Cidades

Superquadras, do espaço democrático para o exclusivo

Helena Mader
postado em 13/09/2009 08:16
Prédios de seis pavimentos erguidos sobre pilotis e cercados por cinturões verdes. O modelo de superquadra criado por Lucio Costa se transformou em sinônimo de qualidade de vida. O "chão livre" - como definiu o próprio urbanista - acessível a todos trouxe consigo uma nova maneira de viver, própria de Brasília. As superquadras resumem a cidade e traduzem o seu espírito. Mas, quase meio século depois da inauguração da capital, esse conceito de morar ganha novos significados com o lançamento de empreendimentos imobiliários que em muito diferem dos croquis do Plano Piloto traçados por Lucio Costa. A violência urbana e a insegurança da população valorizaram negócios com perfis bem específicos. São condomínios fechados, com serviços de lazer, como piscinas, quadras de esportes e espaços de gastronomia. O "chão livre" do urbanista perde cada vez mais espaço para prédios de acesso restrito e controlado. O metro quadrado de um apartamento protegido por cercas e guaritas pode alcançar R$ 7 mil. Neste fenômeno de migração da classe média para condomínios, um detalhe chama atenção. Muitos dos novos edifícios vizinhos ao Plano Piloto recorrem ao conceito de Lucio Costa para atrair a clientela. O termo superquadra se desvencilhou dos cinturões verdes e dos pilotis para dar nome também a esses empreendimentos que se destacam pela segurança das grades e cercas. Um desses exemplos é o bairro chamado Superquadra Brasília, próximo ao Guará e às margens da Estrada Parque Taguatinga (EPTG). O condomínio ganhou até sigla parecida com os endereços do Plano Piloto: SQB. Apesar de totalmente cercada, a Superquadra Brasília tem 15 prédios de seis andares e cada um usa pilotis para resgatar o ideal do Plano Piloto. Mas as semelhanças param por aí. As guaritas e cercas-vivas que controlam o vaivém de pessoas são as principais diferenças entre a chamada SQB e as tradicionais superquadras de Brasília. O servidor público Jorge Giácomo Sanchez, 34 anos, mora no condomínio Superquadra Brasília há três. Em frente ao apartamento da família, Jorge, a mulher e os filhos têm à disposição uma infinidade de opções de lazer. Giulia, 11 meses, e Yuri, 9, brincam com a babá nas áreas comuns. O servidor público pode usar a academia do prédio ou o chamado espaço gourmet para receber os amigos. Mas o grande diferencial que fez Jorge Giácomo optar pelo novo modelo de superquadra foi a garantia de segurança. "É uma liberdade muito grande saber que meus filhos estão seguros enquanto passeiam embaixo do bloco", conta. Não são só as áreas residenciais dos novos condomínios que se distanciam do modelo das superquadras do Plano Piloto. No projeto de Lucio Costa, a cada duas quadras residenciais há uma área comercial, com lojas de produtos e serviços. O fluxo de pessoas é concentrado em frente ao edifício, para resguardar a parte dos fundos - voltada para os prédios residenciais. Na novata Superquadra Brasília, o condomínio fechado foi planejado para ser vizinho de um shopping com lanchonetes, restaurantes, bancos, padarias e outras opções de comércio. Além de atender a população do novo empreendimento, o centro comercial recebe um grande número de clientes do Guará e de Vicente Pires. Vendas aquecidas Dentro do modelo de condomínio fechado, outro lançamento se destaca por também usar o termo cunhado por Lucio Costa. O Living Superquadra Park Sul será um empreendimento com 14 edifícios de nove andares cada um às margens da Estrada Parque Indústria e Abastecimento (Epia) e ao lado do ParkShopping. As obras estão em andamento e 90% das unidades foram vendidas em menos de cinco meses. O empreendimento fica fora da área tombada, mas ao lado da Asa Sul, de shoppings e da estação de metrô. A sigla para identificar o condomínio também se assemelha às coordenadas das asas Sul e Norte: SQPS. O empresário Rodrigo Nogueira - sócio da JC Gontijo, responsável pelos empreendimentos Superquadra Park Sul e Superquadra Brasília -,conta que a demanda por condomínios fechados e seguros está muito grande em Brasília. "A semelhança entre esses empreendimentos e as quadras do Plano Piloto não fica apenas no nome. Eles também traduzem o conceito original da superquadra de Lucio Costa", argumenta Rodrigo. "Mas, por conta da violência, esse conceito evoluiu e hoje as pessoas preferem nossas superquadras com guaritas, muros e cercas elétricas", acrescenta.

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