Brasil

Índios venezuelanos buscam refúgio no Brasil, sem planos de inserção

Com o aumento da migração, a falta de planos gera incerteza aos indígenas

Agência France-Presse
postado em 15/03/2018 10:30
Indios venezuelanosPacaraima, Brasil - Centenas de indígenas venezuelanos migraram para o Brasil nos últimos anos, fugindo da fome e do abandono. Em abrigos improvisados, a situação melhorou para alguns, mas o aumento da migração e a falta de planos geram incertezas.

Na fronteiriça Pacaraima, a Casa de Passagem, com capacidade para 250 pessoas, serve de refúgio para uns 520 indígenas, a maioria do povo warao, originário do delta do Orinoco, no norte da Venezuela.

Ninguém tem números exatos, mas somando os que vivem ali e no abrigo de Pintolândia, bairro de Boa Vista, capital de Roraima, 3% da segunda maior etnia da Venezuela deixaram o país em três anos.

[SAIBAMAIS]Não são os únicos. Embora em menor número, algumas dezenas de indivíduos do povo e;ñapa, da região central do país, também começaram a chegar ao Brasil.

"Meus filhos choravam de fome, só conseguia dar comida a eles uma vez por dia, a gente se desespera. Por isso viemos, e aqui não temos muito, mas pelo menos sei que eles vão comer três vezes por dia", conta Euligio Báez, warao de 33 anos, que mora em Pintolândia com a mulher e cinco filhos.

O refúgio, onde funcionava antes uma escola, é limpo e organizado. O edifício com teto serve de cobertura para dezenas de redes e para a recém-construída cozinha comunitária.

Nos pátios, amplas tendas com instalações elétricas também servem de casa para as famílias classificadas por etnia. Os banheiros, externos, são recém-construídos.

Um pequeno consultório oferece, inclusive, cuidados odontológicos. Tuberculose e HIV são duas preocupações, por enquanto controladas, em uma população com altas taxas de prevalência.

Tanto o abrigo de Pintolândia, onde vivem quase 600 pessoas, como a Casa de Passagem se beneficiam do voluntariado da ONG Fraternidade - Federação Humanitária Internacional e de doações nacionais e internacionais.

Sandra Palomino, da coordenação do abrigo de Pintolândia, explica que, embora tenha sido bem sucedido o trabalho nos refúgios para estabilizar centenas de indígenas que moravam em condições precárias, "o grande desafio é o que fazemos a partir daqui".

A maioria junta dinheiro para mandar para suas famílias, graças à reciclagem e à venda de artesanatos.

Sem planos de inserção no mercado de trabalho ou formação, estão ausentes do projeto de transferência para outras cidades, promovido pelo governo brasileiro para lidar com o avanço da migração venezuelana.

Os abrigos, paliativos temporário, se tornam, assim, insuficientes diante da chegada contínua de novas famílias.

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