Cidades

Motoqueiro matador assombra moradores de Alexânia

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postado em 06/11/2008 08:15
;Eu e Fernando conversávamos perto da boate Sellins Dance, por volta das 23h50, quando escutei o barulho de uma moto. Parecia estar devagar. Continuei de costas para a rua, de frente ao meu afilhado, e ouvi o estampido. Achei que alguém tivesse jogado uma bomba em nós .Chamei Fernando para sairmos dali, mas ele não respondeu. Um homem vestido de preto, numa moto antiga, vermelha, apareceu de repente. Não deu para ver o rosto dele, pois estava de capacete. Ele me mandou sair da frente e deu mais dois tiros em Fernando, que havia desabado no chão. Em seguida, saiu calmamente em sua moto.; # Marilena Silva dos Santos, 38, moradora de Alexânia, cidade a 71km de Brasília Fernando Carlos Haidar de Moraes tinha 22 anos quando os três tiros o atingiram na cabeça, tórax e ombro, em 3 de maio deste ano. É impossível saber se ele chegou a reconhecer o assassino, mas 28 dias antes viu um amigo morrer praticamente da mesma maneira. Tony Abrante, 22, era balconista numa lanchonete na Praça da Juventude. Às 20h de sábado, 5 de abril, um homem de jaqueta preta de couro, numa motocicleta, entrou no estabelecimento e ordenou que todos saíssem. Aproximou-se e disparou duas vezes contra a cabeça do balconista. Com a morte de Fernando, os 30 mil moradores de Alexânia passaram a associar os dois assassinatos ao mesmo autor. A figura misteriosa, que anda de motocicleta e usa casaco de couro preto ganhou a imagem de um homem frio, que escolhe as vítimas entre pessoas com alguma mancha no passado. ;Todos os que morreram tinham envolvimento com crimes;, revela uma escrivã de polícia, que pediu para não se identificar. Bastou para o matador ganhar a alcunha de Justiceiro. A Polícia Civil abriu inquérito para apurar os homicídios. E não demorou para uma terceira morte ser adicionada ao rol do Justiceiro. A suspeita é de que Diego Ianicélio, 22, assassinado em 31 de março, tenha sido a primeira vítima. Diego foi baleado três vezes na cabeça e testemunhas afirmam terem visto uma moto deixando o local onde estava o corpo. Como Tony e Fernando, que tinham passagem pela polícia por suspeita de envolvimento com tráfico de drogas, Diego tinha registro por furto. ;Estamos investigando esse tal de Justiceiro. Mas não podemos dar mais detalhes para não atrapalhar as investigações;, limitou-se a revelar o delegado de Novo Gama, Fabiano Medeiros. Embora distante 60km de Alexânia, ele é o responsável pelas investigações na cidade, que não tem um delegado e ainda sofre com o insuficiente quadro de agentes (leia abaixo). Não chega a ser surpresa que as famílias das vítimas acusem a polícia de fazer pouco caso dos assassinatos em série. ;Saí do Recanto das Emas (DF) por causa da violência. E descobri que a violência está aqui;, lamenta o pai de # Fernando, Amadeo Moraes. Mais mortes Os crimes voltaram em julho. Testemunhas viram um motoqueiro de jaqueta de couro preta atirar em Adriano Ribeiro, 22, por volta das 2h30 do primeiro dia do mês. Em agosto foi a vez de Edmilson dos Santos, 33, que era condenado por tráfico de drogas e cumpria pena em regime semi-aberto. Quando voltava de bicicleta para casa, por volta das 6h, um motoqueiro emparelhou com ele e atirou. Menos de um mês depois, o matador desconhecido era responsabilizado pela morte de Marcelo Sousa e Silva, 34. Também detento do semi-aberto, Marcelo estava com a família num comício, mas decidiu voltar para casa sozinho. O corpo foi encontrado na mesma noite de 19 de setembro, com marcas de tiros disparados à queima-roupa. Como todos os outros, os tiros atingiram a cabeça. E assim como os demais, ele tinha passagem na polícia ; cumpria pena de seis anos por homicídio. Até aí seriam seis assassinatos entre março e setembro deste ano, número igual ao de todas as mortes violentas registradas na cidade em 2007 ; numa conta que inclui também acidentes de trânsito. Mas a cidade ainda inclui outros dois crimes na conta do motoqueiro ; pessoas de Alexânia, ligadas ao tráfico de drogas, mas cujos corpos foram encontrados em municípios próximos. Estrutura é precária para investigar os crimes Os crimes do justiceiro mais que dobraram os registros de mortes violentas na até então pacata Alexânia. Em 2007 foram apenas seis casos, que este ano já chegaram aos 14, justamente com o surgimento do matador em série. O justiceiro capturou a imaginação dos moradores e faz parte da rotina da cidade. No comércio, nas quadras residenciais e até na delegacia não se fala em outro assunto, que parece criar vida própria. ;Cada vítima que ele faz, deixa uma lista em cima dela, com nomes de pessoas que irão morrer;, disse o comerciante Antônio Luciano Silva, 39. ;Enquanto estiver matando bandido, está bom. Ruim será quando ele decidir matar gente inocente também;, emendou. ;Aqui poderia ter pelo menos uns seis justiceiros desses;, disse uma balconistas de lanchonete e restaurante, que preferiu não se identificar. Os parentes das vítimas, no entanto, reclamam da polícia. Com a fotografia de Fernando Carlos Haidar de Moraes nas mãos, o pai Amado Moraes, 51, diz que já encaminhou o caso até para o Ministério da Justiça, com esperança de alguma solução. Ele quer estampar a imagem do filho numa camiseta, para ser usada em protesto contra a violência na cidade. Com apenas cinco policiais e dois escrivães, as autoridades reconhecem as dificuldades ;apenas dois agentes se encarregam de dar prosseguimento aos 340 inquéritos policiais. ;Fica difícil trabalhar nessas condições. A população tem toda a razão de reclamar;, enfatiza uma escrivã, que pediu para não se identificar. ;Eu creio que deve ter testemunha, mas até agora ninguém se apresentou;, completa a servidora. (AF)

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