Cidades

Brasilienses adotam bichos de estimação que fogem do convencional

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postado em 28/07/2008 08:06
Garrinhas e Fênix tomaram vermífugo e terão de ser mantidos em água aquecida para continuarem crescendo. Tutti faz um tratamento à base de homeopatia para se acalmar. Ter um animal diferente do convencional requer uma rotina de cuidados adaptados à espécie. Mas, segundo os donos, compensa pelo prazer de compartilhar a vida com um ser vindo da natureza. A dupla Garrinhas e Fênix pertence a Caetano Altafin Guadagnin, 9 anos. Popularmente eles são chamados de tartarugas. Mas a veterinária Laila Proença diz que o certo é chamá-los de cágados. ;As tartarugas são as de água salgada. Os cágados são os de água doce;, explica. Garrinhas e Fênix moram em um canto da sala de televisão da família de Caetano. A água quente é para metabolismo deles funcionar normalmente nos dias frios. Caetano queria um cachorro, mas a mãe, Iara Altafin, 48, o convenceu a ficar com os cágados. ;Ele sempre teve curiosidade por tartarugas, então foi fácil negociar;, conta a jornalista. Observador, Caetano descreve Garrinhas como tímida, enquanto Fênix é mais ativa. Na sexta-feira (25/07), os dois cágados de Caetano passaram pela primeira consulta no veterinário. O garoto ficou preocupado na hora em que os bichos foram submetidos aos exames físicos. Temia que sentissem dor. ;É bom que ele começa a entender minhas preocupações de mãe;, brinca Iara. A consulta foi no Mundo Silvestre, consultório veterinário exclusivo para animais silvestres e exóticos. Além de Garrinhas e Fênix, outros quatro pacientes estavam no local. O casal de jandaias Frida e Tutti, um cágado fêmea que estava se recuperando de uma cirurgia para retirada de ovos e um pombo que sofreu uma contusão. Na placa do Mundo Silvestre, em uma comercial da Asa Norte, está escrito: ;Não atendemos gatos e cachorros;. A dona da clínica, Laila Proença, decidiu pelo atendimento a pets ;diferenciados; porque Brasília tem poucos veterinários especializados em animais silvestres e exóticos. ;Eu recebia muitos pedidos de consultoria, então vi que a cidade precisava de um serviço assim;, completa Laila. O consultório está aberto há três meses. Cuidados A maioria dos problemas de saúde dos mascotes é causada pelo mau manejo. Os animais adoecem porque, muitas vezes, os donos não conhecem os cuidados específicos que as espécies requerem. A alimentação inadequada é um dos erros mais freqüentes. Laila explica, por exemplo, que manter papagaios à base de semente de girassol é causa quase certa de doenças hepáticas para o animal. ;Seria como um humano comer apenas batata frita.; Outro problema é o ambiente. Se não for adequado para a espécie pode até provocar problemas de saúde. Aves que vivem em espaços onde não há entretenimento suficiente costumam apresentar uma doença de comportamento que consiste em arrancar as penas do corpo com o próprio bico. Sorte têm as jandaias Tutti e Frida, que moram no apartamento da jornalista Andhrea Tavares, 42. Ela, o marido e o filho adaptaram o espaço para que as duas passem a vida fora da gaiola, interagindo com os donos. A família colocou telas nas janelas, estendeu barbantes de um lado a outro do teto e pendurou alguns ;brinquedinhos; como galhos de árvores, copos e pedaços de garrafas de plástico. ;Os profissionais chamam de enriquecimento ambiental. Quando optei pelas jandaias, também decidi dar o máximo de conforto a elas;, ressalta Andhrea Tavares. A medicação que Tutti toma é para deixá-lo mais calmo. De tão apegado a Andhrea, a ave vez ou outra bica o filho dela, Othávio, 9 anos. ;Estamos fazendo uma espécie de tratamento familiar. Além do remédio, incentivamos ações para que ele se acostume mais com o Othávio;, conta a jornalista. Uma dessas ações consiste no garoto oferecer cereais à ave. ;Tutti chegou há um ano. Ainda leva um tempo para todos se acostumarem;, relata Andhrea, que tinha uma jandaia colorida quando era adolescente. O homem e o pombo Um dos casos curiosos que estão em atendimento no Mundo Silvestre é o de um pombo. Animal de rua, ele não tem dono. Mas foi adotado pelo jornaleiro Wanderley Barros, 49. Dono de uma banca na 107 Sul, ele sempre observava o comportamento dos pombos que ficam nas redondezas. Sabia que aquele, apelidado de Joaquim, tinha papel importante no grupo pela maneira como distribuía os alimentos aos outros. Mas, há cerca de 20 dias, o jornaleiro percebeu que o antigo líder não conseguia mais se movimentar direito e que os companheiros estavam isolando-o. ;Ele estava tendo dificuldades até para comer;, conta. O jornaleiro, que não tem animal de estimação, buscou informações sobre um veterinário que cuidasse de pombos e chegou até Laila. De lá para cá, o pombo é levado ao consultório para ser alimentado e medicado todas as manhãs. A intenção do dono da banca não é ficar com Joaquim, mas recuperá-lo para que ele possa cuidar de si mesmo. ;Como brincávamos de vez em quando, achei que tinha responsabilidade com ele;, diz Wanderley. O medo do dono da banca de revistas era que o conhecido se transformasse em comida de cachorros ou gatos. Criação fiscalizada Transformar um bicho silvestre em doméstico desperta polêmicas. O Conselho Nacional do Meio-Ambiente (Conama) recomenda que a população evite a criação de animais que possam oferecer risco à saúde humana, à saúde animal ou ao equilíbrio das populações naturais. Para conter a caça e o comércio ilegal, a venda de animais silvestres criados em cativeiro é permitida, desde que os criadores sejam devidamente cadastrados e passem por fiscalização periódica. Tutti e Frida foram comprados de um criador legalizado e para serem identificados contam com anilhas. Os cágados não fazem parte da fauna brasileira e por isso não precisam de autorização do Ibama.

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