Cidades

Retrato masculino da Aids no DF preocupa

No DF, para cada três homens, há uma mulher infectada pela doença. A média nacional está bem próxima de um para um

postado em 19/07/2009 08:03

A Aids (1)na capital do país está mais masculina. Enquanto a média nacional de mulheres infectadas com o vírus da imunodeficiência humana (HIV) se aproxima cada vez mais do número de contágios masculinos, no DF, a proporção está se distanciando (veja o quadro). A diferença ainda está muito longe dos índices observados no início da doença na década de 80, quando ela era conhecida por atingir apenas homossexuais e usuários de drogas injetáveis. Mas chama a atenção por ir contra a tendência da epidemia no país.

Entre janeiro deste ano e o fim do mês passado, foram registrados 57 [SAIBAMAIS]homens e 20 mulheres com Aids no DF. (2)Ou seja, dos 77 soropositivos identificados, 25,9% são notificações femininas ; uma média de uma brasiliense para cada três homens. Apesar da baixa amostragem, o percentual não é muito diferente do encontrado pela Secretaria de Saúde em 2007 e 2008, com 28,8% e 28,9%, respectivamente. Em 2007, foram notificados como infectados pelo HIV 175 homens e 71 mulheres e, no ano passado, foram 176 contra 72.

;No DF, a relação nunca foi menor que uma mulher para cada dois homens, diferentemente dos dados nacionais, mas não sabemos ainda explicar o motivo;, avalia a gerente de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST/Aids) da Secretaria de Saúde, Leonor de Lannoy Tavares. ;Já existiu o fenômeno de feminização da Aids aqui e temos muitos casos ainda para investigar antes de fechar as notificações;, completa.

Há vinte anos, a cada caso de mulher com Aids, havia 10 homens infectados. Foi nessa época que Claudinei Alves Pereira, de 38 anos, contraiu a doença. Ele morava em Sobradinho e tinha apenas 19 anos quando compartilhou a seringa com o companheiro dele que estava com Aids. ;Naquela época já se falava muito em Aids entre gays e eu era neurótico com o uso de camisinhas. Sempre usei preservativo com meu namorado;, afirma. ;Naquele dia, ao usar drogas com ele, peguei Aids. A gente descobriu meses depois.; Claudinei vive com o vírus há quase 20 anos. E não aparenta estar doente.

Essa é outra característica da Aids hoje. ;Não dá para saber quem tem a doença pela cara e também não se morre mais como antes;, observa o policial civil aposentado Gilson Gomes de Souza, de 42 anos. Ele também tem Aids há quase duas décadas. Pegou num relacionamento com a então namorada no fim da década de 80. Hoje, casado com uma portadora da doença que conheceu num grupo de convivência de portadores do vírus da Aids, ele tenta levar uma vida normal e se preocupa com o futuro da doença. ;As pessoas não podem relaxar;, avalia. ;A vida de uma pessoa com HIV não é fácil. São muitos remédios e vários deles podem ter efeitos colaterais. Além disso, o preconceito é grande, principalmente no mercado de trabalho.;

Desigualdade

No Brasil, desde 2000, a relação é de uma notificação masculina para 1,5 feminina. E, no ano passado caiu para 1 por 1,4. ;Estamos quase equilibrados nos novos contágios;, explica Eduardo Barbosa, diretor-adjunto do Departamento de DST/Aids do Ministério da Saúde. Segundo Barbosa, alguns fatores que contribuem para a vulnerabilidade das mulheres à Aids são: desigualdade nas relações de poder; maior dificuldade de negociação quanto ao uso de preservativo, violência doméstica e sexual, discriminação e preconceito relacionados à raça, etnia e orientação sexual e falta de percepção das mulheres sobre o risco de se infectar pelo HIV.

Preocupados com o fenômeno de feminização da Aids, o governo federal está com uma campanha de prevenção da doença entre mulheres com mais de 50 anos. ;É difícil mudar os hábitos de pessoas nessa faixa etária;, avalia Eduardo Barbosa.
http://www.correiobraziliense.com.br/page/215/podcast.shtml
Por causa das características peculiares da infeção no DF, a campanha não foi usada pela Secretaria de Saúde aqui na capital. ;Estamos com o número de infeções entre esse público constante no DF desde 1996. Não é exatamente baixo, mas se manteve e, por isso, não fazia sentido repetir a campanha;, explica Ricardo Azevedo, chefe de Núcleo de Controle de Aids da Gerência de DST/Aids da Secretaria de Saúde.


1 - SINAIS
A síndrome da imunodeficiência adquirida (Aids) é a manifestação clínica de sinais, sintomas ou resultados laboratoriais que indiquem deficiência imunológica da infeção pelo vírus HIV que leva, em média, oito anos após o contágio para se manifestar.


2 - INCIDÊNCIA
Desde a identificação do primeiro caso de Aids no DF, em 1985, 6.072 pessoas já foram notificadas com a doença. Delas, 4.343 são homens. A incidência de Aids tem-se mantido no período de 2002 a 2006 em torno dos 18 casos por 100.000 habitantes.

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