Cidades

Brasília é um sítio verde e exuberante

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postado em 26/11/2008 13:14
;Bucólica e urbana, lírica e funcional;, disse Lucio Costa sobre o projeto da nova capital. O seu traço urbanístico desenhou uma Brasília assim, aberta para o céu e a linha do horizonte. Amplas avenidas. Carros, muitos carros, mas muito verde e fartura. Principalmente nesta época do ano.;O brasiliense só passa fome se quiser.; A frase não é de um sociólogo ou de um urbanista. Quem a pronunciou foi um dos milhares de brasileiros que escolheu fazer da capital a sua casa. E nessa casa tem jaca, manga, abacate, acerola, pequi, limão... Tudo no pé. Algumas ao alcance das mãos. Bem ali, entre as amplas avenidas, os carros e o concreto da cidade moderna que cresceu. Quando o motoboy Ricardo Furtado, 29, afirma que em Brasília o cidadão não sofre com a fome, ele não está sendo extremista. [VIDEO1] Por todas as quadras do Plano Piloto, às margens dos eixos ; o central, e os eixinhos, as vias L2 Sul e Norte, passando pelo Eixo Monumental e a Esplanada ;, nos lagos Sul e Norte, em bairros, como Sudoeste, Cruzeiro, nos parques de todo o DF e localidades que contornam o avião de Lucio Costa, as árvores frutíferas traduzem essa imagem de fartura. A colheita É amoreira, é cajueiro, goiabeira, pés de jabuticabas, laranjeiras, até coqueiro tem. Os dados oficiais do governo local estimam que existam hoje no DF pelo menos 5 milhões de árvores, das quais 30% frutíferas. Quem consegue driblar o caos urbano e contemplar a paisagem verde da cidade, arranja tempo para desfrutar dela, como Ricardo, se esbalda com o que brota à sua frente. Ele trabalha na comercial da 314 Norte e no horário de almoço aproveita para colher frutas. Na entrada da quadra, ele deixa uma latinha no chão, sobe no pé de limão e pega só os que estão no ponto. A dois passos dali, ele consegue derrubar as mangas mais maduras. Vira para o lado e reflete se compensa levar uma jaca. Os abacates do outro lado da rua ainda estão novos demais. Daí, quando Ricardo decide diversificar ainda mais a colheita, desce até a 114 Norte e se farta com acerolas, cajus e pequis. Ele compartilha as frutas com os amigos no trabalho e a família, no Paranoá. ;Isso é o bom de Brasília. Quem não tem condições de comprar, consegue com facilidade levar pra casa frutas maravilhosas. Mas temos que pegar o que se vai comer. Porque senão a fonte esgota e não teremos o que comer amanhã;, ensina. Tem gente que, na correria do dia-a-dia, passa disparado por um pé de pitanga, por exemplo, e pega a frutinha sem nem sequer parar. Não há quem diga que se está na calçada do Eixinho Norte, em frente ao Hospital Regional da Asa Norte (Hran). A servidora pública Maria das Dores da Luz, 58, passou rápido, esticou a mão e pegou uma frutinha. ;Estou com muita pressa. Passo por aqui duas vezes por mês e sempre que elas estão vermelhinhas eu pego;, disse Maria das Dores. Meu bairro é um pomar O gari Rovério Dias Lima, 34, costuma pegar pequis pelas quadras que ajuda a limpar. Esta semana, ele estava embrenhado em uma árvore no descampado verde da 108/109 Norte. Ali, dois pés da fruta dominam sozinhos o gramado. ;Na semana passada, eu levei uns 20. Hoje, consegui apenas seis. Sempre que posso, venho aqui. Porque os que vendem por aí são muito sem gosto.; Ele repete o que o motoboy Ricardo disse: ;Aqui, ninguém passa fome. Fruta nessa cidade tem demais. Mas tem que pegar apenas quando estiver madura;. Do outro lado da cidade, o canteiro que divide o Sudoeste e o Cruzeiro é um pomar de jacas. ;Tem gente que vem de outras cidades do DF e sai daqui com o carro cheio;, contou o taxista José Rufino Filho, 71. Encarregado do ponto que fica no Terminal Rodoviário do Cruzeiro, desde 1982, ele ajudou a decorar a paisagem da avenida com fruteiras. As jaqueiras foram plantadas pelo GDF na década de 1980, mas, de um lado e de outro do ponto de táxi de José Rufino, seis mangueiras cresceram sob seu olhar. ;Em 1985, eu plantei elas para ter sombra e porque dá uma fruta que gosto;, comenta. Em outro lugar, no Eixo Monumental, em frente ao Palácio do Buriti, mais um pomar ; o das mangueiras. São tantas as árvores carregadas de frutas que o espaço se transforma em uma floresta de mangas maduras no meio do concreto. Elas estão ali desde o fim da década de 1960 e o principal objetivo do governo era alimentar os pássaros. Fartura ;O pé de manga faz parte da minha vida. Há 16 anos, cheguei do Piauí e lá não tem isso de comida no meio da rua. Aqui, tem dia em que não almoço e como só manga;, contou o almoxarife Reginaldo de Sousa, 35, que mora no Paranoá. ;É melhor do que plantar árvore que só dá folha. Vemos muitos mendigos que não têm nada para comer e com tantas frutas assim, eles podem sobreviver;, acredita um dos colegas de Reginaldo, o auxiliar de almoxarife e morador de Lago Azul (GO), Osiel da Silva, 35. Próximo aos colegas de trabalho, um gari aproveitou o horário de almoço para colher mangas. Mas, por incrível que pareça, ele não gosta da fruta. ;Pego as maduras para os meus quatro filhos. Eles ficam em casa esperando. Não daria para comprar porque meu salário só dá para as despesas básicas;, disse Antônio Pereira da Silva, 39. (IT)

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