de morte: 46% se dizem favoráveis. Entre os católicos, há 63% de apoio à medida.

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