Cidades

O charme irresistível da fogosa Capitu

Depois de dois anos jogando charme, a macaca fogosa do zoo de Brasília conquistou Luís e, agora, o disputa com sua filha, Hamuta

postado em 21/03/2009 20:54
Luís Pires (macaco menor) e Capitu: eles ficam o dia inteiro de chamego A danada chegou lá. De mansinho, de mansinho, jogando seu charme e a experiência de macaca vivida, ela fisgou o jovem macaquinho ; louco de amor e explodindo de prazer por todos os poros. Dá-lhe, menino! Na verdade, ele veio de São Paulo, em 2007, para copular com as filhinhas dela e, assim, garantir a perpetuação e manutenção da espécie. Essa era a explicação racional do Zoológico. Aquela que veterinários e biólogos imaginavam. Assim todos seriam felizes para sempre. À matriarca, perto dos 40 anos (ela nasceu em 1990 e para fazer uma comparação com a vida humana, dobra-se a idade), cansada de guerra, viúva do marido e do amante, caberia apenas o papel de vovó. Que simpático! Alguém imagina tal cena? Mas, como sempre, ela ; destemida, transgressora e petulante ; mudou complemente o rumo dessa história. No sábado de carnaval, botou pra quebrar. Depois de dois anos jogando charme e ralhando com o rapazinho pra que ele ficasse longe das suas menininhas indefesas, ela o pegou de jeito. E ensinou àquele macaquinho segredos que só ela seria capaz. Pimba! Ele, na flor da idade (com 18 anos), enlouqueceu. Na semana seguinte, todo esperto, com cara de conquistador, deu em cima da filha mais velha de Capitu, uma macaquinha bem jovem, por volta dos seus 18 aninhos. E pimba de novo! E agora, a confusão se instalou de vez na ilha daqueles babuínos. Luís Pires (nome que recebeu ainda no Zoo de Bauru (SP), onde vivia) está ;ficando; (que moderno isso) com a mãe e a filha. A mãe, a impagável e quase gente Capitu, não gostou muito de ter que dividi-lo com a filha. Vigia-o com olhos de lince. Na verdade, persegue-o. Hamuta, a filhinha, tem penado pra conseguir alguns momentos sozinha ; e em paz ; com Luís. Fernanda, a caçula (16 anos), só assiste à movimentação na ilha. Vê o corre-corre da mãe e da irmã. A briga das duas disputando a atenção do agora garanhão da ilha. O triângulo que ali se formou. Loguinho, loguinho, ela também não escapará de Luís. E houve quem um dia dissesse, depois dos muitos problemas de ordem emocional que enfrentou na vida, que Capitu já não era mais a mesma. Ledo engano. Ela é uma fênix. Depois das peraltices que protagonizou, da traição explícita, dos galhos que colocou no marido Otelo, das loucuras de amor que cometeu pelo amante Eliseu (como atravessar uma ilha a nado ao encontro dele, tendo em vista que macacos não são afoitos e temem água ; só Capitu conseguiu a proeza)%u2026 Quer mais? Da morte de ambos (o marido, em 2002; o amante, em 1998), da vida pacata de dona de casa e mãe em tempo integral que tentou levar por alguns anos, ela chutou o pau da barraca. Deu um basta na vidinha de reclusão e bons modos. A macaca mais famosa do país ; que revolucionou o Zoológico de Brasília em 1998, fez especialistas reverem suas teorias e conceitos e que o mundo inteiro conheceu sua história ; voltou à ativa. A babuína sagrada não brinca em serviço. Madura, disputa o amor de um jovem macaco. E ela não está nem aí para a rival ; a própria filha. Encara a situação com ares de superioridade. Afinal, ela pode. Experiência e talento tem para isso. Como gente No sábado de carnaval, o tratador Ésio Mendonça, de 45 anos, foi fazer seu habitual ofício matinal: levar comida à Capitu, suas filhinhas e Luís Pires. Ao chegar perto, de canoa, Ésio se deparou com a cena. E lá estava Luís envolto a Capitu. A cena, caro leitor, é aquele mesma que você está imaginando. As filhas, de longe, fingiam não ver o encontro. ;Mas Capitu não tava nem aí. Com ela, não tem