Cidades

Galinho de Brasília ameaçado

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postado em 04/10/2008 09:04
A quatro meses do carnaval, o destino do bloco Galinho de Brasília ; um dos mais tradicionais da cidade ; ainda é incerto. Depois do conflito entre policiais militares e foliões durante o desfile de fevereiro deste ano, um grupo de moradores da Asa Sul promete recorrer até à Justiça para impedir que os participantes do bloco façam a concentração na entrequadra 203/204 Sul, em 2009. Já os dirigentes do bloco argumentam que a festa na quadra é tradição e não deve ser extinta.

No meio das discussões entre comunidade e foliões, o governo local atua como intermediário para encontrar uma solução: resolver o impasse e, principalmente, evitar um conflito como o do ano passado, que causou um grande desgaste à área de segurança do GDF.

Há 17 anos, o bloco Galinho de Brasília desfila ao som do frevo na Asa Sul. No ano passado, depois de reclamações por conta do barulho do bloco, o Galinho fez o encontro dos foliões na 203/204 e depois seguiu para o Gran Folia, espaço montado pelo governo na Esplanada dos Ministérios.

Operação Bope
Na segunda-feira de carnaval, cerca de 5 mil pessoas saíram da concentração em direção ao destino final do bloco. Mas 2 mil, entre elas muitos idosos e crianças, desistiram do percurso de 2km e permaneceram na entrequadra.

Por volta das 20h, policiais militares chegaram ao local para desobstruir a rua e liberar a quadra para a passagem dos carros. Mas parte dos foliões reagiu à chegada dos policiais. O Batalhão de Operações Especiais (Bope) foi chamado e usou bombas de efeito moral, gás lacrimogêneo, balas de borracha e spray de pimenta para controlar a multidão. Acuados, os foliões reagiram atirando latas de cerveja, copos e garrafas contra o batalhão. Dois dias depois da confusão, a Polícia Militar afastou três oficiais responsáveis pela operação no Galinho.

Morador da 203 Sul e integrante do Conselho Comunitário do bairro, o arquiteto Armando Ollaik, 72 anos, está à frente da batalha para tirar o bloco da entrequadra. Juntamente com outros moradores da região, ele tem feito reuniões com o governo para cobrar uma providência. ;Não somos contra o carnaval, só defendemos que o bloco faça a concentração em outro local, de preferência em uma área que não seja residencial;, explica Armando ;Os transtornos com a passagem do Galinho são grandes, há muito vandalismo, pessoas fazendo sexo na quadra, além do barulho. Vamos tentar negociar por meios administrativos e, se não conseguirmos, vamos recorrer à Justiça para evitar a concentração na quadra;, justifica Armando.

A diretoria do Galinho usa a tradição da festa como argumento para manter a concentração na 203/204 sul. ;O Galinho é o maior bloco de frevo fora do Recife, fazemos uma festa alegre, com crianças, jovens, adultos, muita gente fantasiada. É uma minoria da quadra que é contra o bloco, a maioria dos moradores inclusive participa da festa;, explica o diretor executivo do bloco, Franklin Maciel Torres

Tradição
Ele já participou da reunião com representantes da Secretaria de Cultura para defender que a concentração seja feita na Asa Sul. ;O bloco tem muita tradição, não é certo acabarem com uma festa com tanta história;, acrescenta Franklin.

No governo, a ordem é chegar a uma decisão consensual para que não haja contratempos durante o carnaval. O secretário-adjunto de Cultura, Beto Sales, disse que o destino do Galinho ainda está em discussão com a comunidade e os representantes do bloco. Mas adiantou que a saída deve ser criar meios para que as pessoas saiam da entrequadra logo após o fim da concentração.

;Temos várias maneiras de fazer isso, como coibir a presença de vendedores ambulantes no local. Assim, quando a concentração acabar, poucas pessoas ficarão na entrequadra e não haverá transtornos aos moradores;, explica Beto Sales. ;É absolutamente lastimável o que ocorreu no ano passado e em 2009 não haverá conflitos;, garante o secretário-adjunto de Cultura.
Repasse de verba diferente

O dinheiro para as 18 escolas de samba de Brasília será repassado diretamente às agremiações, no próximo carnaval, em vez de entregar os recursos à liga que representa as escolas. A alteração foi elogiada pelos organizadores e participantes do carnaval candango, que esperam fazer uma festa ainda maior em 2009.

No ano passado, o GDF repassou às escolas R$ 2,4 milhões, mas o dinheiro chegou atrasado, o que quase impediu o desfile dos grupos especial e de acesso. A Liga das Escolas de Samba teve que negociar um empréstimo com o Banco de Brasília (BRB) para que as fantasias e carros alegóricos ficassem prontos a tempo.

Este ano, o dinheiro deve ser liberado até o início de dezembro, para que a produção dos barracões seja concluída com antecedência. ;Até a semana que vem, vamos fechar o valor que será investido no carnaval do ano que vem. Ainda não há definições, mas não haverá cortes com relação aos repasses do ano passado. O objetivo é fazer com que o carnaval cresça;, explica o secretário-adjunto de Cultura, Beto Sales.

Para receber os recursos diretamente do governo, as escolas de samba tiveram que se profissionalizar para obter o CNPJ. ;Não conseguimos implantar o sistema do repasse direto no ano passado porque nem todas conseguiram deixar a documentação em dia. Mas agora já está tudo pronto para o novo sistema, que será bastante positivo para o carnaval;, explica o presidente da União das Escolas de Samba de Brasília, Frederico Augusto Pereira.

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