Cidades

Emoção no encontro de Jeferson e Xuxa

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postado em 17/12/2008 08:20
Vaidosíssimo, ele fez luzes nos cabelos para se encontrar com a loira que vê na televisão. Para que ficassem com aspecto de molhado e espetado, passaram-lhe gel. Chegou ali, empurrado pela mãe, numa velha cadeira de rodas. Antes de o show começar, Jeferson foi recebido pela estrela maior, no camarim, onde a imprensa não teve acesso. Comovida, Xuxa lhe disse: ;Você é bonito de verdade;. Ele acreditou. Deu-lhe um livro, que acabou de escrever. Sua história, contada em reportagens publicadas no Correio Braziliense desde abril, foi lida no palco, por uma assistente da rainha dos baixinhos. Todos ali, domingo passado, no Ginásio Nilson Nelson, souberam que naquela platéia havia um menino de 13 anos que, sem mover braços e pernas em decorrência de uma doença congênita degenerativa, aprendeu a escrever com a boca. A platéia se comoveu. ;Vi gente chorando;, conta a mãe do menino, Cleide Figueiredo Ramos, 32 anos. No fim do encontro, Xuxa o beijou com ternura. E falou, com lágrimas nos olhos: ;Continue assim. Você é um exemplo de vida;. Ele tremeu. ;Caramba, meu coração foi a mil;, entrega Jeferson, ainda sem acreditar que não sonhou. Na verdade, a vida dele ; depois de tantas dificuldades, privações, preconceitos e terríveis prognósticos médicos ;, tem se transformado num sonho bom. Com a ajuda de quem acreditou na sua história (a Editora Thesaurus e o senador Cristovam Buarque se juntaram nisso), ele conseguiu publicar o livro Minha vida em rodas me faz capaz de voar e sonhar. Hoje, na Administração Regional de Planaltina, às 15h30, a obra será lançada. Na próxima segunda, às 19h30, será a vez do lançamento no Carpe Diem, na 104 Sul. O menino que mora numa casa humilde no Vale do Amanhecer, em Planaltina, filho de um pedreiro e uma dona-de-casa, três irmãos, eternizou sua história em 48 páginas escritas com calos na língua, emoção e uma tonelada de esperança. Levou seis anos para terminá-la. Contou com ajuda incansável da professora Crislei Maria de Morais, de 35 anos, a primeira pessoa, depois da família, que acreditou, apostou e lutou por ele. Um dia, o menino lhe pediu, como súplica: ;Me ensina a escrever, tia;. Ela tomou um susto, mas jurou a si mesma: ;A vida é feita de adaptações. Ele vai escrever, seja como for;. Não foi fácil, mas ele conseguiu. Na tarde de ontem, em meio aos livros recém-saídos da gráfica, o escritor-mirim admitiu: ;Minhas limitações nunca me impediram de fazer nada. Eu aprendi que podia sempre ir em frente;. Ele aprendeu muito mais. Aprendeu a acreditar em sonhos. E a torná-los reais. Pouca gente consegue transformar a vida, principalmente quando quase tudo seria impossível modificar. Jeferson, de fato, é espetacular. Conhecê-lo é como entender os mistérios de viver.

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