Cidades

Legistas devem divulgar hoje as causas da morte de jornalista durante uma lipoaspiração

Sete pessoas já foram ouvidas pela polícia

postado em 28/01/2010 08:00
O Instituto Médico Legal (IML) deve divulgar hoje o laudo conclusivo que atesta as causas da morte da jornalista Lanusse Martins Barbosa, 27 anos. A expectativa é que os médicos legistas responsáveis pelo exame cadavérico digam se houve, ou não, algum erro de procedimento médico na hora da lipoaspiração realizada no Hospital Pacini, na 715/915 Sul. Ontem, sete pessoas compareceram à 1; Delegacia de Polícia (Asa Sul) para prestar depoimento, entre elas três anestesistas, três técnicos em enfermagem e uma enfermeira, que participaram da cirurgia plástica estética realizada na paciente, na segunda-feira última. O médico responsável pela cirurgia, Haeckel Cabral Moraes, ainda não prestou depoimento. Ele teria ligado para a delegacia e informado que ainda não estava em condições de falar sobre o caso.

Movimentação intensa na 1ª Delegacia de Polícia: três anestesistas, três técnicos em enfermagem e uma enfermeira prestaram esclarecimentosO dia de ontem na 1; DP, que abriu um inquérito para apurar a morte da jornalista, foi movimentado. O delegado chefe-adjunto Rodrigo Telho Corrêa passou o dia ouvindo as testemunhas, mas nenhuma delas conversou com a imprensa. No entra e sai de pessoas, um agente carregava um saco com diversos medicamentos, provavelmente recolhidos do centro cirúrgico onde Lanusse fez a lipoaspiração. O laudo preliminar realizado pelo IML e divulgado pela Promotoria de Defesa dos Usuários dos Serviços de Saúde (Pró-Vida), do Ministério Público do DF, atesta que a jornalista morreu de choque hipovolêmico, ou seja, ela teve uma hemorragia interna causada pela perfuração de uma artéria. ;Ela sangrou muito até morrer;, disse o promotor Diaulas Ribeiro, chefe da Pró-Vida.

Para ele, a questão está tecnicamente solucionada. ;Agora é preciso analisar se o resultado da morte pode ser atribuído a alguma omissão do hospital ou demora no socorro da vítima. É um conjunto de profissionais que precisam ser investigados e não apenas um cirurgião;, acredita o promotor. O MP também investiga o caso.

Sofrimento
Pela manhã, o pai da jornalista, Valdeir Barbosa de Freitas (idade não divulgada), também esteve na unidade policial. Ele compareceu apenas para saber como andam as investigações. Visivelmente abatido, Valdeir deixou a delegacia sem comentar o ocorrido, porém não deixou de falar sobre Lanusse. ;Minha filha era uma guerreira. É tudo o que eu tenho para dizer;, disse ele, com a voz embargada e os olhos cheios de lágrimas.

A jornalista, que deixou um filho de 6 anos e trabalhava na TV Justiça, teria passado por uma cirurgia de redução do estômago há cerca de quatro anos (veja palavra do especialista), segundo uma amiga que trabalhou com Lanusse na Secretaria de Trabalho e a tia da jovem Sirleida Freitas, 54 anos. ;Ela fez a redução e a lipoaspiração era mais um sonho dela, que foi interrompido;, comentou a tia durante o velório de Lanusse, na noite de terça-feira. O Correio tentou contato com o médico Haeckel Cabral Moraes, ontem, na clínica dele no Sudoeste, mas ninguém atendeu as ligações telefônicas.

Lanusse tinha 27 anos e trabalhava na TV JustiçaPalavra de especialista
Avaliação criteriosa

;A pessoa que faz uma cirurgia de redução de estômago tem que passar por uma avaliação muito criteriosa na hora de se submeter a um procedimento como a lipoaspiração. Antes de fazer este tipo de intervenção, o médico precisa investigar se a paciente não tem nenhuma deficiência nutricional e se ela está tomando as vitaminas adequadamente porque é muito comum que a pessoa tenha anemia ou outras complicações na saúde. A perda de peso excessiva leva ao excesso de pele e a dobras que podem dificultar uma lipoaspiração. Por um lado, a cirurgia bariátrica exige reparo com cirurgia plástica e, neste caso, é preciso tomar cuidado, porque o risco de perfuração do abdome se torna maior.;

Orlando Pereira Faria ; cirurgião bariátrico da Clínica Gastrocirurgia de Brasília


Dentro da normalidade
Fiscais do Conselho Regional de Medicina (CRM-DF) estiveram, na manhã de ontem, no Hospital Pacini para analisar as condições do local. Durante a vistoria, nenhuma irregularidade estrutural foi detectada. Em nota, o CRM informou também que o médico Haeckel Cabral Moraes tem especialidade em cirurgia plástica e está cadastrado no conselho. Haeckel tem 16 anos de profissão e faz parte do quadro de profissionais da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. O CRM disse ainda que abriu sindicância para apurar a morte de Lanusse, sem nenhum tipo de pré-julgamento.

[SAIBAMAIS]Ao contrário do que o Correio publicou na edição de ontem, Kátia Oliveira, 35 anos, que morreu após fazer uma lipoaspiração em 2008, não foi operada no Hospital Pacini, mas em uma clínica de cirurgia plástica que funcionava no Edifício Pacini, independente do hospital. A direção da unidade de saúde resolveu falar ontem pela primeira vez. A proprietária Raquel Pacini explicou que o hospital funciona há 34 anos e é especializado em oftalmologia, mas que as cirurgias plásticas são realizadas há cerca de quatro anos. No entanto, os médicos que realizam tais procedimentos não têm vínculo com o hospital. ;O cirurgião escolhe o nosso serviço e nós alugamos as instalações para ele realizar as cirurgias plásticas;, disse Raquel.

Conforme a diretora, antes de alugar o centro cirúrgico, o hospital pede toda a documentação do profissional interessado e verifica se ele tem autorização do CRM para exercer a função. ;Nós oferecemos todos os equipamentos necessários para a recuperação do paciente, como medicamentos e aparelhos de ressuscitação, entre eles desfibriladores;, destacou a administradora Natália Pacini. Ela garante que o hospital fez tudo o que podia ser feito para salvar a vida de Lanusse. (MP)

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