Cidades

CPI deixará os distritais de fora da investigação

Deputados "se esquecem" de que seus pares estão citados nas gravações do suposto esquema de corrupção e decidem focar apenas o governo

postado em 02/12/2009 11:55
Os deputados distritais de todas as cores partidárias se uniram ontem para tentar reduzir os prejuízos causados pelas denúncias que recaem sobre a Câmara Legislativa. A estratégia definida em reunião ontem à tarde, que durou quatro horas, foi desviar o foco sobre a Casa direcionando a munição contra o Governo do Distrito Federal (GDF). Pela primeira vez, por unanimidade, os parlamentares decidiram abrir uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar a ;corrupção; no Executivo local. Algo inédito na Casa.

Leonardo Prudente (ao centro): afastamento a mando do coraçãoHouve pequena resistência de parte da base de apoio ao governo no início das discussões que reuniram 22 distritais(1). Mas os parlamentares não encontraram outra saída senão devolver a ;batata quente; para o GDF. E os resistentes acabaram convencidos, sendo aprovado o requerimento da CPI da Corrupção, como ela foi batizada. A maioria dos deputados entrou e saiu da reunião evitando a imprensa, principalmente os envolvidos nas denúncias.

A pressão e a necessidade de tentar minimizar o escândalo sobre o Legislativo fizeram com que deputados do ninho arrudista se aliassem até com a oposição para não se afogarem sozinhos em meio às denúncias. Caso da líder do governo, deputada Eurides Brito (PMDB), e do presidente da Câmara Legislativa, Leonardo Prudente (DEM), que se afastou do cargo ontem (leia ao lado). Ambos aparecem em imagens gravadas recebendo dinheiro de Durval Barbosa. Eles concordaram com a CPI da Corrupção, que pretende apurar todas as transações envolvendo empresas prestadoras de serviço e o governo.

A oposição saiu fortalecida da reunião. ;É uma vitória do Poder Legislativo a abertura da CPI. Uma resposta que a sociedade merece. É preciso apurar doa a quem doer;, disse o deputado Cabo Patrício (PT), que agora assume a presidência da Câmara. Os governistas, constrangidos, aprovaram a CPI, mas não quiseram dar declarações. Apenas o PT e o deputado José Antônio Reguffe (PDT) comentaram. Autor de um pedido de CPI, o pedetista comemorou a decisão dos deputados, mas demonstrou preocupação: ;É preciso que essa CPI funcione mesmo, seja séria, trabalhe;. Hoje se iniciam as conversas para definir a presidência e a relatoria da CPI, mas os trabalhos da comissão ainda não têm data para começar.

Salvamento
Da CPI, os parlamentares ficam de fora. Aos oito deputados envolvidos caberá responder a processo por quebra de decoro parlamentar na Comissão de Ética da Câmara Legislativa. São eles: Leonardo Prudente (DEM), Benício Tavares (PMDB), Benedito Domingos (PP), Júnior Brunelli (PSC), Eurides Brito (PMDB), Rogério Ulysses (PSB), Rôney Nemer (PMDB) e Aylton Gomes (PMN), licenciado. No entanto, também há desconfiança sobre o resultado dos processos. Outra estratégia de salvamento teria sido montada. Os deputados admitiriam, como já fez Prudente, que receberam dinheiro como caixa 2 de campanha eleitoral, em 2006. Responderiam pelo crime eleitoral, que devido à data, pode prescrever. E não seriam condenados por quebra de decoro parlamentar já que ainda não tinham sido eleitos na época da irregularidade.

A liderança do PT protocola hoje pedido de abertura de processo por crime de responsabilidade contra o governador José Roberto Arruda. Dois advogados representando a sociedade civil entregaram ontem na Câmara pedido de impeachment de Arruda.

1 - Ausentes
Os únicos distritais ausentes na reunião foram Júnior Brunelli (PSC), que está de licença médica, e Benício Tavares (PTB). Brunelli deveria voltar ao trabalho, mas renovou o pedido de afastamento por questões de saúde.

Prudente se afasta
Um dia depois de afirmar que não iria se afastar da presidência da Câmara Legislativa, o deputado Leonardo Prudente (DEM) se licenciou do cargo até ;o fim das A CPI foi aprovada por unanimidade em reunião realizada ontem à tardeinvestigações; sobre as denúncias de recebimento ilegal de dinheiro. Isso significa um tempo indeterminado. Depois de quatro horas de reunião com outros 21 deputados distritais, Prudente avaliou ser a melhor saída no momento. É uma tentativa de reduzir o desgaste de imagem da Casa diante dos vídeos em que diversos parlamentares aparecem recebendo maços de notas de Durval Barbosa, ex-assessor de Relações Institucionais do governador José Roberto Arruda (DEM).

As decisões que saíram da reunião foram anunciadas pelo deputado Cabo Patrício (PT), que agora assume a presidência da Câmara. Entre elas, a eleição de um corregedor especialmente para cuidar do caso. Isso porque o atual, o deputado Júnior Brunelli (PSC), é um dos envolvidos no escândalo e, automaticamente, está impedido de conduzir o processo de apuração interna na casa. A escolha do deputado que vai assumir a função será feita amanhã, por meio de votação, em plenário.

Submundo
O deputado Rogério Ulysses (PSB) voluntariamente pediu o afastamento da presidência da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) por também estar entre os citados no inquérito da Polícia Federal que apura o caso. ;Estou vivendo o momento mais difícil da minha vida. Meu nome foi arrastado para esse submundo da política que eu não conheço. Não há imagem alguma minha, não recebi benefício algum. Meu nome é citado de forma leviana;, disse Ulysses. Ele e mais sete deputados envolvidos vão responder a processo por quebra de decoro parlamentar na Comissão de Ética da Câmara Legislativa.

Os deputados foram convocados por telegrama para a reunião na tarde de ontem. A estratégia era evitar a sessão em plenário para não ocorrer lavagem de roupa suja na tribuna diante dos jornalistas. A reunião entre os deputados transcorreu sem confrontos. Prudente colocou em pauta seu afastamento, dizendo que ;o coração o mandava; fazer isso. Como não renunciou ao cargo, apenas se afastou, podendo retornar a qualquer momento, não há possibilidade pelo regimento interno de nova eleição para compor a Mesa Diretora.

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