Cidades

Falta leite para crianças alérgicas

Secretaria não tem no estoque o alimento especial necessário aos pequenos pacientes. Sindicância vai apurar denúncias de desaparecimento de latas do produto e outros materiais, como acetona

Correio Braziliense
postado em 28/08/2008 08:59 / atualizado em 30/09/2021 14:04

Quatro tipos de leite fundamentais para a nutrição de milhares de crianças do Distrito Federal estão em falta há 30 dias na Secretaria de Saúde. Os produtos — hidrolisados ou livres de proteínas — são receitados para os casos de alergia alimentar, que atinge entre 5% e 7% dos pequenos brasilienses. Além disso, uma licitação em maio deste ano trocou a marca do leite receitado para os casos mais graves do distúrbio. O novo alimento, que deveria ter composição semelhante ao anterior, provocou uma série de reações alérgicas nas crianças, conforme registrado pela pediatria do Hospital de Base (HBDF). A nova gestão da secretaria, que assumiu na semana passada, prometeu resolver a falta e a troca indevida dos medicamentos em 10 dias. O secretário de Saúde, Augusto Carvalho, também acompanha o trabalho de sindicâncias abertas na semana passada para apurar uma série de denúncias de furto de medicamentos na rede pública de saúde. Somente em 2007, segundo o então chefe de Gestão Administrativa do órgão, Luiz Roberto Domingues, o prejuízo com o sumiço de remédios e materiais pode ter chegado a R$ 150 mil. Entre os itens desaparecidos, há 6 litros de acetona e 200 latas dos leites especiais (leia abaixo). Cada unidade do alimento usado para evitar a desnutrição em crianças com rejeição a alimentos chega a custar R$ 1 mil no mercado. A pequena Marina Santos Oliveira, 1 ano e 5 meses, tem sérias restrições na dieta. Com um raro caso de alergia alimentar, a menina pode comer apenas mandioca, batata e banana. O principal componente do cardápio dela é o leite com aminoácidos livres Neocate (não-alérgico), que repõe proteínas e carboidratos não obtidos por meio da alimentação regular. A mãe da criança, Rilane Santos, 34 anos, procurou a reportagem do Correio para denunciar o descaso na troca do produto fornecido gratuitamente pela Secretaria de Saúde do DF. “Uma lata, que dura dois dias, custa R$ 522 no mercado. O outro (Amino Med, de origem alemã) é mais barato, mas provoca reações alérgicas em algumas crianças, como a minha filha, que foi parar três vezes numa emergência de hospital”, explicou a servidora pública. Rilane lembra que, dos quatro aos sete meses de vida, apesar de mamar normalmente, Marina não ganhou peso — estacionou nos 4kg — e apresentou fortes diarréias e refluxo (vômitos). Levada ao pediatra, o especialista deu início ao tratamento com o leite sem proteínas Neocate, de origem inglesa. “Em um mês, minha filha ganhou 1,2 kg e não teve mais as dores horríveis ao defecar”, contou a mãe. O Neocate, assim como os demais leites especiais, é distribuído mediante indicação médica a famílias do DF que têm crianças com distúrbios alimentares. No setor de pediatria do HBDF, muitos meninos e meninas apresentaram problemas como vômitos e urticária com o leite que substituiu o produto inglês. Diante do quadro, o secretário de Saúde convocou pais e especialistas para uma reunião na última terça-feira. “Pedimos uma avaliação da composição do Amino Med e dos motivos da troca. Também providenciamos uma compra emergencial do Neocate e outros leites que estão faltando — Pregomin, Alfaré, Peptamem e Nutren Jr”, detalhou a diretora de assistência farmacêutica da secretaria, Maria Lúcia da Costa. Segundo o órgão, os produtos chegarão à farmácia até o fim da semana que vem. Ouça entrevista: com Rilane Santos, mãe de uma criança que precisa do leite especial Nutrição A alergia alimentar é a hipersensibilidade a determinadas substâncias da dieta, provocada pela produção de anticorpos contra, por exemplo, proteínas (presentes em carnes, leite e soja). Para suprir a demanda nutricional, os pacientes têm de consumir leites especiais, mais fáceis de digerir que o leite comum. Confira como cada um age no organismo das crianças: Leite comum — É formado por uma cadeia de aminoácidos que formam a proteína. Funciona como um colar de pérolas, onde cada pedra é um aminoácido e o colar, a proteína. Crianças com alergia não conseguem absorver a proteína inteira e, caso tomem esse leite, podem apresentar diarréias, fechamento de garganta e até choque anafilático, o que leva à morte se não houver socorro. Leite hirdrolisado protéico — O produto apresenta a proteína quebrada, em cadeias de cinco aminoácidos, facilitando a absorção dos nutrientes. Essa dieta costuma ser receitada para os casos mais brandos de alergia alimentar. A lata de leite hidrolisado custa, em média, R$ 130 no mercado. Leite não-alérgico — Nos casos mais graves, em que há a rejeição total a proteína, é necessário fazer uma dieta elementar, formada pelo leite com aminoácidos livres. O produto é composto apenas por aminoácidos (só as pérolas do colar). O preço da lata de leite não-alérgico pode chegar a R$ 1 mil no comércio.

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