Cidades

Adolescentes se envolvem com prostituição e mortes

Filhas de mulheres goianas que estão na Europa vivem de programas sexuais. Meninos se envolvem em roubos e até assassinatos

Renato Alves
postado em 28/06/2009 08:13
[SAIBAMAIS]Enquanto filhos dos anapolinos no exterior roubam, as filhas se prostituem para manter o vício das drogas. Aos 13 anos, Patrícia, por exemplo, acabou flagrada em um motel de Anápolis por comissários de menores e policiais rodoviários federais. O resgate da menina ocorreu em maio do ano passado, durante blitz rotineira. Ela estava na cama com o pai de uma colega de escola, um homem casado, de 40 anos. A mãe de Patrícia estava na Espanha, onde vivia da prostituição desde 2007. Quando acabou flagrada e apreendida, Patrícia já era uma profissional do sexo experiente. Tanto que havia montado uma pequena rede de prostituição. Ela aliciou três colegas de escola após apresentar as meninas da mesma idade à cocaína. Viciadas, as garotas passaram a vender o corpo a adultos, moradores de Anápolis. A maioria dos programas ocorria nos motéis à beira da BR-060 (Brasília;Goiânia). Todo o dinheiro arrecadado ia parar no bolso de Patrícia. Em troca, as meninas prostitutas ganhavam mais cocaína, aumentavam o vício e a necessidade de transar com mais homens por dinheiro. Patrícia, sozinha, tinha 40 clientes fixos. Todos com mais de 18 anos. Ela teve a primeira relação sexual paga aos 12 anos, em uma festa na cidade. Mas com a droga teve contato muito mais cedo, aos 6 anos. Ela ia aos pontos de venda comprar cocaína para a mãe, que já se prostituía(1) para manter a filha e o vício. Ao decidir deixar Anápolis e o país com o discurso de dar melhor condição à menina, a mulher deixou a filha com a avó. A sexagenária senhora teve um infarto no dia em que a polícia bateu à sua porta para informar sobre o flagrante da neta no motel com o pai de uma amiga. As confissões de Patrícia estão em um vídeo gravado pelo juiz da Vara da Infância e da Juventude de Anápolis, Carlos José Limongi Sterse. ;Mostro o vídeo em palestras para tentar sensibilizar a sociedade sobre o problema do abandono dessas crianças;, explica o magistrado. Patrícia contou sua história durante uma audiência, quando acabou punida com seis meses de internação. Assim que soube do destino da filha, a mãe desembarcou em Anápolis. Disse ter vindo para ficar. Não só por causa da menina. Alegou não ter ganhado o dinheiro esperado na Europa. Por todo o tempo que lá morou, não enviou dinheiro à filha. O pai dela, que se estabeleceu em Portugal, é quem mandava uma mesada. Preocupado, pediu a guarda da filha. O juiz concedeu. No entanto, os educadores desconfiam que a menina não tenha mudado de vida em Portugal. A suspeita é levantada por meio das fotografias e recados sensuais deixados na página pessoal da garota no site de relacionamentos Orkut. Saudade do pai Washington espera estar em liberdade quando o pai retornar ao Brasil e à Anápolis. Faz planos de viagens pelo Brasil com o ex-policial militar. Sente falta das conversas e de ver jogos de futebol juntos. O homem de 59 anos mora em Portugal desde 2002. Aos 17 anos, o filho está internado pela segunda vez no centro para adolescente infratores da principal cidade industrial(2) do Centro-Oeste brasileiro. O garoto e um vizinho mataram um desafeto com 11 tiros, há três anos. Adulto, o outro acabou no presídio. Policiais apreenderam o adolescente dias após o crime. Ele ainda conseguiu fugir durante a audiência em que recebeu a punição de dois anos e meio de internação. Acabou recapturado há dois meses. Agora, Washington diz estar disposto a cumprir o período de internação determinado pelo juiz. ;É só eu ter bom comportamento para ganhar a semiliberdade em um ano;, aposta. Fora das ruas, o garoto se apega à fé. Traz o nome de Jesus tatuado em um dos braços e costuma ler livros religiosos na cela dividida com outros três garotos. ;Pode escrever aí: quando sair, vou à igreja aqui perto todos os domingos. Tô cansado dessa vida;, afirma. Também pretende arrumar emprego para ajudar a mãe. Doméstica, ela cria sozinha os quatro filhos. ;Meu pai manda dinheiro para nós. Mas ele é garçom, não sobra muita coisa, e minha mãe ganha pouco;, observa o interno. Nos últimos sete anos, Washignton nunca viu o pai. Ambos se falaram poucas vezes ao telefone. O adolescente acredita na promessa de que logo se reencontrarão. Mas, o pai nunca diz quando. Nem fala em levar a família à Europa. ;O que aconteceu comigo (ser detido) é culpa minha. Meu pai não tem nada a ver com isso. Mas sinto sim muita falta dele. Era meu melhor amigo;, comenta o garoto, tentando esconder as lágrimas dos parceiros de cela. 1- PERFIL Mulheres de 18 a 26 anos, solteiras, com ensino fundamental e, no mínimo, com um filho. Esse é o perfil das vítimas do tráfico de seres humanos que deixam Goiás e vão ser escravas da prostituição no exterior, segundo estudo do Ministério Público Federal de Goiás 2- FORÇA ECONÔMICA Com 330 mil habitantes, a terceira maior população de Goiás, Anápolis tem diversificada indústria farmacêutica, forte presença atacadista de secos e molhados. A cidade está no centro da região mais desenvolvida do Centro-Oeste brasileiro, o eixo Goiânia-Anápolis-Brasília. Os nomes dos infratores e seus familiares foram trocados em respeito ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)

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