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Centro de Brasília tem motel a céu aberto

Estacionamento particular no Setor Hoteleiro Sul vira um motel a céu aberto todas as noites, há pelo menos um ano. Clientes dos hotéis da região reclamam das cenas de sexo que são obrigados a presenciar

postado em 22/06/2008 08:38 / atualizado em 22/09/2020 16:43

Em vez da bela vista para os monumentos de Brasília, como o Museu da República e a Ponte JK, a primeira imagem da cidade para quem vem de fora e se hospeda em alguns dos mais luxuosos hotéis da cidade é de sexo ao vivo e ao ar livre. Encravado no meio do Setor Hoteleiro Sul, um aparente inocente estacionamento privado, que oferece serviço de lavagem de carro durante o dia, transforma-se em um concorrido motel à noite. Mais precisamente a partir da 20 horas, quando os clientes, que usufruíram do local para deixar os veículos enquanto trabalhavam, são substituídos por pessoas ávidas por programas com as dezenas de prostitutas espalhadas pelas redondezas. Dependendo da posição dos quartos dos hotéis, é possível ver cada detalhe do que acontece dentro do estacionamento-motel. A mudança na ;destinação; do local ocorreu há pouco mais de um ano, quando as prostitutas ; muitas, fazendo ponto no Setor Comercial Sul ; foram convidadas por um funcionário do estacionamento, chamado por elas de ;gerente;, a trocarem os riscos das ruas pela segurança do privilegiado endereço na Quadra 2 do Setor Hoteleiro Sul. ;Foi um negócio bom para todo mundo;, diz uma das prostitutas ouvidas pelo Correio. ;Para nós, porque podemos fazer nosso trabalho sem sermos importunadas. Para o estacionamento, que ficava vazio à noite e, agora, tem movimento 24 horas por dia. E para os clientes, que, em vez de pagarem uma nota de motel, gastam apenas R$ 6 a mais, além do programa, para usufruírem do local;, acrescenta. A prostituta não está exagerando. Mesmo com o motel-estacionamento funcionando a todo vapor e apesar de vários clientes que freqüentam os hotéis da região já terem se queixado das cenas que são obrigados a presenciar caso se aventurem a abrir as cortinas das janelas dos quartos, nem a polícia nem a Administração Regional de Brasília tomaram qualquer providência. Sem o estorvo das autoridades e com a procura crescente pelo local, os donos da empresa que administra o estacionamento, a Park Wash, decidiram dobrar o valor do tíquete de entrada: de R$ 3 durante o dia para R$ 6, à noite. Isso, apesar de cada carro ficar, em média, 20 minutos no motel improvisado, tempo de um ;relax;, que, na linguagem das prostitutas, significa sexo rápido. Os clientes são de diferentes classes sociais e faixas etárias. Atos obscenos Algumas das principais reclamações contra o entra e sai de carros e as cenas de sexo no estacionamento-motel vêm de hóspedes do Hotel St. Paul, que fica bem de frente para o local. ;Duas senhoras que vieram se hospedar com a gente pediram para trocar de apartamento por causa do que viram à noite;, comenta a superintendente do estabelecimento, Flávia Mazzotti. E foi justamente de um quarto do St. Paul que o Correio checou as denúncias. Na noite da quinta-feira passada, em pouco mais de duas horas, cerca de 30 carros passaram pelo estacionamento. Foram flagradas cenas de sexo dentro e fora dos carros. Tudo com o consentimento dos funcionários da empresa do estacionamento. Três prostitutas que estiveram no estacionamento-motel contaram ao Correio que receberam R$ 40 por programa naquele noite. Ou seja, com o tíquete de entrada no local, a conta final dos clientes ficou em R$ 46. ;O lava a jato ; como elas denominam o local ; é tudo. Nos permite grande rotatividade;, conta uma das garotas de programa. ;Ninguém reclama da taxa extra para entrar no local, por causa da segurança;, acrescenta a outra. ;Está tudo correndo conforme o ;gerente; nos disse. Desde o lava a jato, nunca mais se falou em Parque da Cidade ou Setor de Autarquias Sul;, acrescentou a terceira mulher, que disse ter 33 anos, morar em Taguatinga, ter uma filha e um namorado por quem se apaixonou durante um programa sexual. ;Agora, chego a fazer 10 programas por noite ou até mais;, frisa. Dos carros que passaram pelo motel ; de todas as marcas, modelos e valor ; entre as 21 horas e as 23 horas de quinta-feira, o que mais demorou levou 20 minutos para sair. Parte dos freqüentadores optou por um pouco mais de discrição e estacionou os veículos debaixo de um ;puxadinho; coberto por um telhado de zinco. Ali, há apenas oito vagas. ;Ele (o gerente) disse que pretende cobrir todo o estacionamento para evitar que o pessoal dos hotéis veja a gente;, afirma uma das prostitutas. ;Realmente, esse tipo de coisa só acontece porque as autoridades não fazem nada. As pessoas que freqüentam esse estacionamento-motel deveriam se lembrar que há mulheres e crianças hospedadas na região. E qualquer uma delas pode dar de cara com atos obscenos, que deveriam ocorrer apenas entre quatro paredes ou em locais mais apropriados;, afirma uma hóspede do St. Paul, que pediu para ficar no anonimato. Para outro hóspede, ;mesmo que esse motel ao ar livre seja ;descoberto; pelas autoridades;, ele não acredita em punição. ;E, se o estacionamento for fechado, certamente seus donos e freqüentadores vão procurar outro lugar, provavelmente perto daqui;, completa.

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