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Listas de 'mais putas' e 'mais gays' expõem preconceito no interior de MG

Nomes de mais de 120 mulheres, dentre elas menores de idade, tem sido divulgados em redes sociais com atribuições pejorativas

Larissa Ricci/Estado de Minas, Simon Nascimento* - Estado de Minas
postado em 11/01/2018 16:39
Uma das listas (E) que circulou em Muzambinho (D)

Listas rotulando as mulheres ;mais putas; e os homens ;mais gays; de Muzambinho, Monte Belo e Guaxupé, todas cidades do Sul de Minas Gerais, viralizaram nas redes sociais e causaram revolta e constrangimento às vítimas citadas nas listagens.

Sem motivo aparente para a divulgação dos nomes com atribuições preconceituosas, os atos podem estar ligados com a fofoca e a exposição que informações destas dimensões podem gerar aos envolvidos. Especificamente na lista das mulheres ;mais putas;, cerca de 100 nomes foram atribuídos.
Até o momento, apenas cinco mulheres de 20, 23, 25 e 31 anos e uma adolescente de 14 registraram boletins de ocorrência na Polícia Militar denunciando o crime. Porém, o em.com.br apurou que grupos de mulheres que foram mencionadas se organizam para registrar os fatos em conjunto.

O delegado da Polícia Civil, Silvio Sérgio Domingues, diz que já tem conhecimento das listas e suspeita de que elas tenham surgido em colégios da cidade.
"Estão circulando esses tipos de lista nas cidades próximas. Começou com ;os mais chatos; de Guaxupé. Depois disso, criaram os ;mais gays enrustidos; e, agora ;as mais putas;. Eu suponho que a lista tenha começado em algum colégio da cidade. Mas, a partir do momento que passa a circular no WhatsApp, perde-se o controle. Provável que se iniciou com uma lista bem menor, mas que as pessoas foram acrescentando. Após o conhecimento das meninas, as mães ficaram incomodadas e passaram a procurar a polícia," explicou Domingues.
As investigações para chegarem aos autores e colaboradores das listas, no entanto, ainda não foram iniciadas, pois, conforme o delegado, ;é preciso que, além do registro do boletim de ocorrência, as vítimas precisam ir à delegacia para assinar um termo de responsabilidade para a abertura do inquérito,; explicou.

Responsável por atender um grupo de mulheres citadas na lista das ;mais putas;, a advogada Taysa Crystina Justmiano contou ao em.com.br que o sentimento entre as vítimas é o mesmo: ;estão revoltadas, incomodadas e muito constrangidas,; disse Taysa.
Após as conversas que teve com as clientes, a advogada explicou que as mulheres acreditam que a lista é fruto de fofocas e foi feita para causar exposição e constrangimento a elas perante aos mais de 20 mil habitantes de Muzambinho.
;Meninas que são menores de idade, de famílias mais rígidas e tradicionais estão com os nomes nessas listas e como é uma cidade pequena, causa muita exposição. Eu tenho orientado bastante as meninas a registrarem os boletins de ocorrência porque isso se configura como injúria e difamação,; explicou.
Sobre as listas dos ;mais gays;, os nomes são de homens moradores de Guaxupé. A reportagem teve acesso ao material que vem sendo compartilhado, mas não há, ainda, nenhum registro de ocorrência denunciando o crime.

* Sob supervisão da subeditora Jociane Morais, do Estado de Minas.

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