Cidades

Atiradores de Planaltina prometem voltar

PMs patrulham as ruas da cidade e três equipes de investigadores caçam os autores do tiroteio do sábado, mas bandidos permanecem foragidos e ameaçam executar outros desafetos no Jardim Roriz

postado em 27/05/2008 09:05
O Jardim Roriz, em Planaltina, é uma comunidade em pânico. O boato que passa de boca em boca no bairro assolado pela violência juvenil, e tira o sono da população, é que os atiradores de sábado (24/05) prometeram voltar e executar quem faltou. A presença ostensiva de policias nas ruas é um alento, mas, ainda assim, as pessoas têm medo até de falar sobre o assunto. O silêncio marcou o enterro de Leandro Santos de Oliveira, 16 anos, um dos adolescentes mortos no tiroteio: outro garoto perdeu a vida e seis pessoas ficaram feridas. Além da dor e do medo de represálias, parentes e amigos de Leandro se calaram em protesto às insinuações feitas pela polícia de que as vítimas estariam envolvidas com atividades criminosas. Para os investigadores da 31ª Delegacia de Polícia (Planaltina), os jovens mortos e feridos tinham alguma ligação com os assassinos, já que os suspeitos teriam aberto fogo na direção do grupo que conversava na calçada. Um tipo de ocorrência muito comum no local durante a década de 1990, quando integrantes das gangues rivais Pombal (do Jardim Roriz) e Agreste (da Vila Buritis) aterrorizavam a região promovendo tiroteios. Cada morte era vingada e quem matava mais ganhava poder. ;Uma das hipóteses é mesmo a de disputa pela demarcação territorial para a prática de crimes e a venda de drogas;, contou o delegado Domingos Sávio Barreto, titular da 31ª DP. Nas conversas que correm pelas ruas, quem promete voltar para ;terminar o serviço; são os bandidos da Quadra 2 da Vila Buritis. Além dos policiais civis e militares que fazem freqüentes rondas pelo bairro, Barreto mantém três equipes nas ruas em busca dos atiradores, que ainda não foram identificados. O delegado afirma não ter suspeitos para o crime, mas investiga o envolvimento das vítimas em rixas com grupos rivais. ;Todos negam e dizem ainda que não conhecem os atiradores, mas alguns dos menores têm passagem pela polícia;, relatou o delegado, sem dar detalhes em respeito ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Tony Leocádio de Lima Costa, 19, único maior entre os feridos, foi indiciado no ano passado por porte ilegal de arma de fogo e tentativa de homicídio. Os dois menores que morreram não tinham antecedentes criminais. O Correio conversou com um dos sobreviventes dos mais de 20 tiros disparados pouco depois das 19h30 de sábado. O adolescente de 16 anos narra com calma o episódio. ;Eu descia a rua, vinha do bar do meu pai. Parei um pouco porque tinha um pessoal que tinha chegado de uma pescaria e mostrava os peixes;, contou. ;Daí já ouvi os tiros, a uns 150m de mim. Estava longe, mas nem deu tempo de correr;. Depois de sentir uma queimação, ele viu sangue pouco abaixo do ombro. Pulou para dentro de uma loja e esperou as coisas se acalmarem para ser levado a um hospital. Assim como os demais sobreviventes, o garoto recupera-se bem, em casa. Facções criminosas No ano passado, a Polícia Civil do DF identificou 75 gangues espalhadas por mais de 10 cidades. Os grupos reúnem adolescentes do Plano Piloto a Taguatinga, Ceilândia, Riacho Fundo e Gama e carregam nomes como Legião Unida pela Arte (LUA), Grafiteiros do Distrito Federal (GDF) e Grafiteiros Sem Lei (GSL). Quem participa dessas facções, muitas vezes, está envolvido em pichações, tráfico e uso de drogas. O Departamento de Atividades Especiais (Depate) da Polícia Civil elaborou a lista a partir de ocorrências registradas em delegacias, pichações em muros e monumentos, além de investigações na internet. Parte do material serviu para que, em agosto de 2007, a polícia realizasse a Operação Vândalos, que resultou em 58 mandados de busca e apreensão e na prisão de 33 jovens. Desde então, os grupos são periodicamente monitorados, inclusive em sites como o Orkut. A psicóloga Carla Dalbosco, autora de uma dissertação de mestrado sobre mortes violentas entre jovens do DF, concluída em agosto de 2006 na Universidade de Brasília (UnB), ressalta que se unir em grupos é uma característica comum da adolescência. Mas, por motivos banais, os jovens desvirtuam ;as galeras; e partem para situações de violência extrema e tráfico de drogas. ;A violência aparece como marca da masculinidade, de auto-afirmação. Muitas vezes, os jovens já vivem em situações vulneráveis e o padrão de relacionamento deles se manifesta por meio da violência;, explicou. Segundo a especialista, entre 1999 e 2001, 92% dos jovens mortos de forma violenta no DF eram do sexo masculino.

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