Cidades

Capital federal ocupa o quatro lugar no ranking nacional das cesarianas

;

postado em 04/05/2008 09:27
Parto normal ou cesariana? A dúvida que atormenta parte das grávidas se transformou em um problema de saúde pública. A banalização do procedimento cirúrgico coloca o Distrito Federal entre as quatro unidades da federação campeãs de cesáreas com índice acima da média nacional. De janeiro a novembro do ano passado, elas representaram 37,4% de todos os partos. Isso é duas vezes e meia a mais o que recomenda a Organização Mundial da Saúde (OSM), que fixa em 15% a tolerância máxima. Obstetra diz que o índice de cesariana é preocupante Médica explica quando parto cesariano é recomendado A situação não é diferente do resto do país. Dos cerca de 1,9 milhão de nascimentos ocorridos no ano passado, 31,6% foram cesarianos. O estado campeão foi o Mato Grosso do Sul, com mais de 40% dos casos (veja arte). E a tendência é de aumento. Para as autoridades públicas, trata-se de uma epidemia. O assunto é polêmico e envolve mudança de cultura e nas políticas públicas executadas no país. ;O que está acontecendo é a maior cassação de direitos que eu já vi. Antes do indivíduo ser cidadão, já lhe é cassado o direito de decidir quando nascer;, alertou a médica e professora da Escola de Saúde Pública da Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz), Maria do Carmo Leal, coordenadora de uma pesquisa sobre o tema, realizada no Rio de Janeiro. ;A cesariana é um procedimento que salva vidas. Muito bem indicada tem seu lugar como uma ação benéfica de saúde. Mas é um parto cirúrgico. Tem indicações específicas como qualquer cirurgia;, explica a diretora substituta de Ações Programáticas e Estratégicas ; departamento do Ministério da Saúde que cuida da Saúde da Mulher e da Criança, Lena Peres. Hipertensão Mães como a frentista Aglaice Aline da Silva, 27 anos, ilustram a situação da qual Maria do Carmo e Lena reclamam. Aglaice acredita que o médico é quem tem que decidir. ;Eles sabem o que é melhor. Estudam para isso;, justificou. Ela deixou a decisão das três cesáreas nas mãos do obstetra. As gestações vieram acompanhadas de aumento da pressão arterial. O médico disse para ela que é um dos casos para a cesariana. Mas a pesquisadora da Fiocruz diz que nem sempre a hipertensão impede o parto natural. A última gestação de Aglaice trouxe ao mundo Brian, em 21 de abril. A alegria veio com sofrimento, em conseqüência da cesariana. Houve complicações decorrentesda cirurgia. Uma hemorragia levou a frentista à anemia e, depois, à pneumonia. Mãe e filho estão internados no Hospital Regional da Asa Sul (Hras). A recuperação de todos os partos foi difícil. Mas nenhuma como esta. ;Após essa complicação, escolheria parto normal. Mas os médicos dizem que minha bacia não dá passagem;, lamentou. Com a estudante Vivian Rodrigues Almeida, 16 anos, foi bem diferente. Ela já sabia dos benefícios do parto natural e dos riscos da cesariana. Quando soube da gravidez, enfiou na cabeça que o bebê nasceria de parto normal. Tentou, mas a dilatação não passava dos cinco centímetros. Vitor nasceu em 12 de abril, após cirurgias. Vivian recebeu alta dia 16 e voltou ao hospital no dia 20, com infecção. Teve de fazer drenagem no local da e não tem previsão de alta. O Ministério da Saúde quer mais casos como o da dona-de-casa Elieide Tomaz dos Santos, 37. O médico deu todas as orientações sobre o melhor para ela e a criança. ;Ele falou que era melhor parto normal;, explicou. Segundo Elieide, quem disser que não dói é mentira. ;Mas, com certeza não é pior do que cesariana;, garantiu. Ela é mãe de duas meninas nascidas de parto normal. A segunda, Thaemelly, veio ao mundo a 0h20 de quinta-feira. Pesquisa O argumento de que são as mães que pedem cesariana, defendido por muitos profissionais, não encontrou respaldo em uma pesquisa da Escola de Saúde Pública (Ensp), da Fundação Oswaldo Cruz (Friocruz). O levantamento acabou de ser concluído e revela que 65% das mulheres entrevistadas queriam parto normal no início da gravidez. Entre as gestantes de primeira viagem, o índice é ainda maior: 80%. Os pesquisadores ouviram 430 mulheres em maternidades privadas do Rio de Janeiro e da Baixada Fluminense. O estudo revela ainda que, na hora do parto, apenas 30% querem normal. No final, só 10% concretizam o desejo. Mitos e fatos MITO ; Bebê muito grande, com peso superior a 4,5 kg, não nasce de parto normal FATO ; Nesse caso, vai depender do tamanho da mãe e da bacia MITO ; A mulher tem bacia estreita e por isso não pode ter parto normal FATO ; Isso tem relação direta com o tamanho do feto. Não existe um tamanho pré-fixado de bebê ou uma medida padrão para bacia estreita MITO ; O parto seco é mais dolorido FATO ; Na verdade o líquido amniótico não torna o parto mais ou menos dolorido. Quando a mulher tem o rompimento da bolsa muito antes do fim da gestação, ela e o feto precisam ser monitorados. O médico vai decidir qual é o melhor momento da interrupção da gravidez MITO ; O parto demorado coloca em risco a vida do bebê FATO ; Não existe parto demorado. Pode demorar uma hora ou três dias. O que coloca em risco a vida do feto é o período expulsivo (finalzinho do parto) demorado. MITO ; Cordão umbilical enrolado no pescoço é sinal de cesariana FATO ; Nesse caso só há indicação para cesariana quando o cordão umbilical dá duas voltas ou mais no pescoço do bebê. Se for apenas uma volta, é só a equipe médica monitorar o nascimento MITO ; Parto normal enlarguece a vagina FATO ; Só acontece quando o parto ocorre sem qualquer assistência médica MITO ; Bebê passou do tempo de nascer FATO ; A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que a gestação não seja superior a 41 semanas. Mas, alguns médicos aguardam até 42 semanas. O tipo de parto vai depender das condições clínicas da paciente e do bebê. Pode ser indução do parto natural ou cesárea MITO ; É possível prever a falta de dilatação meses antes do parto FATO ; É verdade que a dilatação pode não ocorrer, mas isso só pode ser avaliado durante o parto. Nesse caso, o bebê não tem a passagem e a cesariana é indicada Fonte: Lucila Nagata, ginecologista, obstetra e médica do setor de gestação de alto risco do Hospital Regional da Asa Sul.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação