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Taguatinga: com personalidade própria

Tudo começou com uma fazenda, onde uma ave de rapina inspirou o nome da cidade que mais cresceu em torno de Brasília, mas que já existia antes da inauguração da capital: hoje, ela completa 51 anos

postado em 05/06/2009 08:00
Taguatinga cresce sem perder a essência. Tem agitação de cidade de grande, enfrenta problemas nada interioranos, mas não perde o espírito acolhedor. E é assim, acolhedora e ousada, que a cidade completa 51 anos. Cada vez mais com vida própria, cada vez menos dependente do Plano Piloto. Fundada em 5 de junho de 1958, Taguatinga pertenceu inicialmente ao município goiano de Luziânia. O nome, em referência a uma ave de rapina, é o mesmo de uma fazenda que existia na região. Foi ao redor dela que surgiram as primeiras casas. Em 1970, o então governador do Distrito Federal, Hélio Prates da Silveira, a reconheceu como sendo do DF. A Praça do Relógio é um dos pontos mais tradicionaisDesde então, a cidade não parou de crescer. Recebeu milhares de migrantes, a maioria nordestinos, e hoje é ocupada por cerca de 300 mil habitantes. Aos poucos, encontrou meios próprios de desenvolvimento. Manteve o comércio aquecido, atraiu investimentos e consolidou-se como um bom lugar para viver. Se há pouco tempo os moradores eram obrigados a encarar os 21km de distância até Brasília para trabalhar, agora é fácil encontrar gente que faz o caminho inverso. ;Isso aqui cresceu demais, moço! Os prédios subiram do nada. Águas Claras? Ali era só barro;, comenta Gabriel Carneiro, 15 anos, da geração nascida e criada em Taguatinga. Águas Claras é a vizinha mais próxima. Surgiu como consequência do crescimento de Taguatinga. Gabriel não vai muito por lá. Nem ao Plano Piloto, onde moram familiares. ;Fico por aqui;, diz ele. ;E gosto, é bom demais;, completa. ;Aqui tem shopping (são três grandes) e muita mulher bonita;, ajuda o colega Matheus Carvalho, também de 15 anos. O taxista André Bezerra é de outra geração. Nasceu em Ceilândia, mas cresceu entre as praças do Relógio, do DI e do Bicalho. Aos 30 anos, já viu muita transformação. ;Tenho muitos colegas da minha idade que estão no mundo do crime porque não teve trabalho pra eles aqui;, associa. Bezerra entendeu: o avanço foi inevitável, e é bom que tenha sido assim. Porém, trouxe consigo uma série de desafios. ;A cidade cresceu, cresceu e os problemas cresceram junto;, desenvolve a cearense Nilza Canuto, 55 anos, 33 deles na cidade. ;Falta estacionamento, os bares ocuparam as calçadas, você não vê polícia na rua%u2026;, enumera ela, em tom de reclamação. Nilza criou três filhos em Taguatinga. E os criaria de novo no mesmo lugar. É pelo bem da cidade que ela se preocupa com o futuro. A moradora da QNA e dona de uma banca de revistas na célebre Avenida Comercial Norte reivindica porque espera não precisar sair de onde está. Ela sentiria muita falta da rotina protagonizada pelos taguatinguenses de nascença ou de coração. Movimento Sheila dos Santos é outra que só sai de Taguatinga se for arrastada. Grávida de cinco meses, aos 22 anos, planeja ver a criança crescer na cidade onde também viu os anos se passarem. A jovem trabalha em uma banca de roupas na Feira dos Goianos, um conglomerado de galpões onde se vende de tudo. ;Sem isso aqui, Taguatinga ficaria sem graça. O povo gosta é de muvuca, de multidão;, garante. A futura dentista Paula Mariane Sampaio, 18 anos, é natural de Tucumã, no Pará, e há um ano foi acolhida em Taguatinga. Mudou-se para estudar (são 30 faculdades particulares) e nem sentiu muito o impacto. ;Aqui é tipo cidade do interior. Você tem muito contato pessoa a pessoa;, comenta a jovem, que faz uma única ressalva: ;Pra se divertir, tem que ir pro Plano;. Paula Mariane gosta de viver ali, mas sente falta de mais diversãoOs barzinhos são quase as únicas opções noturnas de lazer da juventude. ;Aqui tem tudo, mas não tem boate;, protesta Gabriela Vilmondes, 17, outra estudante de odontologia. ;Se quiser sair, não tem jeito: ou vai pro Plano ou então resolve ficar em casa;, endossa a colega de curso Flávia Bomtempo, 17. Na volta da balada, taguatinguense que é taguatinguense para em uma das sete barraquinhas na entrada da cidade. ;O pessoal vem curar a ressaca aqui;, conta um dos vendedores de cachorro-quente e sanduíches feitos na chapa. Os quiosques, aliás, vão ser transferidos para o outro lado da rua, às margens do Pistão Norte, até o mês que vem. Moradores próximos do lugar reclamaram da movimentação e conseguiram a transferência. O administrador da cidade, Gilvando Galdino, taguatinguense, 42 anos, no cargo há três meses, atenta para o crescimento econômico de Taguatinga, a segunda região administrativa do DF em arrecadação de impostos. ;Foi um desenvolvimento natural, sem ninguém forçar. A cidade prosperou sozinha;, analisa, antes de reconhecer o que considera o principal desafio: ;Agora, não podemos perder esse ar de cidade-satélite;. A comerciante Suzete de Souza Pessoa, 41, pensa da mesma forma. Ela lembra com saudosismo de brincadeiras do tempo em que era adolescente. ;A gente brincava era na rua. Hoje as pessoas não têm mais tempo para isso, trabalham muito;, constata. O desejo dela é que, apesar da falta de tempo, Taguatinga não se esqueça da própria essência.
Programação da festa As festividades do 51º aniversário de Taguatinga durarão todo o mês de junho. A programação completa está no site . Outras informações pelo telefone (61) 3451-2542. Confira os destaques deste fim de semana: HOJE 8h ; Qualidade de Vida em Ação, na Praça do Relógio 9h ; Juramento à bandeira, no estacionamento da administração 10h ; XV Copa Master de Futsal, no Ginásio Serejinho 10h30 ; Sessão solene da Câmara Legislativa, no auditório da administração 12h ; Parabéns e corte do bolo de 51m, na administração AMANHÃ 9h ; Inauguração do Taguaparque 10h30 ; III Circuito Cross Parques, no Taguaparque 20h ; Festival de Queijos e Vinhos, no Lions Club de Taguatinga Sul DOMINGO 9h ; Desfile cívico, estudantil e militar, na Avenida Comercial Norte Concurso de quadrilhas De hoje a domingo, a partir das 21h, na Praça do Bicalho Festa Junina De hoje a domingo, a partir das 21h, na Vila Dimas Circuito de Motocross Sábado e domingo, às 11h, no Taguaparque

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