Cidades

Bancada evangélica se mobiliza para eleições de 2010

Líderes políticos montam um comitê para discutir eventuais alianças com os pré-candidatos ao Palácio do Buriti

Ana Maria Campos
postado em 12/08/2009 09:39
Eles são líderes religiosos, com habilidade e capacidade para convencimento e conversão. Falam para uma multidão de pessoas que procuram uma palavra de conforto. São depositários da fé de 500 mil eleitores em potencial. Cientes dessa força, representantes do segmento evangélico querem crescer no cenário político: pretendem eleger um vice-governador ou um senador em 2010. Com essa disposição, pastores, bispos e parlamentares montaram uma frente religiosa que está sendo intitulada de Comitê de Participação Política (CPP).

O grupo se reuniu ontem com o governador José Roberto Arruda (DEM) num café da manhã. Foi o primeiro encontro com Arruda, que deverá disputar a reeleição. Um segundo encontro está marcado para 17 de setembro. O governador deverá debater propostas para um segundo mandato e ainda discutir formas de participação dos evangélicos numa eventual nova gestão. Antes dele, em 10 de setembro, o ex-ministro do Esporte Agnelo Queiroz, pré-candidato do PT ao Palácio do Buriti, também fará uma apresentação ao comitê de evangélicos. ;Vamos discutir propostas sobre como e com quem queremos governar;, explica o petista. O ex-governador Joaquim Roriz (PMDB) marcou sua visita para 24 de setembro.

Partido
Uma das metas iniciais do grupo evangélico era a criação de um partido político que os representasse, o PSR (Partido Socialista Republicano). Mas é possível que eles não considerem conveniente fundar uma legenda neste instante, sem garantia de tempo de televisão e recursos do Fundo Partidário na campanha de 2010. Essas dúvidas ainda serão dirimidas em consulta feita ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Eles já trabalham, independentemente de siglas, juntos em torno de interesses comuns. ;Temos nomes para lançar a um cargo majoritário;, afirma o deputado distrital Benedito Domingos (PP). ;Não estamos vendendo o nosso voto, mas temos nomes que podem compor qualquer chapa, como vice ou senador;, acrescenta o distrital Bispo Renato (PR).

A frente surge, no entanto, com um embate interno a ser resolvido. Dois integrantes pleiteiam a candidatura ao Senado: o deputado federal Robson Rodovalho e o distrital Júnior Brunelli, ambos do DEM. Os dois, inclusive, já sinalizaram claramente a possibilidade de mudar de partido, caso o projeto que desenvolverão em 2010 seja incompatível com o partido. Rodovalho disse que nunca mistura sua liderança na Igreja Sara Nossa Terra com a atividade política. Mas deixa claro que a fé influencia o eleitorado. ;O evangélico só vota em quem tem DNA evangélico;, aposta. Fiel da Sara Nossa Terra, o presidente da Câmara Legislativa, Leonardo Prudente (DEM), garante que não vai debater com Agnelo e Roriz porque já tem preferência por Arruda. Mas vai acompanhar as demais reuniões.

Quem vai participar
O Comitê de Participação Política (CPP) reúne representantes de diversas correntes evangélicas. Estão presentes líderes da Igreja Universal do Reino de Deus, Sara Nossa Terra e Assembleia de Deus que somam 500 mil fiéis. São formadores de opinião entre os seguidores da religião que têm uma fé extrema em seus pastores e bispos. O grupo político demonstra que pode fechar uma aliança com qualquer uma das frentes políticas que estão se formando para disputar as eleições de 2010. Por isso, todos os pré-candidatos serão convidados a apresentar propostas. Confira alguns dos principais representantes do comitê:

Robson Rodovalho
Está no primeiro mandato como deputado federal. Foi secretário do Trabalho até recentemente, quando deixou o governo para trabalhar no fortalecimento do comitê. É bispo da Igreja Sara Nossa Terra. Já foi filiado ao PSC e pretende concorrer no próximo ano a uma vaga majoritária, como senador ou vice.

Benedito Domingos
É o presidente regional do PP. Foi deputado federal, tesoureiro nacional do partido e vice-governador do Distrito Federal. Concorreu ao GDF em 2002, mas ficou em terceiro lugar. É deputado distrital e deve concorrer à reeleição. Ex-administrador regional de Taguatinga, pertence à Igreja Assembleia de Deus.

Bispo Renato
Suplente de deputado distrital, assumiu o mandato com a licença do deputado Aguinaldo de Jesus (PRB), também integrante do segmento evangélico, atual secretário de Esportes. O distrital será candidato novamente a uma vaga na Câmara Legislativa. É bispo da Igreja Episcopal.

Júnior Brunelli
Filiado ao DEM, já foi do PP. É filho do missionário Doriel de Oliveira, líder da Igreja Casa da Bênção. Está no segundo mandato como deputado distrital. Na Câmara Legislativa, é o corregedor. Pretende concorrer a uma das vagas de senador, mesmo que precise mudar de partido.

Leonardo Prudente
Presidente da Câmara Legislativa, o distrital será candidato à reeleição. Filiado ao DEM, ele já integrou o PMDB. É empresário do ramo de prestação de serviços na área de segurança pública. Está no terceiro mandato na Câmara Legislativa. Pertence à Igreja Sara Nossa Terra.

Ricardo Quirino
Suplente da coligação encabeçada em 2006 pelo PFL, Quirino integra a Igreja Universal do Reino de Deus. Ele entrou na campanha na última hora quando um colega da igreja, o então deputado Pastor Jorge, desistiu de concorrer. Pretende disputar uma vaga de deputado distrital ou de federal, caso consiga apoio para uma campanha ao Congresso.

Crescimento no DF
No Distrito Federal, os evangélicos elegeram em 2006 uma bancada considerável. Quatro dos 24 deputados distritais e um federal numa bancada de oito parlamentares, além de vários suplentes. Esses religiosos mostraram que têm força para buscar mais espaço nas próximas eleições. As estatísticas os colocam numa situação privilegiada: segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), coletados no censo do ano 2000, 20% da população na capital do país é evangélica. Esse número já pode ter dobrado no próximo ano. Em 1990, eram apenas 10%.

Por conta do crescimento, a religião conseguiu até um feriado que a homenageia, em 30 de novembro. A lei de 1995 é de autoria do ex-deputado distrital Carlos Xavier, que representava o segmento, mas teve o mandato cassado em 2005, sob a acusação de ser o mandante do assassinato de um jovem de 16 anos. Xavier sempre negou a acusação. A força dos evangélicos fica clara nos períodos eleitorais. Todos os candidatos majoritários participam de cultos nas mais diversas igrejas. Todos estiveram na Casa da Bênção e na Sara Nossa Terra, por exemplo, em 2006.

Segundo o deputado Robson Rodovalho, o sonho dos fiéis é ambicioso. Eles querem eleger um presidente da República. O grupo pode ter uma representante na sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Representante da bancada evangélica no Congresso, a ex-ministra do Meio Ambiente e senadora Marina Silva (PT-AC) está sendo sondada para concorrer ao Palácio do Planalto pelo PV. Em 2002, o segmento apoiou em peso a candidatura do ex-governador do Rio de Janeiro Anthony Garotinho, então no PSB.

No Congresso, a frente evangélica conta com 43 deputados na Câmara.

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