Cidades

Equipe médica examina moradores de Araras (GO) afetados pela doença xeroderma pigmentoso

Renato Alves
postado em 07/10/2009 09:45
Técnicos da Secretaria de Saúde de Goiás e do Ministério da Saúde investigam a origem do xeroderma pigmentoso, a doença que atormenta ao menos 21 pessoas de uma mesma família do vilarejo de Araras, pertencente a Faina, município do noroeste goiano com 8 mil habitantes. O mal que provoca tumores na pele e em outros órgãos devido ao contato da pessoa com o sol e até a luz elétrica é fruto de um erro genético perpetuado pelo casamento entre parentes. No entanto, a enfermidade(1), transmitida de pai para filho, pode ou não se manifestar em algum momento de suas vidas. No caso dessa comunidade, ela já atingiu a quarta geração. Além dos que lá moram, outros dois nascidos na localidade e residentes nos Estados Unidos carregam a moléstia. Ao menos 20 parentes morreram por causa dela nos últimos 50 anos.

O fenômeno, raro na literatura médica brasileira, foi revelado pelo Correio no último domingo. Desde então, o jornal publica uma série de reportagens sobre o drama da família de Araras (os integrantes dela não carregam o mesmo sobrenome porque são parentes em diferentes graus). Devido à falta de assistência do Estado, essas pessoas passam o dia expostas ao sol sem qualquer proteção, o que acelera o surgimento de câncer de pele. Com a retirada dos tumores, a maioria tem o corpo mutilado. Após a denúncia do Correio, os governos municipal, estadual e federal prometeram apurar o caso e garantir o atendimento médico gratuito aos doentes do vilarejo, cidadãos de baixa renda e de pouca instrução. Os representantes dos órgãos admitiram desconhecer o problema, até a publicação das reportagens. Ontem, uma equipe da Secretaria de Saúde de Faina passou o dia no povoado.

Pela primeira vez, os portadores de xeroderma de Araras receberam a visita de um médico e uma enfermeira. Ambos examinaram todos os doentes e anotaram os dados pessoais deles. Tudo para fazer o primeiro levantamento sobre a propagação do xeroderma e do câncer de pele nos moradores da região. Os servidores constataram que o posto de saúde local nem possui a ficha dos pacientes, mesmo sendo todos nascidos no vilarejo e alguns doentes há 60 anos. ;Desconhecíamos a gravidade do problema. Vamos enviar o relatório à Secretaria de Saúde do estado, o município não tem condição de atender essas pessoas adequadamente;, reconheceu o prefeito de Faina, Caio Curado (PMDB).

Ele, no entanto, não soube explicar como a equipe do Programa Saúde Família, do governo federal, responsável por atender as famílias de Araras, nunca percebeu que havia algo anormal no fato de mais de 20 parentes apresentarem as mesmas marcas no corpo. Essa é a alegação da Secretaria de Saúde de Goiás e do Ministério da Saúde para nunca terem tomado medidas que garantissem a assistência aos portadores de xeroderma. O Ministério Público de Goiás (MPGO) suspeita de omissão do Estado. Com isso, a instituição exigiu um relatório do município de Faina e do estado de Goiás. Coordenador do Centro de Apoio Operacional do Cidadão do MPGO, o promotor Marcelo Celestino estuda ações judiciais contra os governantes municipal e estadual.

Árvore genealógica
Para investigar a causa do fenômeno, os técnicos da Secretaria de Saúde de Goiás cruzarão os dados colhidos pelos funcionários da prefeitura de Faina. Eles tentarão identificar quando o xeroderma surgiu em Araras e quantas pessoas acabaram atingidas. A mãe de um menino de 6 anos começou a fazer esse estudo por conta própria há seis meses, desde que os médicos diagnosticaram a enfermidade no filho dela. A mulher descobriu que a família tem origem na vinda de três irmãos portugueses para o Brasil, no início do século 18. Dois foram parar em Goiás. Cem anos depois, descendentes deles, casados com parentes, começaram a morrer em decorrência de câncer de pele.

1 - Prevalência
O xeroderma pigmentoso afeta igualmente ambos os sexos, apresentando maior prevalência nas populações com elevada taxa de consanguinidade (casamento entre parentes), como japoneses, árabes e judeus. A média mundial de incidência da doença é de um caso entre 100 mil habitantes. O Brasil segue a tendência.

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