Cidades

A redenção de Alanis Morissette

A cantora canadense faz as pazes com o público brasiliense em show para público de cerca de 3,5 mil pessoas, segundo a organização, no Ginásio Nilson Nelson

postado em 24/01/2009 20:03
Quando lançou Jagged little pill em 1995, Alanis Morissette, que esteve em Brasília pela segunda vez na sexta à noite, no Ginásio Nilson Nelson, contava apenas 21 anos. O grunge, à época, chorava a morte de Kurt Cobain no anterior. O rock, porém, não vestia apenas blusas de flanela. Gwen Stefani à frente do No Doubt e Shirley Manson no recém-nascido Garbage atraíam os olhares para a sensualidade feminina no gênero, de batom vermelho e minissaia. Alanis não fazia o tipo de garota superpoderosa. Puxava a corda para o estereótipo de menina moleca. Também não engrossava o coro da menina que precisa ser macho no palco. Ficava bem no limiar entre a doçura e a braveza. A grande diferença entre Alanis e suas contemporâneas, no entanto, não era o visual despojado. Além de cantar com voz única e potente, a canadense, que naturalizou-se americana, demonstrava uma interessante habilidade com as palavras em Jagged little pill. Ironic, por exemplo, é a Faroeste caboclo (Legião Urbana) dela. Cerca de 3,7 mil pessoas, de acordo com a organização, estavam presentes no Nilson Nelson na sexta, público que encheu apenas a área vip, parte da arquibancada e deixou a pista vazia. Ao entoar a música de ponta a ponta, a platéia pequena soou gigante. Um coro como se o Ginásio estivesse lotado ; de reverencia, de retorno aos bons tempos da adolescência. "Tenho dois discos, o primeiro e o MTV Unplugged (1999)", disseram as irmãs Marcela Oliveira, 25, e Juliana Oliveira, 28. "Ela é autêntica, canta e faz o que quer no palco", elogiou Marcela, satisfeita com o show de cerca de uma hora e quarenta minutos. Sorte que as duas não estiveram na platéia do Brasília Music Festival, em 2003. Não foram afugentadas pelas más lembranças daquela apresentação ; som baixo, telões desligados por exigência da produtora dela, performance apagada. A Alanis que o público viu na sexta é outra. Empolgada, logo na segunda música, numa execução de arrepiar para Uninvited (do filme Cidade dos anjos), jogou-se ao chão em êxtase. Aos 34, está magra de novo, visivelmente feliz e com a voz afiadíssima. Cantou os sucessos que o público queria amparada por uma banda competente no equilíbrio entre novos arranjos (mais pesado para You oughta know) e outros no tom conhecido (You learn, Head over feet). Alanis relembrou até a esquecida Not the doctor, e repassou a carreira com pelo menos uma faixa de cada disco. Todas funcionaram, mesmo a meio drum;n;bass Moratorium, do trabalho mais recente, Flavors of entanglement (2008). Nem o excesso de lentinhas, junto com o momento acústico de banquinho e violão, tirou o ânimo para o final com Thank u no segundo bis. Alanis apagou a memória ruim do show de 2003, pena que de poucos que estavam ali.

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