Cidades

GHB substitui ecstasy em festas

postado em 27/07/2009 08:33
A pista de dança estava lotada e várias pessoas se divertiam com apenas garrafa de água nas mãos. Bruno*, de 23 anos, entrou na boate e se surpreendeu com a prática saudável de todos na festa realizada numa boate na Asa Sul. Menos de duas horas depois, foi apresentado à droga que começa a ganhar espaço em raves e festas gays de Brasília: o GHB. ;Estava todo mundo no maior astral, mas a maioria estava só com garrafas de água e refris. A cena não combinava;, relata, referindo-se a uma balada que frequentou há 10 dias.

O GHB ; gamma-hidroxibutirato ; pega carona no ecstasy e ganha adeptos entre os baladeiros do Distrito Federal. No Rio de Janeiro e em São Paulo, já faz parte da rotina das festas movidas a música eletrônica há, pelo menos, dois anos. Nos Estados Unidos, em quase uma década de uso da substância como entorpecente, acumula casos de coma e até de mortes.

De acordo com Bruno, não foram necessários 30 minutos para que aquela água com gosto levemente salgado começasse a fazer efeito. ;Me senti como se tivesse usado ecstasy mesmo, muito solto e confiante;, contou. Esse é um dos principais efeitos da droga, que aumenta a libido e deixa o usuário chapado. Não à toa, o apelido do GHB é ecstasy líquido.

;Uma das características dessa droga é que ela não é usada por uma pessoa que está sozinha. Não tem graça para o usuário;, explica a professora Eloísa Caldas, de ciências farmacêuticas da Universidade de Brasília (UnB). A sensação de relativa leveza durou menos de uma hora e Bruno começou a sentir náuseas e a vomitar muito. ;Não sei se foi porque eu tinha bebido antes ou se ela faz mal mesmo, mas não uso mais;, ressaltou.

Efeitos colaterais

O resultado do consumo da droga por parte de Bruno não é raro entre usuários do GHB. Até agora, os efeitos colaterais conhecidos são: hipertermia, vômito, taquicardia e depressão. As consequências do consumo da droga estão associadas, muitas vezes, ao fato de ser difícil medir a quantidade de substância ingerida. Em pó ou líquida, sempre diluída na bebida, a droga passa despercebida. Ela é transparente e inodora. Apenas o gosto é levemente salgado. A dose usada, normalmente, equivale a uma tampa de refrigerante. O problema é que não se conhece o limite entre a dose prazerosa e a tóxica e, como ela é produzida em laboratório, pode ser mais ou menos concentrada.

;A síntese dela é muito fácil no laboratório e se liga ao ecstasy unicamente porque tem efeitos parecidos, porque os ingredientes combinados para formar a droga são completamente diferentes;, explica Eloísa. De acordo com a professora, o GHB é, na verdade, uma substância endógena, ou seja, produzida pelo nosso corpo em uma concentração pequena. ;A função dela no organismo é auxiliar os neurotransmissores.;

Como ainda é nova na noite de Brasília, até mesmo os usuários mais frequentes da droga tomam certos cuidados. ;Nunca misturei com álcool porque já me disseram que o risco de levar à overdose é maior;, afirma Raul, de 27 anos. Ele já usou GHB três vezes. ;Comprei na balada mesmo;, disse.

A venda do GHB em Brasília ainda é discreta. Até o momento, a Coordenação de Repressão às Drogas (Cord) da Polícia Civil do DF ainda não registrou nenhuma apreensão da droga. ;Já ouvimos falar do ecstasy líquido, mas o uso (da droga) ocorre em eventos específicos e ainda não conseguimos encontrá-la;, explica João Emílio Ferreira de Oliveira, coordenador do Cord. ;Temos notícia de que em São Paulo e no Rio de Janeiro ela é bem mais usada;, completa.

Depressão

Droga moderna e feita em laboratório, o ecstasy causa o bloqueio da reabsorção da serotonina, dopamina e noradrenalina no cérebro, causando euforia, sensação de bem-estar e alterações da percepção sensorial. Após o uso, causa depressão e estuda-se o perigo de desenvolvimento de doenças psicóticas pelo uso contínuo.

Alterações

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), droga é toda substância que, quando administrada ou consumida por um ser vivo, modifica uma ou mais de suas funções, com exceção daquelas substâncias necessárias para a manutenção da saúde normal.


Já ouvimos falar do escatsy líquido, mas o uso (da droga) ocorre em eventos específicos e ainda não conseguimos encontrá-la
João Emílio de Oliveira, delegado brasiliense



O número
R$ 50
É o preço médio de uma dose de GHB na noite brasiliense


Combinação perigosa

A Secretaria Nacional Antidrogas (Senad), do governo federal, foi buscar nos Estados Unidos informações sobre a GHB. Segundo o National Institute on Drug Abuse (NIDA) ; Instituto Nacional de Abuso de Drogas ;, a substância é predominantemente depressora do sistema nervoso central, assim como o rohypnol. Foi o instituto que descobriu que a droga pode causar colapso respiratório, levando a um estado comatoso que requer hospitalização. Esses casos podem ocorrer mais frequentemente quando o GHB é tomado junto com bebidas alcoólicas, o que causa coma e insuficiência respiratória.

Durante quase 15 anos, o GHB foi vendido legalmente nos Estados Unidos. Ele surgiu no início da década de 1990, quando se buscava conseguir uma substância similar, capaz de atravessar a barreira hemato-encefálica, ou seja, a membrana que protege o cérebro. O GHB funcionaria como agente anestésico, porém, devido aos seus efeitos colaterais (contrações musculares involuntárias e delírio), foi abandonado. Posteriormente, foi usado como estimulador do crescimento muscular, efeito que não foi comprovado cientificamente. Por causar diminuição do nível de consciência, depressão respiratória e convulsões, foi banido pelo FDA, órgão norte-americano de controle de alimentos e drogas. (EK)

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