Cidades

Revolta grave como o caso Galdino

Funai pede que a Polícia Federal assuma as investigações da morte de Jaiya Xavante. Para o diretor de Assistência da fundação, a violência se equipara ao assassinato do índio queimado vivo 11 anos atrás

postado em 27/06/2008 10:53

A cruel morte da índia Jaiya Xavante, de 16 anos, estuprada na noite dessa quarta-feira (25/06) na Casa de Apoio à Saúde Indígena do Distrito Federal, foi comparada pelo diretor de Assistência da Fundação Nacional do Índio (Funai), Aloysio Guapindaia, ao assassinato do índio Galdino Jesus dos Santos. Ele foi queimado vivo por um grupo de jovens em 20 de abril de 1997 quando dormia em uma parada de ônibus da W3 Sul, 24 horas depois de ter participado das comemorações do Dia do Índio. ;Foi uma violência terrível e chocante, tão grave quanto a morte do índio Galdino;, disse o diretor. Guapindaia só soube do caso no final da tarde, quando saía de uma audiência pública no Senado. O presidente da fundação, Márcio Meira, não se pronunciou sobre o crime.

A Funai solicitou à Polícia Federal (PF) que substitua a Polícia Civil de Brasília na investigação do crime por se tratar de uma indígena tutelada pelo governo federal. Entretanto, a PF não assume o caso, já que a instituição atua quando os direitos do povo indígena e sua cultura são atingidos. A corporação garante estar atenta ao crime, mas, por enquanto, não substitui a Polícia Civil.

O procurador-chefe da Funai, Antônio Salmeirão, foi designado ontem pela direção da instituição para acompanhar as investigações. Ele também não conhecia as circunstâncias do crime, um dia depois do fato. Segundo a nota da Funasa, a casa do índio, uma espécie de albergue que hospeda quem vem das aldeias para tratamento médico em Brasília, tem serviço de vigilância 24 horas por dia. Na noite do crime, ainda de acordo com o texto, havia 56 hóspedes no local, entre pacientes e acompanhantes. Lá, os índios recebem do governo medicamentos, atendimento da equipe de enfermagem, transporte e alimentação.

Além disso, a adolescente, que teve meningite, não falava e andava de cadeira de rodas, estava em tratamento médico no hospital Sarah Kubitschek, sob responsabilidade da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), autarquia do Ministério da Saúde responsável pela assistência médica aos indígenas do país. Quase um dia após o crime, a direção da Funai não tinha informações detalhadas sobre o estupro e a morte em decorrência da perfuração de órgãos internos. A assessoria de imprensa da instituição chegou a informar que o caso era de responsabilidade exclusiva da Funasa e não haveria qualquer pronunciamento sobre o crime.

Dores no abdome
Na tarde de de quinta, a direção da Funasa distribuiu nota informando que a equipe de enfermagem que teoricamente permanece 24 horas na casa do índio foi responsável pelo primeiro atendimento à índia, na madrugada de quarta (25/06), depois que a adolescente se queixou de dores no abdome. Medicada superficialmente, Jaiya dormiu. Pela manhã, voltou a se queixar de dores. A nota da Funasa afirma que a índia foi removida da casa do índio, que fica a pouco mais de 40 km de Brasília, para o Hospital Universitário de Brasília (HUB) às 8h. Mas o atendimento à adolescente só foi feito duas horas depois, na emergência pediátrica. Por volta do meio-dia e após duas paradas cardíacas, morreu de infecção generalizada.

Sem esclarecimento

A nota da instituição não explicou, no entanto, como um prédio público com serviço ininterrupto de enfermagem, vigilância e a presença dos parentes dos doentes se transformou em palco de um crime bárbaro. Tampouco esclareceu por que, dois dias depois, ninguém do governo sabia ao certo o que havia ocorrido com uma indígena que estava sob a guarda do Estado. A Funasa foi informada pela direção do HUB da suspeita de que a indígena teria sofrido violência sexual. Até o começo da noite de ontem, a Funasa não sabia a causa da morte da índia.

O ministro Paulo Vanucci, da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República, escalou o ouvidor Fermino Fechio para acompanhar o caso. Os advogados do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) preferiram aguardar mais detalhes sobre a morte da índia Jaiya para se manifestar.

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