Cidades

Parque da Cidade homenageia seu criador

Textos, fotografias e vídeos compõem mostra comemorativa pelo centenário de Burle Marx e deverá se estender até as festas dos 50 anos da capital federal

postado em 01/12/2009 07:05

Joana Tanure, curadora da exposição, diz que as pessoas ficam surpresas com os trabalhos do paisagistaUm espaço em homenagem ao paisagista Roberto Burle Marx(1), responsável por jardins e espelhos d;água de Brasília, revela trabalhos de destaque do artista no Parque da Cidade. A estrutura de bambu e paineis montada perto do Quiosque do Atleta exibe fotografias, vídeos e textos que detalham a trajetória do paisagista e projetos idealizados para a capital federal.

A entrada no espaço é gratuita, sem cerimônias ; a proposta é receber quem está correndo, andando de bicicleta, aproveitando o dia no parque. ;É a vontade de divulgar o patrimônio de Brasília. Burle Marx não é tão conhecido, as pessoas se surpreendem e ficam muito interessadas no trabalho dele;, disse a curadora da mostra, a arquiteta Joana Tanure. A mostra comemora os 100 anos de Marx ; nascido em 4 de agosto de 1909, em São Paulo.

A exposição é resultado de mais de dois anos de pesquisa da arquiteta para uma tese de mestrado na Universidade de Brasília (UnB). Ela vasculhou imagens antigas e visitou o escritório criado pelo paisagista, no Rio de Janeiro, para recuperar projetos originais de monumentos erguidos em Brasília. ;Não havia pesquisa dedicada ao Burle Marx, ele sempre entrava como assunto secundário. Se na universidade o tema era tão restrito, imaginava como seria na sociedade;, comentou Joana. Com o material em mãos, ela passou para o desenvolvimento da estrutura que abrigaria as fotos. Com a ajuda de um engenheiro, criou uma tenda de bambu e metal com 200 metros quadrados.

Ao percorrer a mostra, o visitante conhece os princípios da arte do paisagista e características marcantes do trabalho dele. ;Tem o uso das curvas, a geometria, a água, seja como fonte ou como lago, o desenho dos pisos, como o mosaico de pedras;, disse Joana. Com o olho treinado, é mais fácil identificar as obras de Marx na cidade: as cascatas do Palácio da Justiça, o espelho d;água do Tribunal de Contas da União (TCU), o jardim interno do Teatro Nacional, a Praça dos Cristais (QG do Exército) e os jardins da 308 Sul, por exemplo.

A estrutura de bambu e paineis chamou a atenção da advogada Kelly Morais, 26 anos. Ela caminhava no parque com o namorado, o analista financeiro Michel Vaz, 30 anos, quando decidiu conhecer a tenda. ;Entramos por curiosidade. As pessoas vêm ao parque para o lazer e têm cultura também;, disse. O casal não conhecia todos projetos de Marx em Brasília e aproveitou para se informar. ;De nome, eu não sabia que ele é tão importante. Acho que ficou bacana e é de graça;, disse Kelly.

A arquiteta conseguiu apoio para manter o Espaço Burle Marx até o próximo dia 17. No entanto, ela pretende continuar o trabalho até o aniversário de 50 anos de Brasília, em 21 de abril de 2010. A ideia é aproveitar as férias de verão e o fluxo de turistas na época do cinquentenário para divulgar o trabalho do paisagista. Quem puder colaborar com o projeto para que ele dure até abril, pode procurar a arquiteta Joana: jtanure@uol.com.br ou 9137-9890.

História
Metade do espaço é reservado à história do Parque da Cidade, que teve o paisagismo projetado por Burle Marx nos anos 70. Um painel com o mapa de como seria o parque foi apresentado pela primeira vez em 1978, na Bienal de Veneza, na Itália. O desenho mostra a disposição de áreas verdes e construções do local, que viria a ocupar boa parte da Asa Sul.

Os paineis exibem fotografias tiradas durante as obras do parque e de atrações que não existem mais. Há imagens do trenzinho que circulava na pista de corrida, dos pedalinhos no lago dos patos e da piscina de ondas. ;O parque foi previsto para ter lazer e esportes na parte interna. Era uma visão de atividades integradas à natureza, de que um parque moderno era para as pessoas fazerem atividades;, explicou Joana.

Trajetória
Roberto Burle Marx nasceu em São Paulo, em 1909. Na década de 1920, estudou pintura na Alemanha e descobriu, nas estufas do Jardim Botânico de Berlim, a flora brasileira. Ele se dedicou ao paisagismo, à pintura, ao desenho e a outras formas de arte. Em 1949, Marx comprou um sítio no estado do Rio de Janeiro e montou uma coleção de plantas. A empresa Burle Marx & Cia surgiu em 1955, com a produção de projetos de paisagismo, execução e manutenção de jardins residenciais e públicos. Ele morreu em 4 de junho de 1994, os 84 anos, no Rio de Janeiro.

Mostra
O Espaço Burle Marx funciona em uma estrutura de bambu montada em frente à Administração do Parque da Cidade, próximo ao Quiosque do Atleta. A entrada é gratuita e os visitantes podem passear pelo espaço de segunda-feira a domingo, das 7h às 19h. Além dos paineis com fotos e projetos do paisagista, uma televisão exibe um documentário sobre o artista. A mostra segue até dia 17 deste mês.







Para saber mais


Valorização da flora nacional
O Parque da Cidade (foto) e o jardins do Ministério da Justiça estão entre as obras de Burle Marx em BrasíliaO trabalho de Burle Marx revolucionou o paisagismo brasileiro. Em vez de usar modelos europeus, com espécies de flores importadas, ele passou a adotar a vegetação tropical. De volta ao Brasil, Burle Marx comprou um sítio em Barra de Guaratiba, no Rio de Janeiro, onde organizou uma grande coleção de plantas e começou a cultivar e classificar a vegetação. Interessado pela riqueza da flora nativa, Burle Marx passou a percorrer o Brasil em busca de espécies exóticas e raras, para serem usadas em projetos inovadores.

Em sua casa no Rio de Janeiro, Burle Marx cultivou inúmeras espécies de plantas exóticas da flora brasileiraAutor do projeto de paisagismo do Eixo Monumental, Burle Marx deixou sua marca em Brasília. É de sua autoria o jardim no último pavimento do Palácio do Itamaraty e o paisagismo interno e externo do Congresso Nacional. Uma de suas maiores obras é o projeto do Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro, e do Museu de Arte Moderna (MAM), também na capital carioca. Além dos trabalhos no Brasil, Burle Marx fez jardins e estufas em vários países, como Estados Unidos e Venezuela. O paisagista, que também foi pintor, tapeceiro, ceramista e escultor, morreu em 1994, aos 84 anos, no Rio de Janeiro.

Obras do artista

Jardins da Cidade Universitária da Universidade Federal do Rio de Janeiro

Jardim do Aeroporto da Pampulha, em Belo Horizonte

Paisagismo do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro

Paisagismo para o Eixo Monumental de Brasília

Paisagismo do Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro

Cascatas do Palácio da Justiça

Espelho d;água do Tribunal de Contas da União
Jardins do Teatro Nacional Cláudio Santoro

Paisagismo da 308 Sul

Praça dos cristais, no QG do Exército

Colaborou Helena Mader

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação