Cidades

Sexo com meninas por R$ 15 na Fercal

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postado em 31/03/2009 07:56
Nas mesas próximas são discutidos os pagamentos, que incluem maconha, cocaína, merla, haxixe, crack e dinheiroQuando a professora viu as três meninas chegando de cabelo molhado na sala de aula, às 16h de um dia normal de escola, não teve dúvidas. Iara*, de 13 anos, Jaqueline*, 12, e Antônia*, 13, precisavam de conselhos. As amigas foram atraídas pela fama de um lugar no coração da Fercal que, além de crianças e adolescentes, reúne homens de Sobradinho, Planaltina e de 12 comunidades da região. Lá, a exploração sexual infantil ocorre em plena luz do dia, na curva do Córrego da Sucuri, com direito a trilha sonora, cerveja e os mais variados tipos de droga. Aos 15 anos, Rafaela* conhece bem a realidade que deixa lotado o pequeno ribeirão de água gelada até nas tardes de dias úteis. O procedimento é sempre o mesmo. As meninas entram na água de roupas íntimas e deixam as camisetas, saias e calças espalhadas pela margem. De vez em quando, uma delas sai da água para se mostrar aos adultos ou jovens que vão até lá. É quase como se fosse uma escolha de mercadoria. A aproximação se dá ali mesmo no córrego e as relações sexuais ocorrem atrás de moitas, pedras ou dentro da água. Na imensa maioria das vezes, sem nenhum tipo de proteção. O pagamento é negociado a cada abordagem, a partir do que o explorador tem para oferecer. Quem tem droga paga com maconha, cocaína, crack, merla e até haxixe. A última delas é a mais valiosa e garante maior poder ao explorador. Já o crack não é aceito por todas. ;O crack acaba com a gente. Eu não vou por ele;, afirma Rafaela. Quem não tem, dá dinheiro. E não é necessário muito. Uma transa pode sair por menos de R$ 15. Garotas entram na águia com roupas íntimas. De vez em quando, saem às margens para exibir aos clientes;Durante três anos eu fui ao córrego todos os dias em vez de ir para a aula;, conta a garota. Nesse período, dos 12 aos 15 anos, ela perdeu os três anos letivos. Todos por falta. A adolescente também perdeu um bebê. Com 13 anos, teve a gravidez interrompida aos seis meses quando foi empurrada no chão em uma briga. Três dias antes de conversar com a reportagem do Correio, a rotina de Rafaela foi descoberta pelo irmão mais velho e levada ao conhecimento dos pais. Desde então, ela tenta se manter longe de lá, mas admite que está difícil. O apelo das drogas e das amigas fala alto. ;É ;de boa;. Não tem nada demais e a gente se diverte;, comenta Paula, 17. ;Pior é ir ao posto. Lá, sim, é ;esparrado;;, diz, referindo-se à gíria usada para designar um lugar muito frequentado por gente conhecida. Paula sabe o que diz. Há dez dias, ela foi vista saindo da boleia de um caminhão carregado de cimento, das fábricas da região, pela tia. ;Ela tinha ido comprar pão e me viu. Foi difícil disfarçar;, comenta. As duas admitem que existem riscos na atividade, principalmente longe dali. ;Quando os caras chamam a gente para ir ao Plano ou para Planaltina, eu não vou. Se acontece alguma coisa lá ninguém fica sabendo;, diz Paula.
Fio de cabelo Quando as primas Rita*, 14, e Luiza*, 17, chegaram ao Córrego do Sucuri, o som do bar tocava a todo o volume o clássico sertanejo Fio de Cabelo na voz de Chitãozinho e Xororó. As duas riram e foram direto para a água. Foram necessários menos de 10 minutos para que um carro estacionasse ao lado da curva do córrego. Dois amigos de 22 anos desceram do automóvel com uma garrafa de vodca e um pacote pequeno, fechado com um nó. Dentro, havia cocaína. ;Dei uma fugida do trabalho e vim aqui curtir e relaxar a cabeça;, disse um deles. ;A gente não força nada. Elas só fazem o que querem, que é curtir também.; Naquele dia, Luiza fez sexo após consumir uma grande quantidade de vodca e voltou para casa apenas depois que o cheiro do álcool foi embora. A Secretaria de Desenvolvimento Social e Transferência de Renda foi procurada para comentar os problemas ligados à juventude na região da Fercal, principalmente a exploração sexual de meninas. A secretária Eliana Pedrosa admitiu que a região inspira cuidados. ;Lá, temos o problema do grande fluxo de caminhoneiros. Nossas equipes estão com atenção redobrada;, afirmou. ;Vamos pelo menos uma vez por semana lá. Não é a frequência ideal, mas isso irá mudar com a conclusão do concurso para assistentes sociais em abril.; De acordo com Eliana Pedrosa, quem atende as principais denúncias é o Centro de Referência Especializado em Assistência Social (Creas) de Sobradinho. ;Não é uma apuração e combate simples porque quem pratica a exploração sexual de crianças e adolescentes não conta isso abertamente e as meninas e meninos também se recolhem e não se abrem para os problemas;, completa. Escola precisou ser transferida Na comunidade de Queima Lençol, a poucos quilômetros da Fercal, a exploração ocorria na porta de um centro de ensino fundamental, às margens da DF-150, até o ano passado. ;Os caminhoneiros não conseguem carregar os veículos no dia em que chegam e dormem nas boleias;, diz um professor. ;As meninas que esperavam o início da aula ficavam sujeitas à exploração.; O problema, denunciado por professores, foi somado às queixas de poluição do ar e resultou na transferência da escola, por exigência do Ministério Público do DF. Desde 9 de fevereiro, os 454 estudantes estudam em Sobradinho II. A transferência desagradou à comunidade, formada, em sua maioria, por funcionários da fábrica de cimento. O medo de que a escola não volte a funcionar ali fez com que se criasse uma lei do silêncio. ;Não posso falar porque meu pai não quer;, disse uma menina de 14 anos. ;Só sei que acontecia perto da pedreira;, diz a garota. (EK) O que diz a lei A exploração sexual implica a utilização de crianças e adolescentes com fins comerciais e lucrativos. Quase sempre existe um aliciador, pessoa que lucra intermediando a relação entre a criança ou o adolescente e o usuário ou cliente. É caracterizada também pela produção de materiais pornográficos ; vídeos, fotografias, filmes, sites. O Estatuto da Criança e do Adolescente tem artigos que protegem meninos e meninas de crimes sexuais. A Lei 8069/90 prevê no Art. 244 uma pena de quatro a dez anos de reclusão e multa para quem submeter criança ou adolescente à exploração sexual. Incorrem nas mesmas penas o proprietário, o gerente ou o responsável pelo local em que se verifique a submissão de criança ou adolescente às práticas sexuais. Vale ressaltar também que relação sexual com pessoa menor de 14 anos é tida como violência presumida, ou seja, segundo a lei brasileira, estupro. Pelo art. 224 do Código Penal, menores de 14 anos não têm maturidade suficiente para consentir uma relação sexual.

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