mistério;, vibra o tratador. Ésio observou o amor dos dois. Como Luís é menor, teve que ficar na pontinha dos pés. ;Ficaram uns cinco minutos naquele negócio. Ela gritava de felicidade;, ele conta. E depois? O tratador sorri: ;Ah, depois que terminaram, ela ficou feliz demais. Os dois foram pegar banana, comeram, subiram na casinha, brincaram...; Pudera a felicidade de Capitu! Havia sete anos, desde a morte do pai de suas duas filhas, o marido traído, ela não vivia momentos como aquele. E, segundo Ésio, até o temperamento da macaca, que sempre foi esquentadinha e controladora (daquelas que nunca levou desaforo pra casa), mudou. ;Ela ficou mais calma, mais sossegada. Nem tem brigado mais com as filhas;, ele constata. E torce pela macaca, que, para ele, é gente: ;Nunca é tarde pra ;pessoa; ser feliz;. Pessoa? Sim, Capitu pode até ser macaca, mas se comporta igualzinha a gente. Aliás, qualquer semelhança com alguma história humana não terá sido mera coincidência. Voltemos ao zoológico. No dia seguinte, domingo de carnaval, por volta das 10h, o incansável Ésio foi levar novamente comida. E com quem ele se deparou? Com Luís Pires, cheio de amor para dar à filha de Capitu, Hamuta, a mais velha, inteiramente nos braços dele. ;Eles estavam meio escondidos. E a coisa foi mais demorada.; E Capitu? Vivida que é, deve ter pensado: ;Essa jovenzinha não vai me roubar esse macaco...;. E parece que não mesmo. Volta e meia Luís procura a fogosa. Na tarde de ontem, ele a abraçou, brincou com ela, correu atrás. Ora ela faz gênero, ora se deixa seduzir. Ora ralha, sai correndo, recusa. E o vigia sempre, principalmente quando ele se aproxima de Hamuta. Quando ela percebe que os dois estão juntos, faz-se presente. Passa por perto, se insinua. Provoca. Não dá colher de chá. Capitu é fogo! Gravidez Luís, depois de tanto amor, anda até mais responsável. Digamos mais sério. Mudou o comportamento. Antes, era mais moleque, vivia com brincadeiras e aprontando pela ilha. Agora, anda com ares compenetrado. A veterinária Clariana Gelinski, 28, coordenadora da curadoria dos mamíferos do zoológico, observa: ;Antes, era Capitu que ia na frente e os três, atrás. A situação tá mudando. Ele já começou a impor sua hierarquia. Quando fechar o clã (copular com as três) vai virar o macho dominante. Aí, o pedaço será dele ;. Com Capitu ali? É pra duvidar dessa hierarquia... E ainda tem um porém. Risco iminente. Apesar de estar entrando na idade da loba, Capitu ainda está fértil. Fertilíssima. Pode engravidar a qualquer momento. Ela e a filha. ;Luís poderá, ainda este ano, ser pai duas vezes;, alerta Raul Gonzalez, 54, diretor do Zoo, um dos que mais torcem pela felicidade da macaca. Se Hamuta engravidar, a danada da Capitu será vovozinha. Mas não pensem que fará tricô e cantará musiquinha de ninar para a netinha. Jamais. Ela vai querer é mais. Babuínos sagrados vivem até 24 anos (de 48 a 50 anos, na vida humana). Capitu só tem 19 aninhos (38 convertidos). Imagina o que ela ainda não vai aprontar. Há 11 anos, essa macaca que subverteu o reino animal vira matéria nas páginas deste jornal. Não seria pra menos. Não há, na literatura dos primatas, outra macaca que aprendeu a nadar para ir ao encontro do amante, traiu o marido de quem não gostava e, ainda assim, teve três filhos com ele. Ficou viúva, aquietou-se, criou sozinha as duas filhas, com zelo de mãe dedicada, e agora voltou à batalha. Essa é Capitu, a de verdade. No auge de sua maturidade, resolveu amar com fogo de adolescente. Capitu será sempre uma das minhas melhores histórias.
ROMANCE NA ILHA
Triângulo amoroso: Luís, Hamuta e Capitu sempre juntos A matriarca (E), no auge dos 38 anos, às vezes esnoba Luís Na flor da idade, o macaquinho corre atrás de Hamuta (D)

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