Cidades

Preconceito reina nas salas de aula

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postado em 08/05/2009 08:06
Os alunos da rede pública foram reprovados nas lições de tolerância. O preconceito é generalizado em salas de aula das escolas desde a 5ª série do ensino fundamental até o terceiro ano do ensino médio. A discriminação existe contra homossexuais, alunos com dinheiro, quem têm tatuagem, os mais fortes e até contra negros. As pessoas mais rejeitadas, no entanto, são as que têm qualquer relação com a violência, de acordo com a publicação Revelando tramas, descobrindo segredos: violência e convivência nas escolas, da Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana (Ritla) e da Secretaria de Educação. Quando perguntados sobre que pessoas não seria interessante dividir a sala de aula, quase 60% dos estudantes apontaram usuários de drogas. Já os mais temidos pelos professores foram os que fazem parte de gangues, com 44% das respostas. ;A galera que usa droga é barra pesada e se mete com gente perigosa. Eu tenho medo demais;, comenta Tadeu, de 17 anos, do Colégio Elefante Branco, da Asa Sul. Quando o Correio esteve na escola dele, as principais resistências apontadas pelos alunos foram contra estudantes que já estiveram presos, principalmente os que estão em liberdade assistida definida pela Vara da Infância e da Juventude. Apesar de ser um direito estabelecido no Estatuto da Criança e Adolescência (ECA), a medida não é vista com bons olhos pelos alunos. ;Tem uns que estudam numa escola aqui perto e matam aula para roubar a gente;, reclama Clarissa, de 14 anos. ;Ano passado, levaram meu celular, meu cartão do Fácil (de acesso ao transporte coletivo) e até minha mochila com todos os livros dentro;, acrescenta. Embora seja condenável, o preconceito contra ex-internos ou jovens envolvidos em casos de violência não chocou tanto os especialistas quanto as demais respostas. ;O preconceito não é mais racial. É muito maior. É social mesmo;, observa o professor Célio da Cunha, da Universidade de Brasília (UnB). ;É fundamental uma mudança de pensamento, de mentalidade. Até porque as diferenças formam a base da democracia;, completa. Fora do ;padrão; Qualquer um que não se encaixa no padrão estipulado pela juventude do lugar sofre na pele o problema. Entre os que não são bem vindos na sala de aula, os alunos destacaram, por exemplo, pessoas com HIV/Aids. Quase 20% dos estudantes não os querem como colegas. Número próximo aos que não gostariam de se relacionar com fanáticos religiosos. Manuela, estudante de 16 anos do Guará, faz escova e chapinha no cabelo para deixá-lo o mais liso possível. ;Quando o cabelo é ruim, o pessoal fala e dá a maior confusão. Já vi meninas batendo umas nas outras por causa disso;, comenta. A socióloga da Ritla Miriam Abramovay, responsável pela pesquisa sobre violência feita com mais de 10 mil alunos e 1,5 mil professores, destaca que a maior incidência de intolerância nas redações escritas pelos estudantes e grupos focais tinha como vítimas os homossexuais. Em um questionário a professora escreveu: ;É realmente muito chato conviver com homossexual que faz escândalo. Aí o erro não é de quem o está discriminando. O erro parte dele mesmo;. De acordo com Atílio Mazzoleni, chefe da Assessoria de Promoção da Cidadania da Secretaria de Educação, no fim deste mês o governo vai inaugurar um curso de 640 horas para quase 700 docentes na rede. ;Nele, vamos trabalhar fortemente o combate à discriminação. Afinal, ela é uma das indutoras da violência;, explica. Futuro Professores e alunos têm pensamentos antagônicos quando em pauta está o futuro da meninada. Os adolescentes apostam no sucesso. Querem mais do que alcançaram os pais e nem cogitam a possibilidade de abandonar a sala de aula antes da hora para trabalhar. Os professores são menos otimistas. De acordo com o levantamento da Ritla e da Secretaria de Educação, a maioria deles não vê futuro nos bancos das escolas e das faculdades para os próprios alunos. ;É uma realidade triste e preocupante, porque a escola é a responsável por moldar os nossos jovens e fazê-los querer alcançar mais;, provoca Célio da Cunha, um dos maiores especialistas em educação do país e professor da UnB. A diferença de perspectiva não é pequena. Nada menos que 63,5% dos professores falam que os estudantes vão deixar de estudar para trabalhar. O percentual é 12 vezes maior que o dos alunos: 5,3%. Ainda mais preocupante é o abismo que existe entre os que acreditam que os jovens conseguirão um bom posto no mercado de trabalho. Isso passa pela cabeça de 72,8% dos adolescentes estudantes da rede pública e, em apenas, 14,9% dos docentes (veja quadro). ;Os alunos acreditam neles próprios. A visão dos professores é muito diferente;, avalia Miriam Abramovay.

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